domingo, 1 de abril de 2018

A liberdade que a Páscoa (res) significa

 
No início da quaresma, neste ano, em sua homilia, o Papa Francisco chamou a atenção dos cristãos do mundo todo para o ataque dos falsos profetas, aqueles que com palavras sedutoras aprisionam corações e mentes prometendo soluções fáceis e rápidas para toda a sorte de males. Páscoa é libertar-se, pregou o Santo Padre, de todo o aprisionamento emocional. A oração, o jejum e a esmola são remédios que devem ser utilizados para todos aqueles que queiram fugir dos encantos da mesquinhez e da soberba. A fala do Papa visa resgatar o sentido perdido e a motivação verdadeira da libertação que a palavra Páscoa evoca (do hebraico Pessach) cuja história, na Bíblia, remonta à chegada ao Egito de Jacó com sua família, levados pelo filho José que, naquele momento, era o governador do reino dos faraós. Cerca de 210 anos depois da chegada da família vinda de Canaã, a situação mudou radicalmente. Não só a família havia se multiplicado e transformado numa grande multidão, como a condição social e política era precária: eles foram tornados escravos. Deus envia um libertador, Moisés, que se torna o líder do povo para a saída do Egito e a travessia do deserto do Sinai. Na noite em que, enfim, obtiveram a concordância do faraó, depois deste ter suportado dez pragas que trouxeram grande morticínio de pessoas e animais, além de ter praticamente destruído a economia do país, o povo foi instruído a celebrar o Pessach (Páscoa). Foi um ritual que marcou o início de uma jornada de liberdade e que, segundo a ordem divina, deveria ser celebrado por todas as gerações vindouras. O ritual previa o sacrifício de um cordeiro, cuja carne seria comida com ervas amargas. Um cordeiro para cada família. Comer em silêncio. Eles deveriam estar totalmente arrumados para a partida. Um passado de sofrimento e exploração seria deixado para trás com suas dores, subjugação e negação de toda identidade, seja pessoal ou comunitária. A ideia do cordeiro sem defeito que alimentou as pessoas, cujo sangue, passados nos portais das casas, tornou-se um sinal de distinção e separação, início da identidade de um não povo, para ser povo de Deus, atravessou milênios até se concretizar nos dizeres de João Batista que, após batizar a Jesus, proclamou: Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo! A história da Páscoa se fecha não exatamente na frase de Jesus, mas no sacrifício do Filho de Deus na cruz. Aquilo que foi metáfora se tornou realidade. O que foi simbólico virou fato. O que foi um ritual se manifestou em pessoa, na pessoa de Nosso Senhor, que apregoou a quebra de todos os grilhões a nos convidar para um nova vida ao seu lado. A Páscoa aponta, portanto, para a liberdade de ser. O tornar-se parte da família de Deus. Povo de Deus. De libertar-se de prisões mentais que encarceram homens e mulheres em compreensões equivocadas de vida, na escolha de profissões que os entristecem, na permanência em relacionamentos doentios e na insistência de escolhas que só trazem sofrimento. É da poetisa Cecília Meireles uma frase magistral: liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda. Que o Cristo Ressurreto ilumine a todos nós a vivermos uma vida plena de liberdade abençoada, feliz e próspera.

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