terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Vereador Nelsinho fala sobre as prioridades do mandato de 120 dias

Nelsinho Brito assumiu a vaga do vereador licenciado Honorato Fernandes na Câmara Municipal de São Luís. Em entrevista a O Imparcial ele revelou as prioridades do mandato, a importância do novo cenário político e sua relação com a cultura maranhense. O professor e mestre de capoeira Nelsinho Brito (PT) tomou posse na Câmara de Vereadores de São Luís na última segunda-feira (24). O novo parlamentar assumirá, por 120 dias, a vaga do vereador Honorato Fernandes (PT), que tirou licença médica. Tendo como cenário o Laboratório de Expressões Artísticas (Laborarte), onde iniciou sua militância cultural e política, Nelsinho concedeu entrevista a O Imparcial. Destacou suas perspectivas para o mandato e a sua defesa pelo fortalecimento da cultura popular no Maranhão.

Nelsinho é filho do artista popular Pixixita e sobrinho do produtor cultural Nelson Brito Martins, que tiveram papel fundamental para sua formação. A atuação como capoeira no Laborarte o aproximou dos movimentos culturais, sociais e populares, base de sua bandeira política desde quando enveredou pelo caminho, em 2003, com a filiação no PT. Foi, durante o primeiro ano do mandato do prefeito Edivaldo Holanda Júnior (PT), adjunto do presidente da Fundação Municipal de Cultura (Func), trabalhando ao lado do professor Francisco Gonçalves. Em 2012 candidatou-se a vereador pela segunda vez e, obtendo 1.708 votos, alcançou a primeira suplência na coligação PT/PTB.

Serão, a priori, 120 dias. Quais são as prioridades nesse período?
“Como o espaço é muito curto, a gente não tem como inventar a roda, é preciso ter foco e a Cultura não deixa de ser minha principal bandeira. Nessas sessões a gente tem como uma das metas fazer com que se efetive a lei de mestres da cultura popular, uma lei que já foi aprovada em 1996, pelo vereador Joberval e a gente vai tentar fazer com que se efetive”.

E o que preconiza a lei?
“Ela legisla sobre a garantia de uma aposentadoria para mestres da cultura popular. Mas, necessariamente, estes mestres terão que dá uma contribuição nas escolas do município. Vou pegar uma coisa que já existe e tentar efetivar isso, fortalecendo esse segmento que votou em mim. Eu sou da base do prefeito, fiquei um ano na Func, foi um ano muito rico para mim, mas, nessa mesma leva da cultura, vou estar cobrando do poder executivo, agora na função de vereador, a criação da Secretaria de Cultura, que eu acho ser imprescindível para fazer acontecer o sistema municipal de cultura. Entendo que hoje a Prefeitura enfrenta fortes limitações financeiras, é um crise real e não fictícia, mas como existe sempre disputa de interesse, eu tenho que defender esse interesse da bandeira da Cultura”.

Alguma reunião marcada com líderes da Câmara e outros vereadores, afim de efetivar os planos? Alguma negociação?
“Não, ainda não aconteceu. Nesse primeiro momento estou me ambientando. Posso dizer que fui muito bem recebido pelos vereadores de todos os partidos, e esta semana agora eu vou começar a conversar com meus amigos parlamentares nesse sentido. Tem uma outra lei, que é na área ambiental. Se nesse curto espaço de tempo eu conseguir a aprovar, vou sair muito satisfeito. É uma lei tem como objetivo valorizar as áreas verdes do meio urbano, da cidade de São Luís. A lei está até pronta, é uma experiência que já existe em outras cidades e apresento a mesa diretora na segunda-feira (1º), ela visa dar abatimento no IPTU a casas do meio urbano que tem árvore, com isso, mais do que dar o desconto, estamos implantando a cultura verde na cidade. Então, para aprovar essa lei terei que contar com o apoio direto dos meus amigos vereadores, e por isso terei que correr atrás, conversar”.

Você integra uma corrente do PT que não foi conivente com a aliança do PT com o PMDB. Essa ala, a resistência petista, sai fortalecida com sua presença na Câmara?
“Sem dúvida. É um momento muito importante, que a gente da resistência petista vive, é um momento que a gente vai começar a ser um pouco mais protagonista dos espaços políticos. No governo Flávio a gente está com a secretraia de Direitos Humanos, com Chico Gonçalves e com a Secretaria de Esportes com Márcio Jardim. No município está o Marlon Butão substituído o Chico na Func. E agora, eu também, neste momento, assumo o parlamento. Com a saída do Dutra e do Bira, que são duas figuras com grande densidade eleitoral, foi um prejuízo para o PT, mas acho que é um momento novo, de construção, de tentar, dentro dessa diversidade que é o PT, construir uma unidade para fortalecer o partido. E aí eu sou muito convicto, esse mandato meu, mesmo que curto, fortalece muito. Até porque é eleitoral, os outros espaços são no Executivo, eu tive 1.700 votos, que, de certa forma, mostra que a resistência petista sempre esteve certa, sempre teve voto, sempre teve base social, sempre dialogou com os movimentos sociais e o que sempre reverberou no processo eleitoral. O meu companheiro Honorato, que sai de licença médica, não é da resistência petista, apesar de dialogar com a gente constantemente. Ele sempre foi uma exceção do campo de lá”.

O seu afastamento da Func, se deu por razões políticas?
“Eu fiquei um ano na Func, que foi muito valioso, principalmente por estar ao lado de Chico [Gonçalves, presidente da Func]. Eu aprendi muito e tive uma compreensão muito mais aprofundada da administração pública, mas num determinado momento, acho que até por conta da condição que a Func se encontra, não se tornou mais tão motivante para mim. E, ao mesmo tempo, precisaria estar um pouco mais voltado para minha profissão de professor e para cá para o Laborarte. Eu precisei me afastar para outras esferas da vida, mas continuo no Executivo, contribuindo como assessor técnico do prefeito, fiquei até junho e foi muito valioso, marquei reuniões do prefeito com os movimento sociais. Não teve nada especifico com a Func, mas foi uma questão minha, tenho mantido diálogo permanente com Chico e com Marlon, a gente está discutindo a posição deles na Func e o meu mandato está extremamente alinhado.”

A partir de janeiro governo do estado e Prefeitura serão parceiros no que isso pode fortalecer a cultura maranhense? E como você se insere nesse campo?
“Uma das coisas que mais me deixa satisfeito é que o estou sendo vereador num momento histórico do estado, é a virada de página, como Flávio (Dino) fala. No momento da posse do governador eu vou estar vereador, e é de um simbolismo muito grande. E eu acredito que Flávio vai implementar e vai ter êxito em mudanças radicais na politica cultural. Acho que vai conferir transparência, democracia, diversidade e descentralização da cultura, acho que vai ter uma valorização da nossa identidade cultural. Acredito que a Ester vai, até porque ela está numa nova conjuntura, ela vai dar a cara do governo Flávio Dino,é um novo governo e vai ter uma nova postura. E isto serve de esperança para a gestão municipal. A Func está numa situação orçamentária muito precária e precisa ser assistida, toda a Prefeitura precisa ser assistida, e eu acredito que vai ser. Acho que 2015 vai ser o ano de reviravolta da gestão Edivaldo Holanda, é a hora dele reverter o quadro, já está mostrando para que veio, mas agora vai ser mais fácil por conta dessa afinidade com o governo do Estado”.

Como atender, no seu mandato, a demanda de setores engajados dos movimentos culturais que querem a Cultura não apenas como produto ou agenda cultural, mas como política pública?
“Tem-se uma cultura imposta do clientelismo que está muito forte no setor da cultura, e acho pedagógico ser questionado sempre. É uma maneira equivocada, que não consolida nem fortalece a cultura. Digo para meus pares que a gente não deve lutar por privilégios, mas pelo acesso, democracia e transparência. Pensam muito: “meu amigo tá lá, vai me conseguir uma apresentação” e todo o movimento da cultura sai fragilizado com isso. Aí eu destaco que Chico foi muito importante nesse sentido, de fortalecer essa política de edital, e é isso que eu vou defender na Câmara, não o apadrinhamento, mas a democratização plural da cultura, dar um destaque para a política de edital”.

Qual origem da sua formação politica?
“Minha formação política é um pouquinho diferente da formação politica dos meus amigos do PT. O PT é composto por militante históricos, com formação na Pastoral da Juventude, nos movimentos sindicais, nos movimentos estudantis e nos movimentos sociais, de negros e por moradia popular. E eu tive uma formação diferente, e isto tem uma singularidade. Eu tenho uma formação aqui no Laborate, no meio de artistas que sempre militaram no campo da esquerda, artistas que militaram no PT e PDT. Foi através do Laborarte, dando aula em projetos sociais na periferia e para adolescentes da periferia aqui nesse espaço que eu pude ter uma noção clara da injustiça social e perceber também o poder político transformador que a cultura tem. Dentro disso tem pessoas importantíssimas, como Nelson Brito, meu tio e segundo pai, minha mãe que era militante do PDT e foi secretária do Jackson Lago, o professor Joan que foi vereador pelo PT e me influenciou a compor o partido A professora Silvana, militante do PT e do meu pai que foi fundamental na minha formação humana. A capoeira também teve aspecto direto na minha formação, que tem relação direta com o processo histórico, intrinsicamente ligada à historia do Brasil, à história do negro, a uma luta de libertação. Faço da minha militância na capoeira, a minha militância política”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário