segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Cutrim diz que tentativa de linchamento moral provocou rompimento com o grupo Sarney

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O deputado Raimundo Cutrim recebeu a reportagem do Jornal Pequeno, na manhã da última quinta-feira, para falar sobre os motivos que o levaram a romper com o grupo Sarney, ao qual demonstrou fidelidade ao longo de dois mandatos e como secretário de Segurança, num período em que o crime organizado aterrorizava o Maranhão e ninguém ousava enfrentá-lo.
cutrimNesta longa entrevista concedida ao jornalista Jorge Vieira, Cutrim relata a decepção com o grupo Sarney, atribui a uma ‘campanha sórdida’ contra a sua pessoa a tragédia que se abateu sobre a sua família, com o suicídio do seu filho, e garantiu sentir-se à vontade na oposição.
Jornal Pequeno – O que levou, de fato, o senhor a romper com o grupo Sarney?
Raimundo Cutrim – O motivo principal foi a campanha sórdida, criminosa, liderada pelo secretário Aluísio Mendes, que todos conheceram. Primeiro, foi uma campanha para me envolver no assassinato do jornalista Décio Sá e posteriormente a agiotagem, um absurdo. Então foi aquela campanha liderada pelo secretário e a TV Mirante, o próprio grupo, mas agora ficou esclarecido.
O caso Décio Sá foi todo armado pelo secretário de segurança, juntamente com três delegados. Inclusive, fiz uma representação à procuradora (Procuradora-Geral de Justiça), que ficou engavetada por muito tempo, até conseguirem trancar com habeas corpus. Se ele não têm nada, se ele diz que foi feito de maneira transparente, por que não quis a apuração? Então, como ele disse que eu estava envolvido, representei contra ele dando as testemunhas da armação, como foi feito, as conversas com tudo, dei tudo na mão. Aí, ele viu que ia apurar, que a procuradora não tinha mais como engavetar o que é uma realidade. Ela segurou até quando pode, pressionada. Mas ele sabia que ia ser esclarecido.
Sabemos que o Jonathan fez um acordo para que o primo dele, aquele que fugiu da Delegacia de Roubos e Furtos de Veículos, não fosse indiciado no inquérito. O nome dele foi tirado, e isso foi parte do acordo, e fizeram um compromisso com ele, também, de 30 a 60 dias, conseguirem com o juiz a soltura. E, evidentemente, o juiz não liberou e ele começou a falar isso com os outros presos, do acordo que não cumpriram, e terminou fugindo. Não sei como foi a fuga, mas fugiu. Não sei como foi a fuga dele, tendo em vista que ele tentou uma vez e ficou na mesma sala, e ele conversava com os presos. Vários presos sabem lá que inclusive são arrolados nessa representação, de como foi feito o acordo. Tanto é que a arma que a policia encontrou no morro não foi a policia que descobriu; aquilo foi um preso que falou com o irmão do jornalista, um outro preso que tinha conversado com o Jonathan, que foram onde o Jonathan e a polícia não descobriu.
Foi uma conversa do Jonathan com outro preso, e esse preso contou, um amigo do jornalista, um irmão, e publicou. Depois de 15 ou 20 dias que publicou no jornal Itaqui Bacanga, ai foi que encontraram. O próprio Jonathan disse que, no final, foi feito um acordo para que pudesse envolver meu nome. Então eles foram no Capitão, querendo fazer acordo para que pudesse envolver meu nome. Então, é um fato realmente hediondo, criminoso. Esse secretário não tem credibilidade para estar à frente do Sistema de Segurança. Mas ele faz tudo isso e permanece? E a gente fica preocupada com as outras pessoas. Se ele fez isso com o Cutrim, um delegado da Polícia Federal há muitos anos, Secretário de Segurança, deputado, imagina com outras pessoas, o que ele não é capaz de fazer!
JP – A morte de Décio Sá significa o retorno do crime organizado ao Maranhão?
RC – O Maranhão está entregue à própria sorte, isso é uma realidade. O crime antigamente era centrado na Grande São Luís. Hoje está no estado todo. Só na capital, pra se ter uma ideia, de janeiro pra cá, a media é 75, 80, 90 homicídios mês; é muito alto. O índice de criminalidade cada vez aumentando em todas as modalidades. E não é só no homicídio; é no furto de veículo, assalto, explosão de caixa eletrônico. Todas as modalidades de crime tiveram o índice triplicando. Proporcionalmente, o índice de criminalidade no Maranhão é 12 vezes maior que São Paulo.
JP – A sua saída do grupo antecedeu alguma conversa com a cúpula do governo?
RC – Minha decisão foi pensada. Eu não reuni com ninguém, nunca ninguém me chamou e eu nunca procurei ninguém. Não procurei nem fui procurado. Há mais de um ano é aquela campanha criminosa em cima de mim. Eu digo que agora não tem mais o que inventar. A única coisa que falta é me matarem. De tudo já fizeram para querer me desmoralizar, mas o Cutrim tem um trabalho; não só no Maranhão, mas em todo o Brasil. O Cutrim é conhecido. Por onde eu passei sempre busquei representar bem o país e o nosso estado. Então agora eu não sei o que é que vem, porque já veio de tudo. Eu tinha que procurar um horizonte; então, o caminho da mudança hoje é o Flavio Dino, que é o caminho da esperança, da renovação. E eu estou indo em busca do objetivo do povo do estado. Não rompi aleatoriamente, não saí para resolver interesse pessoal. Reuni com as lideranças todas, tanto da capital como do interior, dos 211 municípios que eu tive voto. Eu liguei para todas essas lideranças, visitei. Aqui em São Luís, onde eu tenho um numero maior de votos, reuni com mais de 200 lideranças que me acompanham durante todos esses anos, e que disseram: ‘vamos acompanhar o Flavio”. Como eu disse, vamos acompanhar a senhora idosa lá de Imperatriz, que eu perguntei lá, em uma reunião: “dona Maria, em quem vamos votar para governador”, e ela respondeu: ‘doutor, eu estou recomendando para que votem naquele moço que foi juiz’. Ela nem sabia o nome dele, só sabia a historia. Então, nós estamos acompanhando a vontade do povo, da mudança, da esperança, dos sonhos. E nisso nós vamos trabalhar para que a gente possa fazer uma bancada boa de deputado estadual, de deputado federal e eleger o senador, bem como eleger o governador, que é o mais importante. Então, o Cutrim está na bancada do PCdoB para somar, não para dividir. Votos, todos têm voto, cada um tem a sua base. Vamos trabalhar para que a gente possa fazer uma base forte e grande e ter representatividade.
JP – O senhor chegou a propor uma CPI da Agiotagem para que fossem esclarecidas as acusações. Por que que não foi pra frente?
RC – Propus a CPI porque estavam dizendo que eu era agiota. Então vamos investigar o Cutrim e os outros agiotas que tem na Assembleia; vamos identificar quem são. E no estado? Vamos saber quem são. Evidentemente tivemos 13 assinaturas, mas por questão de conveniência, ela não saiu, faltando uma assinatura. Não julgo os colegas. Sei que eu queria, busquei de todas as maneiras para que pudesse acontecer. Cada um tem uma justificativa, e eu respeito a posição de cada um, e assim não pudemos instalar a CPI para identificar os agiotas e esclarecer tudo. Nunca pedi dinheiro emprestado para ninguém. Eu já pedi pra mim, eu peço muito, mas não a juros. E nem emprestei porque eu não tenho dinheiro para emprestar a juros. Eu nunca tive ligação com agiota, nem de amizade próxima. Então, quem empresta é problema deles, eu não tenho nada a ver com isso. Então o que a gente sabe de agiota é de ouvir dizer.
JP – Qual é a sua opinião sobre as investigações sobre a morte de Décio Sá?
RC – É muito complexo. Como eles tentaram me envolver, eu prefiro acompanhar. Agora só lhe digo o seguinte: o que foi feito comigo eu não sei se fizeram com os outros, mas essa investigação ela carece de credibilidade. O que fizeram comigo foi um crime hediondo, foi uma tentativa de assassinato moral. Eu não sei se fizeram com essas pessoas que estão ou dizem envolvidas.
JP – O senhor, quando foi secretário de segurança, em 97, ficou conhecido no Maranhão ao conseguiu debelar a marginalidade. O que mudou de lá pra cá?
RC – Naquela época eu tive apoio do governo, do Ministério Publico, do poder legislativo, judiciário e do Sistema de Segurança Pública, que fez zerar o roubo a carga. Naquela época era difícil mexer naquilo. Ninguém ousava falar no assunto, mas aquele paradigma foi quebrado. Até radinho de pilha faltou em São Luís porque todo mundo queria ouvir as notícias, as audiências daqui e de Brasília. Então, a população abraçou porque estava se vendo livre daquela pressão da vida toda, da criminalidade. No Tijupá Queimado, todo dia tinha três ou quatro mortos. Entre 2000 e 2001, no entanto, o Maranhão era o estado menos violento do Brasil. Em 2005, era o terceiro menos violento do Brasil. Então essa gestão atual foi a pior gestão dos últimos 50 anos que se tem noticia no Maranhão.
O sistema está fragilizado pela falta de credibilidade. Em segurança nós precisamos ver primeiro, antes de qualquer investimento, a credibilidade de quem está na frente do sistema. Lembro que fazia um trabalho no estado Roraima e a imprensa me batia muito, entre 85 e 87, ai a imprensa veio, reuniu e disse que eu estava perseguindo fulano. Eu digo: olha ele é bandido por isso e por isso. Tem três filhos com a filha. Preciso dizer mais alguma coisa? A mesma coisa é com esse rapaz (Aluísio Mendes) com a mente doentia que ele tem, o que ele conseguiu armar para querer resolver um problema pessoal ou de gestão. Eu não tenho culpa porque ele não decolou e não sabe administrar. O secretário é agente da Policia Federal. O Maranhão é o único estado onde um soldado comanda um coronel. É o oposto de todos os estados, mas só tem essas coisas no Maranhão. Tudo o que não presta vem pra cá. Então ele assumiu como agente da Policia Federal, entre 90 e 91, e foi trabalhar com o presidente (José Sarney) com 6 meses que assumiu. Ele não tem um dia de serviço prestado na PF, ele nunca suou a camisa na PF. O que ele fez mesmo foi trair a policia quando a instituição precisava dele. De janeiro pra cá, a criminalidade tem aumentado. No Maranhão nós vivemos uma guerra civil, estado de calamidade pública. Esta é a situação da segurança.
JP – Como o senhor se sente agora na oposição?
RC – Eu procuro ser muito leal e ético por onde passo. Eu trabalhei com o governador Zé Reinaldo, e ele foi uma pessoa correta na administração pública. Nunca interferiu no Sistema de Segurança Publica. Fiquei na oposição a ele porque eu fiquei de um lado político e ele de outro, mas a amizade continuou. O assunto é exclusivamente com o sistema de segurança e o meu grupo político me abandonou, mesmo sabendo que foi armação, sem dizer uma só palavra. O Maranhão todo sabe que foi armação e continuaram a fazer vistas grossas para acabar com a minha credibilidade. O negócio foi tão criminoso que eu perdi meu filho no dia 1 de abril. Quinze dias depois, estamparam que eu estava envolvido com agiotagem. Eles achavam que tinham me matado e dariam só o tiro de misericórdia. Disseram que a juíza encaminhou para o tribunal farta documentação do envolvimento do deputado Cutrim com agiotagem. Mas, como? Busquei saber o que a juíza encaminhou. Mandou a cópia do inquérito de Décio Sá. “Encaminho a vossa excelência na forma do artigo tal da constituição estadual e federal para conhecimento e providencias”, e só. Encaminharam a cópia do inquérito, só a copia do inquérito e nenhum outro documento. Então tentaram me desmoralizar a todo custo. Acredito que é problema de gestão. Mas passado é passado, não podemos guardar mágoa. Saio de cabeça erguida, sem jogar pedra em ninguém. Não estou cuspindo no prato que comi. A governadora continua minha amiga. O presidente Sarney eu tenho um carinho por ele. Mas hoje eu estou em outro grupo político. Vou me filiar no sábado, dia 14, a partir das 15 horas, e convido os amigos para testemunhar esse momento histórico na minha vida. E vou lutar para eleger deputados estaduais, federais, senador, e o objetivo principal é eleger o Flávio Dino governador, que no momento é o sonho do povo, da mudança. E eu vou seguir o povo e trabalhar para que ele possa ser eleito e possa fazer um grande trabalho em prol do povo do Maranhão.
JP – O senhor disse que tomou a decisão após ouvir uma senhora experiente que o aconselhou a votar no Flávio Dino. O senhor tem detectado esse sentimento de mudança?
RC – Olha, eu já tinha essa impressão há muito tempo. Várias pessoas me diziam quem votariam em mim se eu apoiasse Flávio Dino. Quando eu comecei fazer reuniões com as lideranças, com 10, 15 pessoas, eles me diziam que eu tinha que ir com o doutor Flávio. Em São Luís eu não tive uma liderança contrária a isso. No interior essa vontade foi quase unanimidade. Depois que eu anunciei o rompimento, tenho recebido telefonemas de apoio do Maranhão inteiro, de pessoas que eu nunca nem vi. Então, nós vamos para a vontade do povo que é a mudança para fazer um trabalho com transparência, profissionalismo e dedicação.
JP – O senhor acredita que a mudança é possível em 2014?
RC – Eu não acredito; tenho certeza, assim como tenho certeza da minha vitória, Tenho certeza da eleição de Flávio Dino para governador do Maranhão.
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