Roberto Amaral: O réquiem de Moro e as esperanças republicanas
O relevante é a comprovação material de um crime continuado, e até aqui impune (e assim até quando?). Crime, aliás, reconhecido, ou confessado, pois nem o ex-juiz ainda ministro nem o ainda procurador negam os diálogos mafiosos, limitando-se ambos, em declarações articuladas, a condenar os meios de sua extração. Estes, porém, tornam-se secundários se abraçamos tese antiga do juiz: acusado de levar à execração pública políticos que tiveram seus nomes mencionados em delações premiadas por ele ilegalmente vazadas, alegou que “o interesse público sobrepunha-se ao direito à privacidade”.
Não sabemos, ainda (quando saberemos?) onde estão os arquitetos e regentes dessa farsa até aqui vitoriosa. Seus peões porém, já podem ser apontados, e dentre eles se destacam o hoje ministro da Justiça e o ainda procurador chefe da operação Lava Jato. Ambos – os fatos estão expostos com a contundência da luz do dia -- , prevaricaram do primeiro ao último ato, traindo o dever constitucional da imparcialidade. Nesse processo (mais precisamente: nesse conluio), que desonra a magistratura brasileira, o ex-juiz mandou às favas a imprescindível simetria entre acusação e defesa. Em gritante e comprovada desvantagem para o acusado, dirigiu e orientou investigações, coordenou procuradores, orientou diligências, sugeriu mudanças na ordem das operações, forneceu pistas ao procurador comandante da inquisição, ditou denúncias, corrigiu outras e, por fim, prolatou a sentença que já vinha redigida desde quando escolhera o acusado.
Ao fim e ao cabo o ex-sociólogo pleiteia, como pleiteou lá atrás o senador Romero Jucá, um ‘freio de arrumação’. O antigo senador de Roraima pretendia conter as apurações nos limites então alcançados, isto é, dobrando a esquina quando chegasse aos seus calcanhares; o ex-presidente pretende que não se mexa no terreno minado e fique tudo como está, ‘para que o Brasil não perca o bonde da história”, ou seja, Lula permaneça na cadeia e não se apurem os ilícitos da República de Curitiba e não se capine mata desconhecida, e “estamos conversados”. Ou seja, paremos a novela no capítulo de hoje e vamos todos para casa cuidar de nossas vidas, alguns de suas vidinhas.
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