quarta-feira, 4 de agosto de 2021

Eliziane Gama: “Ninguém, muito menos uma mulher, chega ao Senado Federal à toa”


Por: Leandro Miranda


Desde o Império (1826 a 1889), o Brasil teve 73 presidentes no Senado Federal. O retrato de cada um deles – absolutamente todos homens e aparentemente todos brancos –, enfileirados em ordem de mandato, estampa o plano de fundo do quadro em que está posicionada Eliziane Gama (Cidadania) no Museu do Senado para a realização desta entrevista. Ali, à frente deles e ao centro (e então considere inclusive ideologicamente), está, aos 44 anos, a única senadora em exercício eleita pelo Maranhão. Antes dela, o estado elegeu Roseana Sarney (MDB), que cumpriu mandato entre 2003 e 2009, o que faz Eliziane a segunda no feito. Ali, à frente deles e precisamente ao centro de minha tela, está uma das 12 mulheres entre os 69 homens que atualmente ocupam as cadeiras da Casa Legislativa.

Não é mera força de linguagem frisar o lugar em que Eliziane está hoje. “Ninguém, muito menos uma mulher, chega ao Senado Federal à toa”, ela diz, ao comentar sobre o sangue que lhe subiu à cabeça, mais precisamente “à garganta”, quando, nas sessões da Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid-19 se viu impelida a falar mais alto que seus colegas homens. “Por exemplo, na ocasião em que eu fazia uma pergunta e um senador [Ciro Nogueira, do PP/PI] virou 180 graus na minha direção e fitou meus olhos achando que: ‘Ah, ela vai se desequilibrar e não vai conseguir perguntar’. Sabe o que ele me deu? Combustível. Não é um olhar atravessado que vai me paralisar.”


Essa não foi a única vez que tentaram acuá-la. Na CPI da Covid e em “todos os outros redutos da política”, destaca, ser intimidada, interrompida ou silenciada é rotina para as representantes mulheres. “E a verdade é que não melhora com o tempo.” São 15 anos de política institucional – primeiro como deputada estadual, por duas vezes, depois como deputada federal e, agora, senadora – e o que Eliziane tem percebido é que, à medida que as mulheres vão ocupando os espaços de poder, a violência investida contra elas vai perdendo a timidez, deixa de ser velada para se tornar escancarada. “Se pensam que dessa forma vão nos parar, pensam errado”, pontua com firmeza. “Nossa ação na política vai além da melhoria da vida das populações que mais precisam, ela também pretende transformar as normas engessadas do próprio sistema.”


Foi exatamente assim com a CPI mais acompanhada dos últimos tempos. A pressão da bancada feminina fez o grupo garantir ao menos espaço de fala na investigação. Pode soar insensato, mas as mulheres não têm direito a voto na comissão que apura as ações do governo federal, de suas autoridades e de seu Ministério da Saúde, frente à maior pandemia do século. No entanto, mesmo reservadas ao mínimo, as senadoras atuaram e, se mantêm atuando, como titulares. Não raro, são responsáveis por momentos reveladores. Como foi o caso de Simone Tebet (MDB/MS), que tirou o nome do deputado federal Ricardo Barros (Progressistas/PR), líder do governo na Câmara, da boca do também deputado federal Luis Miranda (DEM-DF), em forma de denúncia.


Quinta de oito filhos de um pastor da Assembleia de Deus e de uma dona de casa, Eliziane nasceu na pequena Araguanã, interior do Maranhão. Saiu adolescente da cidade para estudar em São Luís, a capital. Formou-se jornalista na Universidade Federal do estado. Era a profissão de seus sonhos de criança. Trabalhou na área, em rádio especialmente, mas aos 28 anos teve um chamado de sua comunidade, a igreja, para a candidatura como deputada estadual. Foi eleita, reeleita com quatro vezes o número de votos do primeiro mandato, e encontrou na política um caminho parecido com o do jornalismo. Para ela, nos dois há denúncia, defesa incontestável da vida e paixão. Tudo que precisa “num ofício”.

No Congresso de agora, Eliziane é uma senadora de centro que trabalha em pautas consideradas progressistas. Uma de suas brigas é pela equiparação salarial entre homens e mulheres, com direito a multa para as empresas que não cumprirem a lei. O projeto de lei 130/2011 passou no Senado, foi para sanção presidencial, mas acabou voltando para a Câmara dos Deputados e está parado. Outra pauta é uma bolsa auxílio para órfãos da covid. Crianças e adolescentes que perderam pais e tutores para a doença receberiam até os 18 anos o valor mensal de R$ 600. Ela também se destaca por ser uma evangélica que faz oposição ao governo de Jair Bolsonaro (sem partido), o que lhe rende algum atrito com líderes religiosos que ainda o apoiam. Nesta entrevista, feita por videochamada dias antes do recesso da CPI da covid-19, Eliziane comentou sobre esse grupo, falou do crescimento das mulheres na política por meio da união, dos rumos do país pós-comissão e do que abriu mão em nome da carreira.


MARIE CLAIRE Como entrou e como encerra essa primeira fase da CPI da Covid?
ELIZIANE GAMA Digo que o aprendizado e a experiência na CPI deram novos nortes para a bancada feminina no Senado Federal, no sentido de sermos mais protagonistas, de sermos imbatíveis naquilo que defendemos. O Congresso é uma casa de maioria de homens. Nós, mulheres, somos algo em torno de 12%. A ausência da presença feminina em CPIs é um cenário típico do Congresso Nacional, mas dessa vez foi muito mais notada pela proeminência da comissão. Pois se trata de uma comissão com uma audiência muito grande, a população de fato acompanhou o dia a dia. Num primeiro momento, o senador Flávio [Bolsonaro (Republicanos-RJ)] começou dizendo: “Cadê a indignação das mulheres?”. Você se lembra disso?

“A ausência da presença feminina em CPIs é um cenário típico do Congresso Nacional, mas dessa vez foi muito mais notada pela proeminência da comissão”

Eliziane Gama
MC Claro. Mas ele estava provocando a bancada feminina.
EG Provocando e ironizando. E, naquele momento, me veio a ideia de uma questão de ordem e pedi ao presidente [Omar Aziz, do PSD/AM] que abrisse espaço para a gente. Não como membro titular porque regimentalmente as indicações têm que ser feitas pelos líderes, mas que ao menos a gente tivesse direito a fala, a voz. E ele prontamente atendeu o pedido. A gente precisa destacar essa sensibilidade dele. No dia seguinte, já tínhamos espaço de fala na CPI. E, nesse dia, eu estava para ter a primeira fala, havia uma indignação geral dos senadores, e até de forma truculenta, alguns se excederam… Mas a gente foi firme. Estávamos eu, a Leila [Barros, do PSB/DF], a Simone [Tebet], a Soraia [PSL/MS]. Um dos senadores colocou: “Vocês querem montar um grupo para atacar o governo”. Só que no nosso grupo temos mulheres da base do governo, como a senadora Soraia, a senadora Daniela [PP/PB], e a gente sempre defendeu, com a mesma proeminência, a presença delas na comissão.


MC Por causa da sua atuação na CPI, a senhora foi chamada a integrar o “G7 mais uma”, ou G8. Como se sentiu?
EG Prefiro até “G7 mais uma”, porque destaca a presença das mulheres. Olha, entendi que era uma espécie de reconhecimento sim. Uma reparação. Por que não? O bom de integrar esse grupo é que passei a participar intensamente dessas reuniões, que fazem um importante debate sobre a pauta da CPI. O que me fez apresentar um projeto de lei que diz: formada a comissão e não tendo a presença de uma mulher, a bancada feminina indica uma. Com esse projeto, a gente muda o regimento da Casa e não vai mais acontecer o que aconteceu na CPI da Pandemia. Vamos ver se o projeto passa, ainda precisa entrar na ordem do dia. O projeto de lei que criou a bancada feminina, também de nossa autoria [das senadoras], foi exatamente para isso, fortalecer nossa presença nos redutos de decisão. Porque, antes, pauta feminina no Senado só acontecia no 8 de março. Depois, esquece.

MC Estamos vivendo um momento particular da política nacional em relação às mulheres? A senhora vê mais união, a despeito de partido político ou espectro ideológico?
EG Diria que isso não é apenas de hoje. Estou na vida política há 15 anos e, ao longo de todo esse período, tenho sentido a unidade nas pautas femininas crescer. A gente diverge sim, e em vários aspectos, mas somos unidas nas pautas que dizem respeito à vida das mulheres. E aí estou considerando as senadoras de base governista, inclusive. E tem outra coisa interessante: não vou para o confronto com mulheres. A gente não consegue. Mesmo quando diverge, diverge com outro tratamento. Tem respeito. Tem algo mais forte que nos une. Somos tão poucas aqui. Veja: a gente só teve agora, pela primeira vez, uma mulher concorrendo à presidência do Senado; só teve agora uma mulher presidindo uma CCJ [Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania].


MC E sobre o papel dos partidos no acolhimento das mulheres, qual é a sua crítica?
EG Sou senadora, mas fui deputada estadual por dois mandatos e deputada federal. Só consegui presidir o meu partido depois de duas eleições. Agora, o que acontece dentro do partido? A definição das candidaturas, a definição do direcionamento do fundo eleitoral. É dentro do partido, que não necessariamente está nas lentes da televisão, que se decide quem é que vai se candidatar e quem não. As mulheres precisam estar nas executivas partidárias.

MC Sobre a CPI, qual é a sua avaliação até agora, e quais são suas expectativas para quando ela acabar?
EG Já participei de várias CPIs. Já presidi, já fui relatora, já fui membro. Já fui autora de uma CPI no meu estado e lá bloquearam a minha presença. Já vi muita coisa em CPI. E percebo claramente nessa CPI, pelo andar da carruagem, que vamos ter elementos substanciais que serão encaminhados aos órgãos, que pode ser Câmara [dos Deputados], PGR, órgãos internacionais…

MC Quais órgãos internacionais, por exemplo?
EG Tribunal de Haia. Tá ficando muito tipificado um crime de omissão contra a nação brasileira. Acho que teremos um relatório robusto. Renan [Calheiros, do PDM/AL] está focado. A gente já viu negligência em compra de vacina, um claro beneficiamento de empresas em detrimento de outras. E daí preciso citar a Pfizer, que levou seis meses para ser atendida pelo governo brasileiro. E depois a Covaxin, que foi atendida com rapidez e num valor imensamente maior. A gente viu o pagamento de passagens aéreas com dinheiro vivo, como foi o caso da Nise Yamaguchi, com 14 passagens no prazo de um ano.

“Fico me fazendo umas perguntas. O que passa de fato na cabeça do presidente da República?”


Eliziane Gama
MC Como a senhora mesma disse, a gente já tem muita coisa. Como cidadã, fica surpreendida com as revelações da CPI?
EG Fico me fazendo umas perguntas. O que passa de fato na cabeça do presidente da República? Qualquer gestor público, qualquer prefeito de cidade brasileira buscaria todas as alternativas ao seu alcance para resolver os problemas da pandemia. E aí você tem um presidente da República que não está nem aí pra vacina. Você pega o estado do Amazonas, em que o governador é aliado do presidente, ora, se eu tenho um presidente que é meu aliado, o meu estado tem que ser modelo. Mas o que se teve foi um cenário catastrófico no Amazonas. Ficou muito claro ali a tentativa de tornar o estado um estado cobaia. A gente recebeu na CPI um secretário do Amazonas [Marcellus Campêlo] que teve a pachorra de dizer que não faltou oxigênio no estado. Eu mostrei a ele um relatório com os mortos, 255 em apenas um dia. Chega a ser inacreditável. E fico mesmo sem acreditar, porque falta humanidade. Em junho de 2021, o Osmar Terra (MDB/RS) teve coragem de dizer na CPI que isolamento não é o caminho para resolver, que essa é uma ideia que não funcionou no mundo inteiro. No entanto, vou lhe dizer, o presidente pode ter todos os defeitos do mundo, mas um ele não tem: incoerência. Porque o que ele disse na campanha ele fez. E, infelizmente, muito pior. Então, ninguém pode dizer que: “Ah, mas quem esperava?”. Ora, ele disse!

MC A senhora tem acompanhado as manifestações de rua contra o presidente?
EG Sim, sim, e o recado é só um: há um vírus, ele é grave e passa através do ar, do contato humano, mas mesmo assim eu preciso ir às ruas me manifestar. O volume de pessoas que está nas ruas é o povo cansado, exausto. Deu. E, claro, as manifestações públicas dão direcionamento para a política.

MC O que pensa sobre a abertura de um processo de impeachment contra Jair Bolsonaro?
EG Hoje ainda não há cenário para isso. Precisamos da tipificação do crime, o crime de responsabilidade. E isso me parece claro, por causa da negligência. Além disso, precisa do segundo elemento, o apoio popular. As pesquisas eleitorais ainda mostram uma grande parcela da população que o apoia. Depois, o terceiro elemento, que é o endosso de parlamentares na abertura do processo. Hoje, a Câmara dos Deputados, que inicia o processo, não tem número nem para abrir uma CPI, quanto mais um impeachment.

MC E quanto às eleições presidenciais de 2022, qual é a sua aposta? A senhora já tem candidato? Fala-se muito em uma terceira via; é nela que acredita?
EG Não podemos ter apenas duas alternativas para o Brasil. O processo democrático brasileiro exige mais um nome para a competição. Essa oportunidade para os brasileiros a gente precisa dar. Quem é o nome? Eu não sei. Existe um movimento que se inicia agora, de debate, com vários partidos de centro e partidos progressistas. Daí pode surgir uma alternativa.

MC Há chances de uma mulher sair como alternativa, como candidata a presidente ou vice?
EG Essa é uma briga que perpassa todas as candidaturas. Uma mulher nas chapas majoritárias dá efeito nas bases dos partidos. Representatividade importa. Para esta eleição de 2022, eu pessoalmente estou articulando muito. Temos mulheres competentíssimas no Brasil, que têm toda condição de assumir qualquer cargo. A luta começa nos partidos, nas candidaturas de mulheres.

MC Senadora, há quem diga hoje que, se comparada a Jair Bolsonaro, Dilma caiu por muito menos. A senhora deve ter ouvido essa frase. Concorda? Aliás, a senhora votou a favor do impeachment dela. Arrependeu-se?
EG Participei da CPI da Petrobras e acompanhei tudo o que aconteceu do ponto de vista das pedaladas fiscais. Nós tivemos uma queda muito grande da aceitação popular [da presidente]. E veja, a minha defesa pela mulher é, e sempre foi, muito forte, mas nada acima dos princípios e valores da probidade, da coisa pública. Naquele momento, esses princípios foram infringidos. Eu não tive escolha a não ser a favor do impeachment. Dilma chegou a ter 9% de aceitação popular. Não é apenas sobre cometer crime, é sobre o contexto político.

MC O que seu lado jornalista pensa da forma como o presidente da República trata a imprensa brasileira?
EG É terrível. Li que a família Bolsonaro, presidente e seus filhos, agrediu a imprensa mais de 400 vezes. E a maioria das vezes foi com mulheres. Essa agressão em relação à imprensa é algo rotineiro nesse governo. Às vezes, com misoginia. Eu fico indignada, e duplamente, por ser mulher e ser jornalista. Isso é falta de um olhar para a liberdade de expressão, conquistada a duras penas, sangue e vidas. A ditadura matou muita gente.

MC A senhora acompanhou o caso da Assembleia Legislativa de São Paulo com o deputado do seu partido, Fernando Cury, e a deputada Isa Penna (PSOL)?
EG Terrível, repugnante, devastador. O nosso partido se manifestou de forma imediata em relação a isso. Infelizmente, o resultado da Assembleia não foi satisfatório, as punições deveriam ter sido exemplares, e não foram. A violência de gênero acontece todo dia no Brasil, na política e fora dela.

MC Já aconteceu com a senhora?
EG Não diria nesse nível. Mas às vezes o assédio vem no jeito de olhar diferente. E pode intimidá-la e paralisá-la sim. Agora, isso ser feito por um agente público numa Casa Legislativa, em frente a todas as câmeras, é inaceitável.

MC Quando fala em punição exemplar, o que esperava?
EG A cassação. Senão a gente não consegue mudar a realidade. A mulher brasileira é muito violentada, e em todas as esferas da vida. A violência vem de forma emocional, financeira, física, moral e sexual. A impunidade é o combustível para a perpetuação do machismo.

MC A senhora se considera feminista?
EG Não diria feminista. Sou uma mulher que defende a vida, as mulheres, as crianças, os idosos. Tenho as minhas convicções e a minha defesa sempre, incondicional, pela vida. Mas defendo a mulher como sujeito ativo, protagonista, com direito de fala. De ela estar onde quiser, de escolher seu próprio caminho. Mas não me autodeclaro: “Sou uma feminista”.

MC Por que não?
EG É que não defendo absolutamente todos os valores que o movimento feminista propaga. Minha visão cristã de vida me faz divergir um pouco.

MC Está falando das políticas de aborto?
EG Isso. Algumas colegas parlamentares fazem essa defesa, eu não. Mas isso não me impende de defender as mulheres e de querer acolhê-las mesmo em situações de aborto. A gente tem uma legislação muito clara sobre isso, e redonda.

MC Mas muitas mulheres ainda morrem no país por causa das proibições que a legislação traz. O que tem que mudar para essas mulheres pararem de morrer?
EG A gente precisa dar o atendimento de forma imediata a essas mulheres. No Maranhão, por exemplo, temos uma rede de mulheres que faz um atendimento sobre direitos reprodutivos focado na educação, inclusive com acompanhamento psicossocial. Eu entendo que nenhuma mulher segue procurando um aborto. É preciso entender mais a cabeça dessa mulher e dar a ela condições de proteção. Quando digo que sou a favor da vida e não penso em proteger essa mulher, que eventualmente está passando por um trauma, estou errando e não considerando o princípio de Cristo, que é o amor.

MC Como tem sido a rotina entre Congresso e casa? Como se divide entre família e trabalho?
EG Por causa da CPI, tenho vindo segunda e voltado sexta. Eu tenho duas filhas. Meu marido tem um filho, então são três filhos. Estão todos em São Luís. A gente vai ajustando, posso dizer que estou acostumada e já passei por tempos piores me dividindo entre trabalho e família.

MC A senhora começou sua experiência com a maternidade ao mesmo tempo que entrou para a política. Abriu mão de alguma coisa em detrimento da outra?
EG Quando fui eleita deputada federal, as meninas tinham 8 e 9 anos. Foi muito dolorido, eu chorava todos os dias de saudade delas. Quem é mãe vai entender e sabe que não estou exagerando. Eu pegava voo às 4 da manhã e elas me pediam que eu as acordasse pra dar o beijo de tchau, aquilo me destruía. Mas, sim, comecei como deputada estadual assim que nasceram, e claro que se abre mão, ou ao menos tenta-se fazer o que se consegue. Acho que fiz o que consegui. Hoje a Renata Cibele, minha filha mais velha, tem 17. A Lídia Caroline, que é cantora gospel, contratada da Sony, tem 16.

MC Por que a mudança do jornalismo para a política? A senhora é a primeira da sua família a ir para esse setor.
EG A ideia veio da igreja. Fui a primeira, e sou a única, da minha família na política. Entrei para a vida pública para fazer a defesa da vida e lutar pelos mais excluídos. Fui reeleita deputada estadual com quatro vezes mais votos do que no primeiro pleito. Quando me candidatei a deputada federal, fui a mais votada do estado, e a única mulher. Na política, pude defender na prática tudo que eu defendia no texto jornalístico. Hoje estou aqui, eleita senadora pelo meu estado com mais de 1 milhão e meio de votos. E a segunda mulher maranhense no Senado. A primeira foi a Roseana Sarney. Somos muito diferentes, apesar disso. Origens opostas. Ela, de família política, com poder. Eu, nada disso.

“Marina Silva representa tudo o que uma representante política deveria ser nesse país. Encarna a ética, a garra, a serenidade. Lamento que o Brasil ainda não tenha a tido como presidente da República”

Eliziane Gama
MC Gostaria de ouvir um nome de uma mulher na política, atuando ou não, que seja uma referência para a senhora.
EG Marina Silva representa tudo o que uma representante política deveria ser nesse país. Encarna a ética, a garra, a serenidade. Lamento que o Brasil ainda não tenha a tido como presidente da República. Pelo nível de comprometimento que ela tem, e de destaque internacional que continua tendo, o exemplo de ministra do Meio Ambiente que foi… Não sei dizer se ela tem ainda disposição para concorrer à Presidência, mas, se tiver, é um excelente nome. É uma mulher cristã, com a qual me identifico demais. Acredito que nós duas já fomos mal compreendidas por setores evangélicos, inclusive. Porque nunca deixamos de fazer as críticas necessárias.

MC Quando fala dessas críticas, refere-se ao seu posicionamento mais progressista e aberto ao diálogo?
EG Sim, é isso. Existem líderes evangélicos que não concordam com a minha postura e acham que eu deveria ser menos combativa em relação ao presidente, por exemplo. Mas acredito que uma hora eles vão enxergar que defender o presidente não é a melhor coisa a se fazer pelo país. Você sabe que Bolsonaro usou uma tática para o avanço entre os evangélicos? Ele vai a uma igreja, faz uma fotografia, pega uma Bíblia. Foi o que ele fez. Ele pega isso e usa como marketing. Mas, na prática, ele é contra a vida. Absolutamente distante do verdadeiro cristianismo e do que significa de fato o exemplo de Jesus Cristo de Nazaré. Mas o tempo está passando e eu tenho convicção de que essa imagem falsa cairá.

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