quinta-feira, 16 de maio de 2019

Natalino Salgado concede entrevista exclusiva ao jornal o Imparcial


1 - Por que o senhor pretende retornar à reitoria da Universidade Federal do Maranhão, depois de ter passado dois mandatos no cargo, até 2015?
Em 2015, quando saí da reitoria, o momento era outro. Sem dúvida, em 08 anos, realizamos a maior transformação que a Universidade já viveu. Destaco, principalmente, o processo de interiorização. Hoje, além de São Luís, a UFMA está presente em oito campi no interior do Estado, uma gestão bem avaliada positivamente, tanto que fui reeleito para um segundo mandato com mais de 80% de aprovação da comunidade universitária e a atual gestão se elegeu com o propósito de “consolidar avanços e vencer desafios”, num claro reconhecimento ao nosso trabalho.
Como a situação hoje é preocupante, exigindo de todos nós um engajamento em prol da Universidade, fui convocado por um movimento formado por docentes, estudantes, técnicos, colaboradores, representantes de sindicatos e associações da UFMA, bem como representantes da sociedade civil a colocar minha experiência a serviço da Instituição. Por isso sou pré-candidato a reitor e, se for da vontade de Deus e da comunidade, disponho-me à retomada do crescimento da nossa Universidade.
2 – O senhor apoiou a professora Nair Portela para sua sucessão. Porém, em setembro do ano passado, ela o demitiu da direção do Hospital Universitário, dando largada ao processo da própria sucessão. O que houve entre vocês.
Quando terminei meu mandato, mantive-me em minhas atividades de ensino, pesquisa e extensão, dedicando-me também ao Hospital Universitário. Por razões históricas e científicas, pude ali contribuir com a busca de parcerias e aporte de tecnologias e de recursos. A reitora achou por bem me exonerar da assessoria do Hospital. Não me cabe questionar suas razões. De minha parte, sempre me coloquei à disposição da nossa instituição para contribuir e consolidar nossas conquistas. E continuo colaborando institucionalmente, independente de cargos.
3 – O senhor conta com o apoio de que segmentos da comunidade universitária para voltar à reitoria?
Na verdade, só estou participando deste momento, porque, como já disse, fui “convocado” por segmentos expressivos da Universidade e da sociedade. Meu senso de responsabilidade com a UFMA foi mais forte do que a tendência que temos de ficar na zona de conforto. Poderia me recusar, argumentar quanto a já ter contribuído com minha instituição, mas fui convencido de que este não era o momento de recusar o desafio. É hora, então, de voltar a cuidar da UFMA como sempre fiz.
4 – Como lidar hoje com o processo de rigorosos cortes orçamentários das universidades federais, atingindo em cheio a autonomia constitucional do setor?
Um gestor ou uma gestora deve estar preparado ou preparada para enfrentar períodos de dificuldade. Nestes, necessário será a formação de equipes experientes, competentes, capazes de buscar soluções que superem as limitações orçamentárias, com criatividade e talento. A UFMA dispõe de quadros com expertise para pactuar e construir relações institucionais, tanto com os governos federal, estadual e municipais, quanto com instituições públicas, privadas e de terceiro setor, incluindo as parcerias com órgãos internacionais.
É fundamental ainda buscar a assessoria dos órgãos de controle para que a instituição aplique, com racionalidade e transparência, os recursos públicos. Acredito que uma equipe com qualidades técnicas e humanas saberá gerenciar crises e colocar a UFMA no caminho certo, sem perder de vista a luta por nossa autonomia.

5 – O ataque às universidades públicas, via cortes orçamentários, teria a ver com eventual processo ideológico do governo federal, de asfixiar o ensino público para transferi-lo ao setor privado?
Qualquer análise de conjuntura neste momento seria precipitada. O que se observa é que há ainda muito a esclarecer. O governo, por exemplo, falou em cortes; depois, em contingenciamento. Mas, sinceramente, creio que um patrimônio tão importante para a sociedade brasileira, como as universidades públicas, será sempre preservado e protegido, qualquer que seja a orientação ideológica do governo. Até porque são decisões que não dependem somente do poder executivo. Ações como estas, que impactam não apenas as universidades, mas atingem a todos os brasileiros, dependem de instâncias políticas, dos representantes legítimos da população, como o Congresso Nacional.
Além do mais, a maioria das autoridades que hoje decide os destinos dos brasileiros, em nível nacional e regional, foi formada nas universidades públicas.

6 – O governo Bolsonaro, pelo Ministério da Educação, anunciou a extinção dos cursos de Filosofia e Sociologia, dentre outros da área de humanas, que levam o saber e o pensar a patamares não incluídos nos cursos das áreas técnicas e médicas. O que o senhor pensa sobre isso?
Estamos analisando e isto traz preocupação a todos nós. Afinal, não há possibilidade de se pensar uma universidade sem considerar a
importância de todas as ciências, sem distinção ou hierarquias. Os exemplos vêm dos melhores: Albert Einstein teve intenso envolvimento com a Filosofia, fato que marcou profundamente seu hábito de pesquisar a Física. Kant, por sua vez, foi um filósofo que se envolveu bastante com a Física.
Entendo que a interdisciplinaridade e a transversalidade são imprescindíveis ao conhecimento e ao desenvolvimento das ciências. Não há, portanto, ciência menos ou mais importante para o desenvolvimento da humanidade. Todas são essenciais. Acho que foi o filósofo grego Aristóteles que propôs uma sequência a ser seguida em busca do conhecimento e da virtude: “o pensamento vira ação, ação vira hábito, hábito vira caráter, caráter vira destino”.
7 – Enquanto em sua gestão o senhor foi considerado um tocador de obras de expansão e de fortalecimento estrutural da Ufma, que hoje aparecem em reportagem bastante sucateada. O que fez o Ufma chegar a essa situação?
Na verdade, em minha gestão, tanto cuidamos da infraestrutura, como cuidamos, prioritariamente, da qualidade dos nossos serviços. No fortalecimento estrutural, foram mais de 100 obras, entre edificações, construções e reformas, melhorando e garantindo a acessibilidade. Cuidamos, ao mesmo tempo, do ensino, quando reformulamos todos os projetos pedagógicos dos cursos, fortalecemos a política de inclusão social, ampliamos vagas para os estudantes, entre outras ações estruturantes. Saímos de 42 para 98 cursos. Mais do que dobramos as vagas.
Realizamos concursos para contratação de novos professores, com a entrada de mil e 100 novos docentes. Investimos na pesquisa e na pós-graduação, possibilitando a que muitos professores obtivessem a titulação de mestres e doutores; criamos também cursos de mestrados e doutorados e apoiamos a criação de grupos e projetos de pesquisa; além do grande aporte de investimentos na modernização, inovação tecnológica e no empreendedorismo. Na extensão, ampliamos todos os serviços prestados à comunidade. Informatizamos os processos de ensino e aprendizagem, bem como administrativos; regularizamos a assistência estudantil, criando, inclusive, uma pró-reitoria para tal.
Enfim, cuidamos da nossa instituição e a comunidade e a sociedade reconheceram nosso trabalho.
9 – A burocracia e as disputas internas na Universidade atrapalham em que nível a gestão reitoral?
A Universidade é um espaço plural onde se convive com o contraditório e com a diversidade, respeitando-se os diferentes sujeitos que formam a Instituição. Não há como não haver disputas. Elas são salutares. Cabe a quem está em posição de liderança respeitar, conviver e dialogar com aqueles que, em convergência ou divergência, contribuem para a existência da Universidade. Quanto à burocracia, esta precisa ser equacionada pela adoção de sistemas de gestão mais eficientes que possam melhorar os processos gerenciais, adotando sempre a postura republicana de ouvir a todos os segmentos.
10 – O senhor percebe um risco à universidade pública que possa levá-la a cobrar pelo ensino que presta à juventude?
Não creio nesta possibilidade. Não seria viável para as condições econômicas da nossa população.
11 – Para acompanhar as inovações tecnológicas do aprendizado, o que a Ufma precisa fazer?
Investir nas pessoas, motivá-las, respeitá-las e prover condições para seu desenvolvimento. Não há inovação e aprendizagem que não passem pelas pessoas. É claro que o uso de tecnologias inovadoras é importante, mas nenhuma delas é tão importante quanto o ser humano.
12 – Para fazer da Ufma uma universidade moderna como exige o mundo de hoje, qual o maior desafio?
Nosso maior desafio será trabalhar coletivamente, de forma criativa e inovadora, para cuidar das pessoas e, assim, cuidar bem de nossa UFMA. A descentralização é prioridade.

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