domingo, 31 de julho de 2016

Projeto Cozinha da Vovó Lourdes oferece oportunidade renda a pacientes do Hospital Nina Rodrigues

Projeto leva dignidade e oportunidade para pacientes do Hospital Nina Rodrigues. Foto: Wéllida Nunes
 
“No mês passado me vi diante da oportunidade de mudar de vida. Aprendi que posso fazer muitas coisas e que sou capaz de ir além das minhas próprias expectativas”. O relato é de Raimundo de Jesus Gomes, de 28 anos, que atualmente está em tratamento no Centro de Atenção Psicossocial (Caps III). Ele, juntamente com outros dez pacientes em tratamento na Rede Estadual de Saúde Mental, participou da turma que concluiu recentemente mais uma etapa do curso ‘Arte Culinária’ – que funciona em uma cozinha montada e equipada no Hospital Nina Rodrigues (HNR).
A mudança de vida a que Raimundo se refere começa com a oportunidade de participar do curso organizado pelo Governo do Estado para melhorar a qualidade de vida dos pacientes de saúde mental. “Na verdade temos aqui outra família. Essa ocupação que temos no curso e o cuidado que a equipe tem com a gente nos motiva a procurar melhorar cada vez mais. Todo tempo somos incentivados a acreditar em nosso potencial e isso faz muita diferença”, afirmou Raimundo Gomes.
A humanização compreende um conjunto de ações que disponibilizam aos maranhenses tratamentos que, em geral, vão além dos medicamentos, e perpassam por uma série de cuidados que promovem, no caso da saúde mental, a reabilitação psicossocial dos pacientes. No caso da cozinha, o público alvo são pacientes atendidos no ambulatório do HNR e usuários dos serviços de saúde mental da Secretaria de Estado da Saúde (SES), como os Caps e as Residências Terapêuticas.
Com o ‘Arte Culinária’, a intenção é promover novas alternativas nutricionais e de renda, que contribuam para a inclusão deles no meio social, de acordo com os preceitos da Reforma Psiquiátrica e dos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS). Ao final de cada oficina, os alunos recebem certificado de acordo com a especialidade que participaram.
Thiago Ferreira, de 28 anos, paciente do Caps Álcool e Drogas (Caps AD), representa dezenas de alunos que motivam a instrutora do projeto, a vovó Lourdes, a se dedicar no ensino. Logo que soube do ‘Arte Culinária’ e da oportunidade de aprender sobre todas as oficinas ministradas, Thiago resolveu participar e abandonar de vez o convívio com o que o afastava da oportunidade de trabalho digno.
“Eu não esperava encontrar no tratamento uma oportunidade. Há três meses iniciei o curso e nesse tempo já aprendi a fazer muitas coisas, sendo os pães recheados o que eu mais gosto. Eu adoro vir para cá e aprender as receitas. Cada um precisa entender sua missão e encontrar algo que o motiva a caminhar. Isso eu encontrei aqui”, afirmou.
Empolgado, ele contou que tudo o que aprende – bolos, pães, doces, biscoitos, salgados, comidas típicas, dentre outras receitas exclusivas – ensina para a esposa. Em casa, juntos, eles estão se aprimorando para abrir um negócio no bairro onde moram. “Eu reaprendi a valorizar tudo por causa dessa oportunidade. Não tem como agradecer por essa oportunidade, pois através dela eu reencontrei minha dignidade e agora vou trabalhar e vender pães com a minha esposa. Posso dizer que estou muito feliz”, considerou Thiago.
Após passar por um quadro de depressão grave, Kátia Cilene dos Santos, de 42 anos, paciente do Caps III – Bacelar Viana, também reencontrou no projeto a motivação que precisava. Ela conta com brilho nos olhos o que significa participar das oficinas de culinária.  “Eu só sabia chorar. Não queria nada com a vida a não ser viver dormindo pelas calçadas. Quando comecei o tratamento encontrei uma equipe que nos acolhe com cuidado e, com a vovó Lourdes, que é uma mãe pra mim, redescobri que tenho utilidade e posso fazer muitas coisas boas”, ressaltou a paciente.
Projeto leva dignidade e oportunidade para pacientes do Hospital Nina Rodrigues. Foto: Wéllida Nunes
Kátia participa de outras oficinas que são desenvolvidas no HNR. Lá também aprendeu a fazer crochê e outras atividades artesanais. “Pessoas em tratamento como o nosso precisam ocupar a mente. Muitos passaram pelo Nina Rodrigues e acham que aqui dentro tem gente louca que é uma ameaça para a sociedade. Mas temos resgatado nossa dignidade e aprendido com os exemplos de superação a querer ser um exemplo também. Sou muito agradecida por essa oportunidade que encontrei”, completou.
O diretor do HNR, Ruy Cruz, ressaltou que essa é uma experiência estratégica, terapêutica e de reinserção social, que tem sido priorizada pela gestão estadual. Para a ‘Vovó Lourdes’, que há 42 anos lida com pacientes de saúde mental, trabalhar no projeto é uma realização pessoal, que a motiva a aprimorar seus conhecimentos para contribuir com a melhoria da qualidade de vida daqueles que por muitos anos foram marginalizados.
“O que queremos é incentivá-los a ter uma ocupação e mostrar que eles são capazes. Eu não sei ficar sem trabalhar e essa foi uma forma que encontrei de compartilhar minha experiência de maneira positiva. Esperamos que muitas outras pessoas encontrem caminhos para a realização das suas aptidões”, explicou a instrutora.
Reconhecimento
Para eternizar as receitas que têm mudado a realidade de muitas pessoas nesses últimos anos, a instrutora do projeto já publicou duas edições do livro ‘Receitas da Vovó Lourdes’. Este ano, será lançada a terceira edição na ‘10ª Feira do Livro de São Luís’, promovida pela Prefeitura de São Luís, por meio da Fundação Municipal de Cultura (Func), em parceria como o Governo do Estado. Este ano, os alunos do Arte Culinária estiveram com a barraca ‘Ritmos da Vida’, no Arraial da Curva do 90.  Na ocasião, a vovó Lourdes e sua equipe, foi premiada em 1º lugar pela receita ‘Bolo de Arroz’ em um concurso realizado por uma rede de supermercados.
Projeto leva dignidade e oportunidade para pacientes do Hospital Nina Rodrigues. Foto: Wéllida Nunes
 

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