quinta-feira, 19 de maio de 2016

Docente do Campus de Imperatriz apresenta pesquisa sobre mídia e doenças mentais

Tese de doutorado mostra que brasileiros recorrem à mídia para se informar, procurar ajuda e tratar distúrbios psiquiátricos
 
SÃO LUÍS – A professora do curso de Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo, do Centro de Ciências Sociais, Saúde e Tecnologia (CCSST) do Campus Imperatriz, apresentou, como tese de doutorado em Comunicação Social na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), a pesquisa “Tecnologia do imaginário: o jornalismo como promotor das doenças mentais”, em que aborda a relação entre os transtornos psiquiátricos e a mídia, após a aprovação da Lei Antimanicomial, em 2001.
 
A tese de doutorado analisou o papel importante da mídia para ajudar as pessoas a identificar doenças e procurar tratamento. “Há vinte anos, as pessoas tinham vergonha de se expor publicamente porque o doente mental era muito estigmatizado. Ainda existe preconceito, mas as pessoas abordam o assunto com mais naturalidade e utilizam a mídia para falar do sofrimento delas. Pessoas famosas como os atores Cássia Kiss, Maurício Mattar, Catherine Zeta-Jones e Jean-Claude van Damme, por exemplo, revelaram publicamente que são bipolares”, mencionou.
 
A tese cita o caso de uma mãe que descobriu o transtorno da filha através de uma revista. A matéria discutia a doença do cantor Roberto Carlos, o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), mais conhecido como mania. Quando famosos aparecem na mídia e falam como lidam com a doença, muitas pessoas acabam se identificando e procuram ajuda profissional. Outro caso famoso foi a atriz Luciana Vendramini, que sofre do mesmo transtorno e estimulou outras pessoas a buscar tratamento.
 
De acordo com a pesquisadora, o jornalismo atua como uma espécie de “espaço terapêutico” porque explica o que é a doença, mostra exemplos de pessoas que têm o transtorno e ensina a lidar com ele. “A mídia acaba encurtando o tempo de procura por tratamento médico. A pessoa tende a se identificar com a doença e se dá conta que qualquer um pode ficar doente”, explicou.
 
O sofrimento não pode ser abordado apenas como um distúrbio neurobioquímico, mas depende do modo de vida, expectativas de cada um e também da sociedade. “Sofrer é próprio da condição humana, mas precisamos avaliar que tipo de vida nos deixa doentes. Nossa sociedade está criando uma legião de pessoas insatisfeitas e infelizes. Isso sim é doença”, alerta Denise Ayres.
 
Luta Antimanicomial
 
A data de 18 de maio foi instituída como o Dia Nacional da Luta Antimanicomial, que caracteriza o movimento pelos direitos das pessoas com sofrimento mental e o combate ao tratamento desumano e cruel a usuários do sistema de saúde mental.
 
No Brasil são 23 milhões de pessoas sofrendo de doenças mentais, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). A região metropolitana de São Paulo possui a maior concentração de pessoas com transtornos do mundo: 30,1% da população, de acordo com pesquisa do Instituto de Psiquiatria de Universidade de São Paulo e a OMS.
 
Passados 15 anos da aprovação da Lei da Reforma Psiquiátrica, que extinguiu os manicômios no país, o preconceito contra o doente mental diminuiu. As pessoas estão mais abertas para falar sobre o sofrimento e utilizam a mídia para desabafar e ajudar os outros a enfrentar os transtornos. “Nesse mundo caótico, as pessoas precisam falar, contar suas histórias de superação e serem reconhecidas”, explanou Denise.
 
A Lei da Reforma Psiquiátrica foi um marco na sociedade brasileira que proibiu a construção e ampliação de manicômios, procurando reinserir o doente mental na sociedade. Paradigmas científicos também mudaram, e o conceito de doença mental se fragmentou em vários tipos de transtornos e estudos.

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