segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Madeira lança candidatura prometendo “governar para os pobres” porque “a São Luís da barbárie não acabou”


O ex-juiz federal José Carlos do Vale Madeira é o mais novo pré-candidato a prefeito de São Luís com situação partidária definida. Ele anunciou ontem sua filiação ao Solidariedade e o seu projeto de concorrer, eleger-se e governar “para os mais pobres”, argumentando que “a São Luís da barbárie não acabou”. Definiu-se como um político de esquerda, afirmando ter “militância social”, e recusou a condição de neófito em política. Justificou sua postura pessoal e o seu projeto político assinalando que nasceu pobre no Bairro de Fátima, enfrentou dificuldades extremas e que venceu na vida por esforço próprio. Acompanhado do presidente do SD, o secretário de Estado de Indústria e Comércio Simplício Araújo, Carlos Madeira apresentou-se como titular de uma “candidatura independente”, que, segundo afirmou com ênfase, não está condicionada ao fato de o partido pertencer à aliança comandada pelo governador Flávio Dino (PCdoB).  “Eu não vejo o Solidariedade neste contexto como partido do Governo. Eu, mesmo sendo amigo do governador, não estou no contexto de aliado dele. Minha candidatura nasce independente”, garantiu.
Frases políticas de efeito e declarações emocionadas à parte, Carlos Madeira entrou de vez na corrida à Prefeitura de São Luís como o único postulante que ainda não foi testado nas urnas. Sua trajetória de juiz federal sério, reconhecido por decisões que mudaram o curso de situações dramáticas – como a autorização para a entrada da Polícia Federal nos escritórios da Lunus, em 2002, numa ação que explodiu a candidatura presidencial de Roseana Sarney, e a que livrou centenas de trabalhadores de arcar com os débitos gerados pelo golpe que desmontou o controverso projeto da fábrica de confecção de Rosário – lhe dão autoridade para entrar na política. Mas ele próprio deve ter plena consciência de que na luta pelo poder na Capital e maior colégio eleitoral do Maranhão o jogo é pesado, não havendo muito espaço para trajetórias de origem comovente.
Carlos Madeira entra na corrida ao Palácio de la Ravardière num cenário ainda de indefinição quanto a várias candidaturas, mesmo com um número expressivo de aspirantes assumidos. Já tem como adversário definido o deputado federal Eduardo Braide (Podemos), que lidera a corrida até aqui com larga vantagem, e o deputado federal Bira do Pindaré, cujo partido, o PSB, bateu martelo a seu favor. O mesmo cenário aguarda uma queda de braços dentro do PCdoB entre Duarte Jr. e Rubens Júnior, e ainda a formalização da candidatura do deputado estadual Neto Evangelista pelo DEM, podendo sair sozinho ou numa aliança tendo um vice do PDT, que surpreendentemente, não tem um nome forte à sucessão do prefeito pedetista Edivaldo Holanda Júnior. No jogo estão Roseana Sarney (MDB), Wellington do Curso (PSDB), Adriano Sarney (PV), Tadeu Palácio (PSL), Franklin Douglas (PSOL) e Saulo Arcangeli (PSTU), todos com lastro político e partidários, o que tornará a corrida bem mais difícil quando o quadro de candidatos estiver definido e as forças que os embalarão forem mobilizadas. É nesse contexto que Carlos Madeira se posiciona para a largada.
Motivado pelo que, segundo o seu entendimento, “São Luís ainda não saiu da barbárie”, o agora pré-candidato Carlos Madeira deixou no ar algumas interrogações, entre elas a de como pretende, se eleito, administrar uma cidade com mais de 1 milhão de habitantes, que tem problemas de infraestrutura, mobilidade e dificuldades enormes nas áreas de educação, saúde e limpeza urbana, ao mesmo tempo em que é detentora do título de Patrimônio Cultural da Humanidade por conta de um patrimônio arquitetônico historicamente riquíssimo, mas ameaçado, apesar dos esforços da atual gestão e do apoio determinação do Governo do Estado. Não passou a certeza de que esteja tecnicamente preparado para enfrentar esse enorme desafio à frente de uma máquina administrativa tocada por mais de 20 mil servidores e uma quase crônica crise de caixa. Exibiu, no entanto, a determinação e a experiência de um homem público bem-sucedido, ainda que numa esfera de poder sem a responsabilidade de arrecadar para bancar suas necessidades.
O pré-candidato do SD tem menos de seis meses para convencer o comando do partido de que sua candidatura é viável e seja confirmado na convenção. Até lá, enfrentará desafios, embates, provocações e, provavelmente, até ataques, situações com as quais certamente não está habituado. Terá também a oportunidade de mostrar que, mesmo sendo o mais velho dos candidatos, pode jogar esse jogo e – quem sabe? – se dar bem.

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