domingo, 19 de maio de 2019

Afinal, quem estuda nas universidades federais?



Ontem a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES) e o Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assistência Estudantil (Fonaprace) fizeram uma coletiva de imprensa para falar sobre o Perfil do Graduando das Universidades Federais. Você pode assistir a coletiva na íntegra aqui. Será que a universidade pública serve apenas para os mais ricos?

Segundo os pesquisadores, a coleta dos dados durou quatro meses e a análise mais seis. Pesquisadores da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) coordenaram a pesquisa com a participação de inúmeros especialistas espalhados pelo Brasil. Foram coletados dados de 420 mil estudantes em 63 universidades federais.

E o que dizem os pesquisadores?

Os dados mostram que desde 2014 a maioria da população universitária é preta e parda, graças às políticas afirmativas. Em 15 anos (2003-2018), as ações afirmativas elevaram o percentual de estudantes pretos e pardos de 34,2 para 51,2%.

Os pobres são maioria também: 26,61% da comunidade tem faixa de renda mensal familiar per capita de até meio salário mínimo; 26,93% de até 1 salário mínimo; Somados, 70,2% dos/as estudantes são POBRES (até 1,5 salário mínimo per capita)!

A série histórica mostra uma mudança significativa: de 2010 para 2018, a população de até 1,5 salário mínimo evoluiu de 43,7% do total dos estudantes para 70,2%. A universidade está de fato em transformação pois tem abraçado cada vez mais os pobres deste país.

Os dados também mostram que as escolas públicas colocam a maior parte dos estudantes nas federais: 64,7% dos universitários federais chegam das escolas públicas e 35,3% chegam de escolas particulares. Novamente, as políticas de cotas ajudam a explicar esta transformação.

A trajetória histórica é importantíssima e mostra uma transformação profunda: Em 2003 apenas 37,5% dos estudantes das federais vinham de escolas públicas. Em 2014 o número de estudantes que estudaram exclusivamente em escolas públicas chegou em 60,16%!

Outro dado importante é a escolaridade de mães e pais dos universitários: 66,2% dos pais e 62,7% das mães dos estudantes estudaram até o ensino médio. A maior parte dos estudantes que se formam levam para casa o primeiro diploma de ensino superior da família.

A universidade também distribui renda: 54,1% deles participam de atividades ou programas acadêmicos, sendo que 24,1% deste universo conta com algum tipo de remuneração. A assistência estudantil (PNAES) também alimenta os estudantes pobres, promove cultura, esporte, transporte, habitação etc.

Os dados mostram que o ódio às universidades é ódio de classe, é ódio à cultura, é ódio à diversidade, é ódio à ciência! Os cortes promovidos pelo governo de Bolsonaro impactarão primeiro os estudantes mais pobres, aqueles que dependem da assistência estudantil.

Parabéns Andifes e equipe pela pesquisa. Segundo a entidade, a base de dados estará disponível ao público nos próximos dias. Os achados da pesquisa mostram com precisão o que é de fato a universidade federal no Brasil. Balbúrdia só existe mesmo no governo federal!

Filipe Mendonça é professor da Universidade Federal de Uberlândia (UFU)

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