domingo, 11 de dezembro de 2016

Quem é contra eleição é trouxa ou canalha

Beto Barata

"A delação direta da Odebrecht contra Michel Temer acelera de forma dramática o debate sobre sua substituição, caminho para o qual existem duas alternativas possíveis. A eleição direta, em respeito à soberania popular definida pela Constituição, ou o golpe dentro do golpe", escreve Paulo Moreira Leite. Para ele, "os grandes fatos da conjuntura devem ser lidos a partir desta situação. Enquanto a maioria da população procura entender as migalhas de informação que a mídia grande deixa escapar, os donos do poder e do dinheiro escolhem um novo presidente a portas fechadas, para ter certeza de que um possível sucessor de Temer não irá colocar em risco o projeto de devolver o Brasil ao circuito da globalização acelerada, sem nenhum risco de de resistência, real ou mesmo simbólica".O derretimento de Michel Temer em praça pública, em função das delações da Odebrecht, tem dois efeitos cruciais para a conjuntura política e o futuro dos brasileiros.
O primeiro é acelerar de forma dramática o debate sobre a substituição de Temer. O segundo é atualizar o debate sobre a realização de eleições diretas para presidente. Com o governo Temer cada vez mais perto do fim, tudo fica claro. Quem ainda é contra diretas é trouxa ou é canalha.
Os grandes fatos do momento devem ser lidos, explicados e reinterpretados a partir do desmoronamento de Temer. Falando claramente: o funeral de Temer obriga a debater as condições para a realização de novas eleições ou apoiar um golpe dentro do golpe.
 Este é o jogo real a partir das afirmações de Claudio Melo Filho, o prato de resistência das denuncias deste fim de semana. Enquanto a maioria da população procura entender as migalhas de informação que caem das páginas que a mídia grande  apresenta, sem oferecer uma pálida ideia do que se passa na vida real, os donos do poder e do dinheiro estão em outro nível discussão. Querem resolver num jantar de família  quem vai para o lugar de Temer e assegurar a continuidade do projeto de devolver o Brasil e o mercado brasileiro ao circuito da globalização acelerada  do capitalismo, sem resistências de nenhum tipo, ora reais, ora simbólicas, como em ocorreu no período Lula-Dilma.

É assim que, por trás das cortinas, desfilam candidaturas, são feitas especulações, testes e conchavos. O motivo está claro. Na nave de náufragos das delações,  a fila dos que serão conduzidos ao pontilhão de mãos amarradas  para serem jogados ao mar não para de crescer.
Da mesma forma que ocorrem movimentos subterrâneos para lançar candidaturas convenientes -- até Carmen Lucia já foi mencionada, para se ter uma ideia da falta de limites e pudores  -- no mesmo ambiente se realizam operações para alvejar aquelas que não são desejados.
Isso explica a pressa sem limites de velocidade para encontrar um pretexto para incriminar Lula e impedir que possa manter uma possível  candidatura presidencial.
Mais do que nunca, este é o grande pesadelo daqueles senhores da política que construíram parlamentar que afastou Dilma. Tanto barulho por nada?
Mas é estratégico. Na medida em que Temer se aproxima do pontilhão dos náufragos, é preciso impedir -- de qualquer maneira  que Lula possa permanecer no jogo. E atenção.
A insistência de envolver Lula em denúncias que não se comprovam, mas são reproduzidas  e multiplicadas à exaustão, não passa de um exercício conhecido, de uma mentira reproduzida 1 000 vezes para que se transforme em verdade. A tentativa de massacre moral de Lula é uma forma de golpe preventivo, um cálculo maligno. Não se trata de jogo midiático, apenas. É muito mais grave e sério.  
Caso seja necessário retirá-lo à força da cena política, até um gesto arbitrário -- uma condenação sem provas -- pode ser ensaiado, sob a condição  de que não haja resistência popular. O plano não é apresentar provas, que permanecem invisíveis após uma devassa que já dura anos,  mas formar convicções na população. É assim que se quer minar a confiança que tantos brasileiros depositam em Lula, apesar de um massacre de mais de uma década. Para isso, é indispensável a cobertura e apoio da mídia amiga, em particular comentaristas de sorriso malicioso  ("para entendidos") que enfrentam os tele jornais noturnos.  
Exatamente porque se trata de uma operação sórdida, o ambiente é de grande segredo. É preciso não chamar a atenção e evitar a entrada em cena de 100 milhões de eleitores, considerados indesejáveis, expressão daquilo que  artigo 1 da Constituição define como soberania popular, fundamento de nossa República.
Pois é. Numa conjuntura como esta, mais do que nunca se confirma a constatação essencial de que não há salvação fora da democracia. Eleição é o caminho a ser perseguido, por todos os meios, pela capacidade de cada um. As outras possibilidades são: ou trouxa, ou canalha. Chegou a hora de cada um escolher seu papel.

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