quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Pesquisa sobre o câncer avança com o Biobanco de Tumores


Unidade do HU-UFMA desenvolve estudos sobre tipos de câncer que mais atingem a população maranhense

O Brasil é marcado pela diversidade, entre outros aspectos, nas características genéticas de sua população devido a miscigenação de raças. O que isso tem a ver com a ciência médica? Que pesquisas específicas precisam ser realizadas para que diagnósticos e tratamentos de certos tipos de doenças possam ser mais eficazes. Entre elas o câncer. É exatamente o trabalho que o Biobanco de Tumores e DNA do Maranhão (BTMA), ligado ao Hospital Universitário da UFMA (HU-UFMA), tem desenvolvido ao longo dos seus quase sete anos de funcionamento. É o primeiro do Nordeste cadastrado e aprovado pelo Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), vinculado ao Conselho Nacional de Saúde/MS e faz parte da Rede Brasileira de Bancos de Tumores.  

O fragmento do tumor de um paciente retirado durante uma cirurgia representa um material valiosíssimo para a pesquisa, se for direcionado a um Biobanco, onde receberá os cuidados necessários para conservar a amostra, que ficará disponível aos pesquisadores para pesquisas futuras por tempo indeterminado.  Esse, inclusive, é um detalhe importante que diferencia Biobanco de Biorrepositório, pois este último tem um prazo máximo de armazenamento de dez anos e é relacionado a uma pesquisa especifica de responsabilidade de um pesquisador. Já o  Biobanco fica disponível para pesquisadores de todas as instituições de pesquisa, desde que atendam os critérios éticos exigidos no regulamento.

As amostras são concedidas por pacientes assistidos no Hospital Universitário da UFMA, vinculado a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, e de outras instituições. No BTMA são guardadas amostras dos tipos de câncer que mais atingem a população maranhense, por meio da captação de fragmentos de tecido tumoral, tecido sadio e líquidos biológicos. Entre eles, podem ser encontrados os de pênis, colo de útero, vagina, reto, canal anal, cavidade oral.   O Biobanco é uma referência no estudo do HPV. Há também fragmentos do tumor do câncer de mama e em breve terá o de câncer de próstata.

Entre as diversas pesquisas em andamento a partir do material armazenado, uma delas estuda a “Associação de HPV em mulheres climatéricas com doença arterial coronariana”, desenvolvida pela ginecologista e coordenadora do BTMA, Luciane Brito, como produto de seu pós-doutorado.  O estudo foi realizado com mulheres entre 35 e 65 anos, que foram assistidas no setor de hemodinâmica e ginecologia do HU-UFMA. “O objetivo era, justamente, avaliar a relação da doença cardíaca com o virus HPV, pois todas as mulheres estudadas já tinham feito cateterismo ou angioplastia”, explica a pesquisadora. O resultado do estudo mostrou que o HPV de alto risco oncogênico está associado com doenças cardíacas entre mulheres climatéricas

A coordenadora enfatiza que o Biobanco representa um grande avanço nas pesquisas, por disponibilizar uma biblioteca de amostras biológicas de variados tipos de câncer, armazenados criteriosamente, uma vez que o local possui equipamentos de ponta.

A equipe de pesquisadores formada por médicos, biomédicos, biólogos, enfermeiros, farmacêuticos, técnicos de laboratório e alunos de iniciação científica unem forças para suprir a carência de dados sobre os cânceres no Estado do Maranhão. A coleta do material biológico é realizada seguindo um rigoroso protocolo; garantindo a qualidade da amostra e preservando o sigilo e a confidencialidade dos pacientes, respeitando os princípios éticos.

O Biobanco atende aos requisitos da Resolução CNS nº 441/2011 e Portaria MS nº 2.201/2011 que estabelece as Diretrizes Nacionais para Biorrepositórios e Biobanco de Material Biológico Humano com a finalidade de pesquisa e mantem parcerias com pesquisadores locais, nacionais e internacionais, a exemplo, da Universidade do Porto e do Instituto de Oncologia de Portugal, da Universidade Estadual de Campinas e do Instituto Nacional de Câncer – INCA. Luciane Brito destaca esse intercâmbio como fundamental e enfatiza que a troca enriquece a pesquisa. “Eles podem ter acesso ao nosso banco e vice-versa e assim, vamos somando esforços para investigar o câncer”, argumenta.   

A gerente de Ensino e Pesquisa do HU-UFMA, Rita Carvalhal Frazão, reforça a importância da investigação cientifica no benefício para a população. “O Biobanco proporciona à área da saúde um campo vasto para pesquisa resultando em uma contribuição expressiva nas ações de prevenção, controle e tratamento.   É com essa perspectiva que a gestão se empenha em apoiar o desenvolvimento das atividades científicas no Biobanco”, assegura.

Nenhum comentário:

Postar um comentário