quarta-feira, 10 de julho de 2019

Duarte Pereira - o socialismo pensado com rigor



Duarte Pereira, o autor do poema aqui transcrito, é um notável teórico marxista brasileiro. Cuja atividade teórica já pode ser contada em décadas: são cerca mais de meio século de rigorosa atividade intelectual, estudos, pesquisas, reflexões e escritos, muitos escritos - marcantes, resultado de rigorosa e profunda reflexão sobre a política, a vida social, a luta pelo socialismo e as contradições do mundo contemporâneo.
No início da década de 1960 era estudante na Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia, tendo sido presidente do Centro Acadêmico Ruy Barbosa e e um dos vice-presidentes da União Nacional dos Estudantes (UNE). Em 1963 - durante o governo João Goulart - foi um dos fundadores da Ação Popular (que, depois, ao se aproximar do marxismo e da luta pelo socialismo, se transformou em Ação Popular Marxista-Leninista - APML). Foi um dos teóricos daquela organização revolucionária, tendo sido um dos redatores de seu Documento-Base, que definia e orientava sua ação política e ideológica. No final daquela década, partiu dele a proposta de união da APML ao PCdoB, que ocorreu afinal em 1972 embora, por razões de divergências quanto à maneira como se deu a incorporação, Duarte Pereira não tenha acompanhado a maioria de seus camaradas, que se filiaram ao PCdoB.

Sob a ditadura militar instaurada em 1964, Duarte passou a atuar como jornalista - desde 1965 fez parte da equipe da revista Realidade, um marco do jornalismo brasileiro, publicada pela Editora Abril e cujos jornalistas foram, em grande parte, ligados à AP. Ante ao endurecimento da ditadura e aumento da prseguição policial, passou a viver na clandesinidade - e continuou na atividade jornalística, tendo sido importante redator no jornal "Movimento", de oposição à ditadra, onde foi autor de uma sessão de grande repercussão, os "Ensaios Populares", que analisava a vida brasileira em seus aspectos político, econômico, social, cultural etc. Os artigos autorais que publicou eram assinados como Alfredo Pereira. Ficou clandesitino até a lei de Anistia, em 1979, quando pode novamente voltar a assinar seu próprio nome. E participar aberta e normalmente da vida na redação de "Movimento", influindo no rumo editorial do jornal. Voltou também a participar abertamente de inúmeros debates e palestras a operários e estudantes e trabalhadores que moravam na periferia de São Paulo sobretudo, influenciando muitas gente da esquerda na luta democrática, contra a ditadura. Nos anos seguintes, foi redator e editor da série Retrato do Brasil e da revista Reportagem, entre outras publicações. Colaborou também, embora menos frequentemente, na revista Princípios.

Artista da pena e da palavra, homem de convicções firmes, dono de um pensamento que tem no teórico e na ação prática suas principais marcas, Duarte Pereira se iguala aos mais rigorosos teóricos que descendem de Marx, Engels e Lênin. Rigor intelectual registrado em obras como "Um perfil da Classe Operária" (1981), "1924: O diário da revolução - Os 23 dias que abalaram São Paulo" (2010) e "Repensando o Marxismo" (2016). 


A Lei do Emprego 


Na rinha capitalista,
as mutações tecnológicas
são cada vez mais velozes.
A riqueza multiplica-se.
Diminui o tempo necessário 
para criá-la.
Deveria aumentar 
o tempo livre 
para o lazer e a alegria.

Não é o que acontece 
na rinha capitalista.
Não sobra tempo livre,
sobra gente necessária.
É a lei do emprego
na rinha capitalista.

O resultado é a pergunta
que muitos fazem aflitos.
Por que tanto 
para tão poucos 
e tão pouco 
para cada vez mais tantos?

Crescerão as contradições.
Crescerá a luta para superá-las.
É a lei da história.
Não pode sobrar humanidade. 
Tem que sobrar o capitalismo. 

São Paulo, 7 de julho de 2019

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