sábado, 1 de setembro de 2018

Em um Maranhão renovado, Dino tenta confirmar fim da era Sarney

Enquanto estado surge na vanguarda em políticas educacionais e de inclusão, oligarquia local volta a apostar em Roseana
O grupo político mais antigo em atividade no Brasil confronta-se mais uma vez com o governador Flávio Dino no Maranhão. Após o líder do PCdoB derrotar o grupo político da família Sarney nas eleições de 2014, colocando fim à supremacia de meio século, o estado que costumava ocupar as manchetes nacionais pelas crises passou a ser exemplo para o Brasil em áreas como educação, infraestrutura e na atenção a pessoas com necessidades especiais. "Dino faz um governo atuante, aceito pela população que defende sua reeleição. Ouço das pessoas que ele está realizando a maioria das promessas. Agora mesmo nossa avenida principal está em reforma e prometeram calçar a rua onde moro até o final do ano", conta Marilene Costa, moradora da zona rural de São Luís, a trinta minutos do centro.
A dona de casa destaca ainda a democratização do acesso à internet através do Maranet, que em sua primeira etapa acumula 800 mil acessos e planeja atingir 61 cidades, das 217 do estado.
A busca de Dino pela reeleição baseia-se no fortalecimento do Estado como agente de transformação social junto da participação popular em discussões sobre o orçamento participativo. A partir dessa visão, o gestor aliou a busca por experiências bem sucedidas junto ao fortalecimento do funcionalismo para desenvolver políticas voltadas às necessidades mais urgentes.
O investimento em pessoal fez com que o Maranhão fosse considerado o paraíso dos concursos, em comparação aos outros estados que cortavam vagas na máquina pública.
"Acabou o tempo do Maranhão ser governado por uma ou duas famílias, agora o estado é governado por todas as famílias. Eu escolhi ser político porque gosto de ver o povo mobilizado, isso me emociona. Tenho muito orgulho de ser um servidor público sério", definiu Flávio Dino, no lançamento da campanha que reuniu dez mil pessoas, incluindo os candidatos ao senado da chapa e Weverton Rocha (PDT ) e Eliziane Gama (PPS).
A ênfase ao sistema educacional com o Escola Digna resultou na reforma de 800 unidades,  qualificação a 50 mil professores e no pagamento do salário base mais alto do Brasil, R$ 5.750, além de treze mil matrículas em regime integral.
"Avançamos não somente financeiramente, mas nas condições de trabalho e no diálogo da entidade sindical com o governo, que já anunciou um novo edital para docentes. Nas gestões anteriores tudo ficava na conversa ou não éramos nem recebidos", compara Raimundo Oliveira, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Maranhão (Sinproesemma),com 33 mil sindicalizados.
No ensino superior, a Universidade Federal do Maranhão é pioneira no curso de cultura estudos africanos e  afrobrasileiros, sintonizada com a formação étnica da população. A licenciatura surgiu respaldada pela lei federal sancionada pelo ex-presidente Lula que tornou obrigatória a matéria para os alunos do fundamental e médio.
"Nesses tempos sombrios de perda de direitos e diminuição de políticas afirmativas somos uma resistência. Este ano levamos uma comitiva de cem alunos para a África, algo inédito. O Maranhão é o estado com maior população negra no Brasil e aqui o extermínio da juventude negra impressiona", informa a professora Pollyanna Muniz.
A terra que se orgulha por preservar o português mais belo do país exclui 840 mil conterrâneos da possibilidade da leitura e escrita ao manter aproximadamente 17% da população no analfabetismo . O problema crônico teve um símbolo de transformação com os vinte mil maranhenses que se somaram aos três milhões e meio de latinoamericanos contemplados pelo programa "Sim eu posso", método cubano aplicado em conjunto com o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), sobretudo aos idosos, maioria dos iletrados.
No segmento da saúde, o número de hospitais pulou de dois para dez e a cooperação foi novamente um trunfo com destaque para a presença dos médicos cubanos que junto aos brasileiros reforçaram a atenção básica com pico de 700 profissionais. Outra novidade, a transformação da casa de veraneio do governador em um local de assistência a crianças com carências de neurodesenvolvimento permite o atendimento semanal de 15 famílias na Casa de Apoio Ninar. Em paralelo, o projeto Travessia levou transporte gratuito a 1.500  portadores de deficiência em mais de 35 mil viagens desde 2006, segundo dados oficiais.
A superação de barreiras chegou também aos gramados. O Maranhão conquistou A Copa Nordeste, ou Lampions League, com o título do Sampaio Correa - o triunfo inédito veio depois de o clube ser excluído do campeonato em anos anteriores, motivo da festa sem fim promovida pelos torcedores da Bolívia Querida, apelido do time em razão de seu uniforme.
Dos chineses aos americanos, aqui é Jamaica
Se no campo social a integração foi com os cubanos, no terreno energético e econômico o executivo busca parcerias com a iniciativa privada da China para retomar a obra da refinaria de Bacabeira, projetada para ser a maior da América Latina antes de ter sua construção interrompida pela Petrobras devido à troca de comando na estatal. A negociação envolve o valor de dez bilhões de dólares, mas a capacidade de processar 300 mil barris de petróleo por dia anima os investidores asiáticos a longo prazo.
A geração de energia, aliás, preocupa os consumidores cotidianamente. O preço da tarifa praticado pela Companhia Energética do Maranhão (Cemar) é o segundo mais elevado do país afetando gravemente as casas em que a renda per capita familiar é inferior ou equivalente de 597 reais, média do estado e a menor nacional.
O governo contraargumenta que essa fatia da população paga valores inferiores ao fixado pela Agência Nacional de Energia Elétrica e cita baixa de impostos na concessão gratuita de carteiras de motorista e nos incentivos à agricultura familiar para demonstrar a postura tributária em relação aos mais pobres.
Os recursos naturais abundantes se estendem pela região mineradora de Godofredo Viana, abundante em ouro, ao longo do pólo agrícola de Balsas e na atração de turistas aos lençóis maranhenses. As possibilidades das terras e os constantes confrontos reforçam a necessidade de ações de proteção a comunidades quilombolas e etnias indígenas.

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