Para estudantes de Comunicação que optaram pela habilitação Jornalismo na UFMA dos anos 1980 existia uma certa distância entre iniciar o labor nos jornais tradicionais de São Luís – repositórios da história oficial forjada nos gabinetes, vinculados a grupos políticos – e começar a jornada escrevendo uma história mais crua, às vezes inventada, com narrativas aventureiras, de carga mais afetiva e moral do que técnica. Claro que a maioria seguia naturalmente o caminho da carteira de trabalho assinada, do auxílio transporte, do livro de ponto. Eram estudantes, mas com emprego fixo e salário no final do mês. Outros poucos, avessos a armaduras do trabalho e motivados pelos ventos que ainda sopravam da Escola de Frankfurt, pegavam atalhos via jornalismo alternativo.
Havia poucas publicações alternativas em São Luís. Em grêmios de escolas secundaristas e nos diretórios acadêmicos ainda brotavam jornais mimeografados, embalados pelo ritmo do movimento estudantil, e serviam de escada para a militância partidária dentro da universidade, predominantemente de esquerda. Pelas cercanias do curso de Comunicação Social surgiam alguns jornais alternativos, menos partidários, de tessitura onírica, muito mais inspirados na lábia extemporânea da contracultura e espelhados nos últimos suspiros de publicações como O Pasquim.
O Tabefe foi uma dessas experiências de jornalismo alternativo que envolveu um expressivo número de estudantes de diferentes cursos da UFMA. Tabloide, oito páginas com textos e fotos, impressão em gráfica e uma certa dose de ousadia para um jornal sem eira nem beira. Com uma produção relativamente cara para os padrões da época, o Tabefe perdurou por cinco edições impulsionado por um modelo colaborativo de gestão, sem qualquer hierarquia.
À frente do projeto inicial do jornal, ainda no primeiro semestre de 1987, estavam Eri Castro, Wal Oliveira, José Luís Diniz, Ed Wilson Araújo e Cássia Muniz. Depois juntaram-se outros, como eu, Bel Aquino, Benedito Júnior, Genivaldo Abreu, Rinaldo Nunes, Carlos Agostinho Couto, Hamilton Aragão, Azevedo, Ronald Damasceno, William dos Anjos, Júlio Ribeiro, Mário Prazeres, Jarbas Lima, Jefferson Portela, Manuel Matos, Paulo Madeira, Dimas Salustiano, Periandro Barreto, Jockson Launé, Wagner Cabral, Rui Barbosa, Hamilton Louzeiro, Marinilde, Cidinha Pires, Socorro Rios, Léa, Laurinda Pinto e Leide Miranda. Quem não escrevia, ajudava de alguma forma: na pesquisa, na diagramação, nas fotos ou na venda do jornal. Alguns vestiam a camisa do jornal, colavam cartazes pelos muros. Outros nos apontavam caminhos, teciam palpites, como os professores Nilson Amorim, Nilde Sandes e Roberto Mauro Gurgel.

Parte da equipe que ajudou a criar o Tabefe: Bel Aquino, José Luís Diniz, Eri Castro e Wal Oliveira (os últimos quatro em pé, à direita) com Leila Hadad, Luiza Lina, Moisés Matias, Carlos Agostinho Couto e Jockson Launé
O ideário da pauta combinava cultura, política e comportamento. O nome Tabefe, estilizado na capa em forma de uma mão aberta, denotava um certo ar de birra e provocação que era compensado por um vasto espaço destinado a exercícios poéticos da massa universitária. A marca do Tabefe, que se identificava como “um jornal nanico”, foi criada por Waldelice Oliveira, então estudante do curso de Desenho Industrial da UFMA e irmã de Wal Oliveira.

“Nossas pautas destoavam um pouco do convencional e havia uma dose de literatura em meio aos textos jornalísticos”, comenta Ed Wilson, responsável pela consolidação do material que ia à gráfica. “Trabalhávamos em equipe, da produção à distribuição, em uma São Luís bucólica e apaixonante”. Segundo ele, o jornal foi uma “experiência fantástica” para um seleto grupo de estudantes que ainda estava nos primeiros anos do curso de Jornalismo.
Todas as edições do Tabefe foram impressas na Gráfica Augusta, de propriedade de Crezo, com quem Eri Castro mantinha uma boa relação de amizade. Crezo, além de empresário, era funcionário do departamento de Economia da UFMA e tinha um certo interesse em divulgar no jornal assuntos relacionados à política interna do campus. A primeira edição do Tabefe, que trouxe uma entrevista com a médica e militante comunista Maria Aragão, foi na base do fiado. A gráfica só viu a cor do dinheiro após a venda do jornal em salas de aula da universidade e nos cursinhos pré-vestibulares. E tudo no espírito da camaradagem, afinal Crezo só cobrava o papel para a impressão. O dinheiro arrecado nas vendas – moedas, a maioria - era guardado em saco plástico, na casa de Cássia Muniz. O que sobrava após o pagamento da gráfica era liquidificado na mesa do bar mais próximo, a contragosto da “tesoureira” do jornal.

Eri Castro com Maria Aragão, a primeira entrevistada
Em um dos editorais, a equipe do Tabefe fazia o alerta: “Desde o primeiro número do jornal já prevíamos as dificuldades financeiras: justamente pela proposta alternativa do Tabefe de não ser mais um veículo de comunicação voltado para os interesses da classe dominante”. A capa trazia sempre a advertência, em destaque, sobre o valor de cada exemplar: “Contribuição espontânea. Mas abaixo de 10 cruzados é sacanagem!”.
Contávamos com o apoio discreto de alguns mecenas, como a Livraria ABC, a quem recorríamos com certa assiduidade. Divulgávamos a livraria no jornal e em troca recebíamos livros para anunciadas rifas que nunca saíram do papel. Livros como “Rádios livres, a reforma agrária no ar”, de Arlindo Machado, Caio Magri e Marcelo Masagão, “Muito além do Jardim Botânico”, de Carlos Eduardo Lins da Silva, e “Roteiro”, de Doc Comparato, jamais foram ao pregão por nossa absoluta incapacidade de desapego.

Wal Oliveira: "olhar multidisciplinar"
A pauta do Tabefe era urdida a muitas mãos nos finais de tarde de sexta-feira no Bambu Bar, no bairro Sá Viana, ou no Bar do Mosca, na rua do Sol. Os editoriais panfletários carregavam na tinta contra o establishment, a reitoria da universidade, o modelo de ensino, o preço na passagem de ônibus para o campus e o que mais se apresentasse como aparelho ideológico do Estado, segundo a ótica de Louis Althusser. Das teses e antíteses lançadas na mesa do bar, cabia a Ed Wilson, o alquimista da horda, estampar na página dois do jornal a síntese do calor da bora em forma de editorial.
“Por ser um grupo grande e heterogêneo, formado por pessoas de vários cursos, e não apenas de Jornalismo, havia um olhar multidisciplinar sobre as pautas do Tabefe”, explica Wal Oliveira. “Então, a visão desses estudantes somou com a nossa de futuros jornalistas e acabou transformando o Tabefe num jornal incomum”, define.

Exercícios poéticos nas páginas do Tabefe
Não faltaram erros e exaustivas discussões internas ao longo da curta jornada. Ed Wilson conta que certa vez o grupo recebeu uma severa advertência do dono da gráfica que imprimia o jornal. “Estávamos pregando cartazes do Tabefe sobre azulejos do Centro Histórico”, relembra. “Éramos tão jovens e empolgados que não dimensionávamos o prejuízo ao patrimônio cultural da cidade”.
Em janeiro de 1988, o Tabefe publicou um pequeno texto “denunciando o desejo” do então reitor José Maria Cabral Marques de construir um muro em volta do campus, separando-o do bairro Sá Viana, para evitar assaltos a estudantes. “Esta é a visão da administração da nossa universidade justamente quando mais se reivindica uma maior integração dela com a sociedade!”, exclamava o jornal. A nota deu origem a um movimento no campus de resistência à construção do muro, que só fora erguido no ano de 2009.

Militância estudantil também cometia versos
Outra denúncia do Tabefe teve como alvo o então presidente da Assembleia Legislativa do Maranhão, deputado estadual Ricardo Murad. Após uma “investigação” de estudantes no centro de processamento de dados do campus, o jornal noticiou que Murad fora “aluno fantasma” de Direito na UFMA durante certo tempo. De acordo com informações levantadas pelo diretório acadêmico do curso, Murad teria sido beneficiado com frequência integral nas disciplinas de Direito Previdenciário e Direito Agrário sem nunca ter posto os pés na universidade.
A cada edição, o Tabefe trazia algo novo, revelador, palpitante. Algumas entrevistas ajudaram a formar o pensamento de uma geração. Pelas páginas do Tabefe passaram Maria Aragão, Luís Carlos Prestes, Beth Bittencourt, José Carlos Sabóia e muitos outros. “As entrevistas, coletivamente elaboradas, especialmente as de Maria Aragão e Prestes, acenderam a chama da rebeldia da nossa geração e despertaram para a necessidade do estudo, do nosso conhecimento”, relata Eri Castro.
Nos meus arquivos tenho apenas duas edições do Tabefe, das quais participei diretamente, que trazem entrevistas com Luís Carlos Prestes e Agostinho Marques. As demais edições, infelizmente, não as localizei em minhas pesquisas. Transcrevo a seguir as duas entrevistas porque considero que ambas revelam as idiossincrasias de uma geração em conflito com diferentes modelos de luta: a revolução brandida pela história, alimentada dia após dia no ambiente político, e lucidamente compartilhada por alguém que a viveu em sua plenitude; e as incoerências naturais de uma geração em permanente tumulto interior, manifestadas pelas vias do prazer, do desejo e das paixões, e dissecadas com esmero por quem, em alguns momentos, se fazia passar por um de nós.
As duas entrevistas, vale frisar, refletem a temperatura política e a atmosfera universitária do período. Há, em cada pergunta, em cada resposta, relampejos datados, mas ainda vivos e necessários para a leitura de um passado não tão distante.
Após a entrevista com Agostinho Marques, no primeiro semestre de 1988, o Tabefe chegou ao fim, sem despedidas, por uma dispersão natural do grupo.
“Lembro especialmente de uma entrevista que fizemos com a militante comunista Maria Aragão, gravada em um aparelho tipo microssystem, enorme, do colega Mubarack”
Ed Wilson Araújo
“Agostinho Marques, quando sentenciou que ‘a vida própria é uma revolução, nós é que não somos revolucionários’, muitos de nós já estávamos casados e com filhos. Casamentos, alguns deles, que logo se evaporaram, assim como aqueles meninos adolescentes querendo mudar o mundo”
Eri Castro
“Foi uma experiência rica em vários aspectos: no fazer jornalístico e no aprendizado de gestão do próprio jornal”
Wal Oliveira
“A gente vivia o sonho e a dureza de fazer um jornal sem recursos”
Ed Wilson Araújo
(Fotos: arquivos pessoais de Eri Castro, Wal Oliveira e Moisés Matias)
Havia poucas publicações alternativas em São Luís. Em grêmios de escolas secundaristas e nos diretórios acadêmicos ainda brotavam jornais mimeografados, embalados pelo ritmo do movimento estudantil, e serviam de escada para a militância partidária dentro da universidade, predominantemente de esquerda. Pelas cercanias do curso de Comunicação Social surgiam alguns jornais alternativos, menos partidários, de tessitura onírica, muito mais inspirados na lábia extemporânea da contracultura e espelhados nos últimos suspiros de publicações como O Pasquim.
O Tabefe foi uma dessas experiências de jornalismo alternativo que envolveu um expressivo número de estudantes de diferentes cursos da UFMA. Tabloide, oito páginas com textos e fotos, impressão em gráfica e uma certa dose de ousadia para um jornal sem eira nem beira. Com uma produção relativamente cara para os padrões da época, o Tabefe perdurou por cinco edições impulsionado por um modelo colaborativo de gestão, sem qualquer hierarquia.
À frente do projeto inicial do jornal, ainda no primeiro semestre de 1987, estavam Eri Castro, Wal Oliveira, José Luís Diniz, Ed Wilson Araújo e Cássia Muniz. Depois juntaram-se outros, como eu, Bel Aquino, Benedito Júnior, Genivaldo Abreu, Rinaldo Nunes, Carlos Agostinho Couto, Hamilton Aragão, Azevedo, Ronald Damasceno, William dos Anjos, Júlio Ribeiro, Mário Prazeres, Jarbas Lima, Jefferson Portela, Manuel Matos, Paulo Madeira, Dimas Salustiano, Periandro Barreto, Jockson Launé, Wagner Cabral, Rui Barbosa, Hamilton Louzeiro, Marinilde, Cidinha Pires, Socorro Rios, Léa, Laurinda Pinto e Leide Miranda. Quem não escrevia, ajudava de alguma forma: na pesquisa, na diagramação, nas fotos ou na venda do jornal. Alguns vestiam a camisa do jornal, colavam cartazes pelos muros. Outros nos apontavam caminhos, teciam palpites, como os professores Nilson Amorim, Nilde Sandes e Roberto Mauro Gurgel.

Parte da equipe que ajudou a criar o Tabefe: Bel Aquino, José Luís Diniz, Eri Castro e Wal Oliveira (os últimos quatro em pé, à direita) com Leila Hadad, Luiza Lina, Moisés Matias, Carlos Agostinho Couto e Jockson Launé
O ideário da pauta combinava cultura, política e comportamento. O nome Tabefe, estilizado na capa em forma de uma mão aberta, denotava um certo ar de birra e provocação que era compensado por um vasto espaço destinado a exercícios poéticos da massa universitária. A marca do Tabefe, que se identificava como “um jornal nanico”, foi criada por Waldelice Oliveira, então estudante do curso de Desenho Industrial da UFMA e irmã de Wal Oliveira.

“Nossas pautas destoavam um pouco do convencional e havia uma dose de literatura em meio aos textos jornalísticos”, comenta Ed Wilson, responsável pela consolidação do material que ia à gráfica. “Trabalhávamos em equipe, da produção à distribuição, em uma São Luís bucólica e apaixonante”. Segundo ele, o jornal foi uma “experiência fantástica” para um seleto grupo de estudantes que ainda estava nos primeiros anos do curso de Jornalismo.
Todas as edições do Tabefe foram impressas na Gráfica Augusta, de propriedade de Crezo, com quem Eri Castro mantinha uma boa relação de amizade. Crezo, além de empresário, era funcionário do departamento de Economia da UFMA e tinha um certo interesse em divulgar no jornal assuntos relacionados à política interna do campus. A primeira edição do Tabefe, que trouxe uma entrevista com a médica e militante comunista Maria Aragão, foi na base do fiado. A gráfica só viu a cor do dinheiro após a venda do jornal em salas de aula da universidade e nos cursinhos pré-vestibulares. E tudo no espírito da camaradagem, afinal Crezo só cobrava o papel para a impressão. O dinheiro arrecado nas vendas – moedas, a maioria - era guardado em saco plástico, na casa de Cássia Muniz. O que sobrava após o pagamento da gráfica era liquidificado na mesa do bar mais próximo, a contragosto da “tesoureira” do jornal.

Eri Castro com Maria Aragão, a primeira entrevistada
Em um dos editorais, a equipe do Tabefe fazia o alerta: “Desde o primeiro número do jornal já prevíamos as dificuldades financeiras: justamente pela proposta alternativa do Tabefe de não ser mais um veículo de comunicação voltado para os interesses da classe dominante”. A capa trazia sempre a advertência, em destaque, sobre o valor de cada exemplar: “Contribuição espontânea. Mas abaixo de 10 cruzados é sacanagem!”.
Contávamos com o apoio discreto de alguns mecenas, como a Livraria ABC, a quem recorríamos com certa assiduidade. Divulgávamos a livraria no jornal e em troca recebíamos livros para anunciadas rifas que nunca saíram do papel. Livros como “Rádios livres, a reforma agrária no ar”, de Arlindo Machado, Caio Magri e Marcelo Masagão, “Muito além do Jardim Botânico”, de Carlos Eduardo Lins da Silva, e “Roteiro”, de Doc Comparato, jamais foram ao pregão por nossa absoluta incapacidade de desapego.

Wal Oliveira: "olhar multidisciplinar"
A pauta do Tabefe era urdida a muitas mãos nos finais de tarde de sexta-feira no Bambu Bar, no bairro Sá Viana, ou no Bar do Mosca, na rua do Sol. Os editoriais panfletários carregavam na tinta contra o establishment, a reitoria da universidade, o modelo de ensino, o preço na passagem de ônibus para o campus e o que mais se apresentasse como aparelho ideológico do Estado, segundo a ótica de Louis Althusser. Das teses e antíteses lançadas na mesa do bar, cabia a Ed Wilson, o alquimista da horda, estampar na página dois do jornal a síntese do calor da bora em forma de editorial.
“Por ser um grupo grande e heterogêneo, formado por pessoas de vários cursos, e não apenas de Jornalismo, havia um olhar multidisciplinar sobre as pautas do Tabefe”, explica Wal Oliveira. “Então, a visão desses estudantes somou com a nossa de futuros jornalistas e acabou transformando o Tabefe num jornal incomum”, define.

Exercícios poéticos nas páginas do Tabefe
Não faltaram erros e exaustivas discussões internas ao longo da curta jornada. Ed Wilson conta que certa vez o grupo recebeu uma severa advertência do dono da gráfica que imprimia o jornal. “Estávamos pregando cartazes do Tabefe sobre azulejos do Centro Histórico”, relembra. “Éramos tão jovens e empolgados que não dimensionávamos o prejuízo ao patrimônio cultural da cidade”.
Em janeiro de 1988, o Tabefe publicou um pequeno texto “denunciando o desejo” do então reitor José Maria Cabral Marques de construir um muro em volta do campus, separando-o do bairro Sá Viana, para evitar assaltos a estudantes. “Esta é a visão da administração da nossa universidade justamente quando mais se reivindica uma maior integração dela com a sociedade!”, exclamava o jornal. A nota deu origem a um movimento no campus de resistência à construção do muro, que só fora erguido no ano de 2009.

Militância estudantil também cometia versos
Outra denúncia do Tabefe teve como alvo o então presidente da Assembleia Legislativa do Maranhão, deputado estadual Ricardo Murad. Após uma “investigação” de estudantes no centro de processamento de dados do campus, o jornal noticiou que Murad fora “aluno fantasma” de Direito na UFMA durante certo tempo. De acordo com informações levantadas pelo diretório acadêmico do curso, Murad teria sido beneficiado com frequência integral nas disciplinas de Direito Previdenciário e Direito Agrário sem nunca ter posto os pés na universidade.
A cada edição, o Tabefe trazia algo novo, revelador, palpitante. Algumas entrevistas ajudaram a formar o pensamento de uma geração. Pelas páginas do Tabefe passaram Maria Aragão, Luís Carlos Prestes, Beth Bittencourt, José Carlos Sabóia e muitos outros. “As entrevistas, coletivamente elaboradas, especialmente as de Maria Aragão e Prestes, acenderam a chama da rebeldia da nossa geração e despertaram para a necessidade do estudo, do nosso conhecimento”, relata Eri Castro.
Nos meus arquivos tenho apenas duas edições do Tabefe, das quais participei diretamente, que trazem entrevistas com Luís Carlos Prestes e Agostinho Marques. As demais edições, infelizmente, não as localizei em minhas pesquisas. Transcrevo a seguir as duas entrevistas porque considero que ambas revelam as idiossincrasias de uma geração em conflito com diferentes modelos de luta: a revolução brandida pela história, alimentada dia após dia no ambiente político, e lucidamente compartilhada por alguém que a viveu em sua plenitude; e as incoerências naturais de uma geração em permanente tumulto interior, manifestadas pelas vias do prazer, do desejo e das paixões, e dissecadas com esmero por quem, em alguns momentos, se fazia passar por um de nós.
As duas entrevistas, vale frisar, refletem a temperatura política e a atmosfera universitária do período. Há, em cada pergunta, em cada resposta, relampejos datados, mas ainda vivos e necessários para a leitura de um passado não tão distante.
Após a entrevista com Agostinho Marques, no primeiro semestre de 1988, o Tabefe chegou ao fim, sem despedidas, por uma dispersão natural do grupo.
“Lembro especialmente de uma entrevista que fizemos com a militante comunista Maria Aragão, gravada em um aparelho tipo microssystem, enorme, do colega Mubarack”
Ed Wilson Araújo
“Agostinho Marques, quando sentenciou que ‘a vida própria é uma revolução, nós é que não somos revolucionários’, muitos de nós já estávamos casados e com filhos. Casamentos, alguns deles, que logo se evaporaram, assim como aqueles meninos adolescentes querendo mudar o mundo”
Eri Castro
“Foi uma experiência rica em vários aspectos: no fazer jornalístico e no aprendizado de gestão do próprio jornal”
Wal Oliveira
“A gente vivia o sonho e a dureza de fazer um jornal sem recursos”
Ed Wilson Araújo
(Fotos: arquivos pessoais de Eri Castro, Wal Oliveira e Moisés Matias)
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