quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Porque uma Ilha é muito maior do que um Castelo


Por Lígia Teixeira*

Em meio às festividades de 400 anos de São Luís, gostaria de parar um instante e convidar você, caro leitor, para um momento de reflexão. Sem queixas, reclamações vazias ou a velha e batida lamúria a respeito do suposto estágio de decadência de nossa cidade.

Este é um desabafo. Desabafo sincero de quem imaginou que este oito de setembro seria MUITO diferente.
Há quatro anos votei em João Castelo para prefeito de São Luís.

Votei nele com a convicção de que era o correto a se fazer, apesar da biografia de João Castelo.

E quem era João Castelo há quatro anos, quando nós ludovicenses o elegemos prefeito de São Luís?
Era um homem contraditório.

Tinha sido governador biônico do Estado pelas mãos do Regime Militar, já em decadência no final dos anos de 1970. Naquele tempo, Castelo era um jovem ambicioso e tido como sucessor do Senador Sarney na política, mas era também a face de um regime político nefasto que colocara o Brasil na triste condição de país dominado por um regime autoritário.

Como governador, sabiamente se aproveitou do chamado “Milagre Econômico Brasileiro”, para tornar-se o chefe do executivo estadual responsável por colocar São Luís no mapa das capitais brasileiras de modo decente.

João Castelo fez um conjunto de obras monumental jamais visto antes. Foram conjuntos habitacionais enormes (Cidade Operária, Maiobão, Ipase); obras de infraestrutura caríssimas e fundamentais até hoje (Ponte Bandeira Tribuzi, Sistema Italuís); Um hospital para os servidores públicos do porte dos maiores do Brasil (IPEM) e dezenas de outros empreendimentos que, definitivamente, mudaram a face da capital Maranhense para sempre. Sem contar os milhares de empregos criados por ele.

Com João Castelo, São Luís modernizou-se triunfantemente.

Mas, a boa gestão, fez crescer os olhos do ainda jovem político.

Castelo achou que poderia ser maior do que seu criador. Rompeu com Sarney, raspou o bigode, virou senador e alguns anos depois, começou a montar sua própria oligarquia. Elegeu a esposa prefeita.

“Gardênia, nome de Flor, vem tratar São Luís com amor.”

Uma senhora doce, afável, fala mansa e gestos firmes.

Queimaram o Palácio de Laravardière com Dona Gardênia dentro dele, cercada por centenas de carteiras de trabalho dos demissionários da prefeitura, contratados no apagar das luzes pelo prefeito anterior Mauro Fecury, como vingança do grupo Sarney.

Com Gardênia na prefeitura, São Luís e Castelo foram do céu ao inferno em pouquíssimo tempo.
A administração desastrosa da prefeita com nome de flor, condenou a cidade de volta ao marasmo que Castelo conseguira romper quando governador. Ele também mudou. De governador trabalhador e ousado, passou a ser – aos olhos do povo – o líder biônico que batia em estudantes.

Eleito deputado federal sempre como campeão de votos graças à herança afetiva que deixara como governador; derrotado sabe-se lá quantas vezes em sucessivas tentativas de ser prefeito e carimbado com a pecha do atraso político, em 2008, nós ludovicenses, tínhamos pouquíssimas razões para eleger João Castelo prefeito.

Mas Castelo aproveitou-se sagazmente do momento histórico.

Naquele ano de 2008, a capital ainda comemorava orgulhosa a derrota do grupo Sarney e a ascensão ao governo, do maior líder político construído na história da capital: Jackson Lago.

Castelo aproveitou-se para fazer um pacto com São Luís em nome da mudança histórica. Mas a cidade desconfiava dele.

Com as chamas do Palácio Laravadière ainda queimando na memória, nós ludovicenses tínhamos medo de João Castelo. Para piorar, o PDT de Jackson quando adversário de Castelo, conseguira pregar nele a imagem de perseguidor dos estudantes; de capacho do regime militar que não queria a democracia e se insurgira com violência contra os jovens progressistas que queriam o fim da censura e das injustiças sociais.

Em 2008, Castelo jurou, prometeu e aproveitou-se do medo maior - que era a volta do Sarney – para convencer a ilha rebelde a votar nele com a promessa de que eleito, seria novamente para São Luís o homem das grandes obras que no passado transformaram a cidade.

Castelo fez mais, convenceu também a maioria dos ludovicenses de que era ele, apesar de decrépito e desgastado pelas idas e vindas entre oposição e governo, o signo da mudança iniciado com Jackson.

Castelo nos convenceu de que, apesar de tudo era ele o transformador e não seu principal adversário da época, um jovem líder oriundo do Poder Judiciário, arejado, campeão de votos e com enorme prestígio em Brasília, que tentava eleger-se prefeito com o propósito sincero de varrer do mapa para sempre o Sarneysimo e seus males. Seu nome: Flavio Dino.

Apoiado pela máquina do estado, Castelo plantou nos corações e mentes de jovens e velhos, que deveríamos esquecer Dino e apostar nele para dar a São Luís o status de capital digna do século XXI.

João Castelo nos fez sonhar com a volta de obras monumentais como o Castelão. Durante aquela campanha de 2008 com o “Agora vai, São Luís merece mais”, elevou nossa autoestima tão alquebrantada pelos anos de uma administração medíocre de Tadeu Palácio, que atrasara a cidade ao ponto de fazer parecer que recolhimento de lixo e merenda escolar eram grandes feitos.

Uma vez eleito, João Castelo traiu São Luís duas vezes.

A primeira e covarde traição veio ao cruzar os braços diante da queda do governador Jackson Lago.

A história se repetia.

À exemplo de Dona Gardênia, sozinha diante de um Palácio Laravardière em chamas (graças à fúria do Sarneysismo), Jackson Lago agonizou no Palácio dos Leões sem que o prefeito João Castelo levantasse um dedo para ampará-lo naquele momento em que o governador teve seu mandato democrático retirado na marra pelo mesmo velho Sarney, algoz de Dona Gardênia.

A segunda e ainda mais covarde traição veio não apenas porque Castelo, no fim das contas, se revelou um prefeito medíocre.

Tudo bem que por ser um prefeito do PSDB sem prestígio junto ao governo federal e sem trânsito junto ao governo estadual, não podia-se cobrar dele o mesmo desempenho da época em que fora governador.

Mas Castelo, sem o menor constrangimento, abandonou São Luís à mercê dos caprichos (muitas vezes vulgares) de sua filha, a deputada Gardênia Castelo (PSDB) e de uma turma de rapineiros que se apropriaram dos cofres públicos municipais sob o pretexto de manter uma base de apoio.

Castelo virou às costas para os problemas mais básicos da capital e foi incapaz de solucionar problemas simples como manter a ordem nos terminais de integração.

Sabe-se se lá por que, Castelo foi incapaz até mesmo de fazer uma campanha institucional decente, que ao menos mantivesse a esperança de que ele conseguiria transpor a perseguição do governo do Estado e das empreiteiras para construir o hospital de urgência. Ao contrário, mandou apenas seus aliados passarem quatro anos num chororô sem fim que escondia na verdade, a paralisia e o desinteresse do prefeito pela cidade.

Castelo impôs à São Luís uma baixa autoestima jamais vista diante de uma cidade que parecia apodrecer com tantos buracos se multiplicando pelas vias.

Foi o pior prefeito desses longos 400 anos de história de São Luís. Pior até do que sua esposa. Gardênia protagonizou a destruição física da sede do poder municipal. Castelo liderou a destruição de um sentimento coletivo de orgulho de ser ludovicense.

João Castelo TRAIU quatro gerações de nascidos em São Luís.

TRAIU a geração de meus pais. Milhares de pessoas acima dos 50 anos que viram as transformações que ele fizera na capital quando governador e que passaram mais de duas décadas votando nele, na esperança de rever em ação o político trabalhador e tocador de obras do passado.

TRAIU a minha geração, milhares de jovens que cresceram ouvindo falar da violência que fora a greve da meia passagem e que, apesar de nutrir o sentimento progressista de mudança, cujo coração e a alma mandavam votar em Flavio Dino, arriscou-se a apostar nele para dar-lhe uma nova oportunidade de se redimir.

TRAIU uma geração ainda mais jovem do que a minha que, desencantada com a política, queria apenas ver uma cidade melhor às vésperas do quarto centenário.

Por fim, Castelo TRAIU sua própria geração. Neste momento, poucos são os ludovicenses que não estejam convictos da decrepitude da classe política Maranhense. José Sarney, Cafeteira, Roseana Sarney, Lobão, José Reinaldo, João Alberto e outros, tilintam em nossas cabeças apenas como velhos caquéticos que, apesar da decrepitude, não largam o osso,assim como Castelo.

Com um misto de raiva e decepção comigo mesma, por ter – apesar da minha formação – caído no embuste TRAIDOR chamado João Castelo, faço um apelo a você eleitor de São Luís, que vê a cidade completar 400 anos hoje sem que tenhamos algo relevante para comemorar.

Não importa se você é eleitor do Edivaldo, da Eliziane, do Washington, do Tadeu, do Haroldo, do Marcos ou do Edinaldo. Respire fundo e saia de casa no dia 7 de outubro com uma certeza no coração e que dessa vez seja pra valer:

JOÃO CASTELO NUNCA MAIS!

João Castelo passará, São Luís não. Porque a Ilha é muito maior do que ele.
*Lígia Teixeira é Mestranda em Comunicação e Cultura na Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ), Historiadora graduada na Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Ludovicense com muito orgulho.

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