terça-feira, 16 de outubro de 2018

IFMA passa a ser a referência no ensino do francês no estado

                     
A instituição passa a ser centro examinador, recebe leitores franceses e institucionaliza os centros de estudos e pesquisas
Todo bom maranhense já tentou, nem que seja por um triz, falar francês durante as festas juninas. En avant tous, en arrière, changer/changez e autre fois transformam-se em alavantú, anarriê, changê e otrefoá, relembrando a origem francesa da quadrille (lá pelos idos do século XVIII) que chegaria ao Brasil em 1820.
O culto às origens francesas no Maranhão data do final do século XIX. Segundo a pesquisadora Maria de Lourdes Lacroix, em seu livro “A Fundação francesa de São Luís e seus mitos”, na época houve um “reforço à ideia de singularidade da Província”. As “elites decadentistas” utilizaram a “passagem francesa pelas terras maranhenses” como o “diferenciador de uma identidade singular”, afirma Lacroix.
São Luís não virou Paris, a contragosto de Gerude e Jorge Tadeu, mas o “imaginário coletivo” da áurea de única capital brasileira fundada por franceses tem sido alimentada inclusive no exterior. O guia de viagens Routard, lançado em 1970 e responsável por 25% das vendas de guias de viagem no berço do iluminismo, apresenta São Luís como belle ville coloniale. “Capitale du Maranhão, São Luis, fondée par les Français en 1612, semble prendre le temps de vivre, avec une indolence toute provinciale”, registra.
O certo é que o idioma francês é o mais falado entre os turistas em São Luís. “É muito comum encontrar entre junho e agosto turistas francófonos no Centro Histórico”, revela o professor Vilton Soares, doutorando em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem ( PUC/ SP) e professor de francês no IFMA Campus Centro Histórico. Em sua pesquisa de mestrado em Turismo e Hotelaria, Vilton constatou que São Luís é a cidade brasileira que recebe mais turistas francófonos como destino direto. “Eles são os turistas com o maior tempo de permanência na cidade”, revelou o professor.
A motivação principal desses turistas é conhecer a capital, que por três anos, foi um sonho utópico da France équinoxiale, onde aportaram três navios que zarparam de Cancale, e que recebeu Charles Des Vaux, Claude d’Abbeville, Yves d’Évreux e La Ravardière, construtores dos Fortes de Caillou e Saint-Louis, onde hoje se assenta o Palácio do Leões, sede do governo do estado.
 
Leitores franceses no IFMA
A professora Aline Tartus (esquerda) discute plano de ações com a coordenadora de Mobilidade e Idiomas Tatiana Abreu, da Diretoria de Relações Internacionais do IFMA
Adeline Artus, 33, natural de Arras – Tourcoing, ao norte da França, chegou a São Luís logo após as comemorações dos seus 406 de fundação por seus antepassados.  Estudante do mestrado em Línguas Estrangeiras na Université d’Artois e casada com maranhense (que reside do outro lado do Atlântico), vai desfrutar, por 9 meses, da Ilha do Amor, ministrando aulas no IFMA para a comunidade e servidores da instituição, por intermédio do Programa de Leitores da Embaixada da França.
 
O IFMA foi um dos dez institutos federais contemplados pelo programa que promove o estágio de mestrandos em Letras em campi dos institutos, a fim de desenvolverem atividades de divulgação e aprendizado do francês. Segundo Virgínia Freire, diretora de Relações Internacionais do IFMA, o programa está gerando bons frutos e já começa a ser adotado também pelas universidades federais.
 
A professora visitante Adeline Artus segue os passos de Maude Vasquez, da Universidade de Rennes, que desenvolveu ações por 18 meses nos campi Centro Histórico e Monte Castelo. Entre 2016 e 2017, a leitora colaborou no desenvolvimento de projeto para estabelecer o Centro de Idiomas do IFMA e no seminário que debateu o processo de internacionalização do Instituto. “Os resultados foram extremamente positivos, com uma repercussão imensa, na promoção da língua francesa no campus de forma impactante”, avaliou Vilton Soares.
Durante a sua permanência no IFMA, Adeline irá atuar em pesquisas no âmbito da teoria do ensino do francês, organização e participação de eventos culturais como a Semana de Francofonia e o projeto Diálogos Brasil-África, que busca ampliar o conhecimento dos estudantes sobre países africanos lusófonos (que falam português) e francófonos (que falam francês), por meio de rodas de diálogo, da literatura, das artes visuais e da música.
No dia 17 de setembro, Adeline Artus já estava em sala de aula no Campus Centro Histórico.  “Estou gostando muito”, afirmou Adeline que trabalha com três turmas. “Os iniciantes estão muito motivados e a sala é bem eclética”, complementou. Ela também trabalha com um grupo mais avançado, em que prepara os estudantes para os exames exigidos pelo Centro Certificador do Idioma Francês.
“Estudar francês era uma vontade antiga, mas que eu tinha deixado de lado”, explicou a jornalista Andreia Lima, da Assessoria de Comunicação do IFMA. “Quando soube do curso que o IFMA iria oferecer, imaginei que esse seria o momento ideal”, informa Andreia, aluna de Adeline na turma iniciante. “É bem interessante ter aula com um nativo; as aulas são dinâmicas e tem sido muito enriquecedor”, finalizou.
 
IFMA como Centro Certificador
Há uma expectativa de que  no próximo ano o IFMA se torne um Centro de Certificação DELF/DALF. “Com o fechamento da Aliança Francesa em São Luís, os estudantes estavam encontrando muitas dificuldades em deslocar-se às capitais vizinhas”, explica Vilton. A Embaixada francesa está avaliando possibilidade. “O IFMA já é um Centre de Passation e para ser Centre d’Examen necessitamos de uma infraestrutura permanente que buscamos viabilizar”, informou Vilton.
 
Com isso, o IFMA passa a ser uma referência para o ensino do idioma francês no Maranhão.  “Ser centro certificador representa um estreito laço de confiança entre o IFMA e a Embaixada da França, pois em todo o país o centro certificador é a Aliança Francesa”, explicou.
Vilton Soares no III Encontro de Coordenadores do Programa Leitores Franceses, em agosto, em São Paulo
A aprovação nesses exames é necessária aos estudantes que pretendem realizar estudos em países francófonos. O professor Vilton Soares foi certificado, no início deste ano, juntamente com Dulce Borges, professora do Campus São José de Ribamar, como avaliador e examinador do Diplôme d’Études en Langue Française (DELF) –  diploma concedido pelo Ministério da Educação que certifica as competências no idioma francês. A primeira aplicação do teste, pelo IFMA, ocorrerá nos dias 8 e 9 de novembro.
“O IFMA passa a colaborar com todos alunos do ensino superior do Maranhão de forma a viabilizar a mobilidade acadêmica internacional”, celebrou Vilton. “É um desafio muito grande, mas ao mesmo tempo isso muda completamente a nossa metodologia de ensino de línguas”, complementou.
“Esperamos que a abertura do nosso centro certificador se viabilize e que seja um grande ato, com a presença de Catherine Pétillon, adida de Cooperação Educativa da Embaixada da França em Brasília, responsável pelos centros de línguas do país”, informou o professor.
 
A força do francês no IFMA
O IFMA figura entre as principais instituições do Brasil, da rede federal, em que o francês tem um papel fundamental na promoção de construção e conhecimento como língua de mobilidade. “Isso vai além dos nossos laços históricos com a fundação francesa de São Luís”, explica Vilton.
A oferta do francês, hoje, no IFMA, ocorre em São José de Ribamar, Centro Histórico, desde 2010, com o projeto Casa das Línguas. Também há professores de francês em Timon e Barreirinhas. Nos cursos de Guia e Técnico de Turismo do Campus Centro Histórico, o ensino do francês foi incluído na matriz curricular, juntamente com o inglês e espanhol.
“O francês continua sendo um idioma de grande importância no mundo, não só pela mobilidade acadêmica internacional, mas também em áreas específicas como aviação, química, biologia, das letras e humanidades”, informa o professor. “É também um veículo de cultura, além de ser uma porta de entrada no continente africano”, complementa. “Em quase metade do território africano, temos países francófonos, com os quais o Brasil poderia estreitar melhor as relações, além da Guiana Francesa, Guadalupe e Martinica”, finaliza.
Adeline Artus tem argumentos bem similares. “Estudar francês é importante pois o Brasil fica geograficamente perto da Guiana Francesa, Canadá e do continente africano”, pondera. Além disso, segundo dados da embaixada francesa, cerca de 900 subsidiárias de empresas do país europeu estão localizadas no Brasil, o comércio entre os dois países totalizou 7,1 bilhões de euros no ano passado e o Brasil, na América Latina, é o principal mercado e parceiro para cooperação científica no continente. “As pessoas devem aproveitar essa oportunidade de aprender francês para estudar na França e desenvolver as possibilidades de trabalhar fora, bem como nas empresas francesas instaladas no Brasil”, afirmou.
 
Plurilinguismo
De acordo com Vilton Soares, o mundo inteiro hoje passa por uma perspectiva plurilíngue no ensino de línguas. “A oferta no IFMA precisa ser plural e deixar que a comunidade acadêmica escolha qual idioma vai cursar, por mais que a lei não obrigue o ensino do francês, do espanhol, do italiano ou do alemão”, ponderou.
Nessa perspectiva, a diretoria de Relações Internacionais institucionalizou, no final do ano passado, o projeto do Centro de Estudos, Pesquisa e Extensão da Linguagem (CEPELI). Ele tem a missão de fomentar a criação de espaços de ensino e aprendizagem de línguas, de pesquisa, formação profissional e de extensão em todos os campi do IFMA. A criação do CEPELI é resultado de um processo de discussão coletiva do Fórum de Relações Internacionais (Forinter), que elaborou um documento norteador das políticas de internacionalização dos Institutos Federais. Além disso, o Centro atende as metas previstas no Plano de Desenvolvimento Institucional – PDI 2014-2018 e às diretrizes da Política de Extensão do IFMA (Resolução nº 47/2015).
No Campus Centro Histórico foi institucionalizada a Casa das Línguas. O projeto Casa das Línguas se iniciou em 2010, como projeto de extensão, oferecendo francês e libras. “Já certificamos mais de 450 alunos, em francês no Centro Histórico e hoje funcionamos com 120 alunos, em 5 turmas”, explicou Vilton Soares. “O curso tem o perfil de atender às demandas institucionais do IFMA e as necessidades individuais, a exemplo da Polícia Militar, do setor da hospitalidade e hotelaria, como o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial”, definiu.
A Casa das Línguas tem um projeto pronto para trabalhar com inglês, francês, espanhol, libras e português como língua estrangeira. A ideia para os próximos anos é aglutinar, na Casa das Línguas, o ensino de línguas estrangeiras de todos os cursos. “O estudante vai até o Centro Casa das Línguas, faz a opção que ele quer, se matricula e a carga horária e o certificado é validado dentro do curso dele”, anima-se Vilton. “É um projeto que está em diálogo com os pedagogos do campus e deve entrar no próximo ano em diálogo com a Pró-reitoria de Ensino, pra ver se é viável e possível fazer essa certificação”, concluiu.
 
E aí, vamos melhorar o francês
Você até pode já não utilizar fecho éclair e rouge, para frequentar casas rendez-vous, pois hoje em dia é démodé.  Mas há inúmeras palavras derivadas do idioma francês que foram incorporadas ao léxico da língua portuguesa. Segue uma pequena lista para que você tenha uma reprise ou um déjà vu e não ficar só no vocabulário da quadrille.
 
Arte e decoração: Avant-première, apothéose, ballet, crépon, crochet, composé, croquis, corbeille, doublé, guirlande, hors-concours, marchand, marionnette, matinée, maquette, mise-en-scène, passe-partout, papier mâché, reprise, tournée, tricot, troupe, vernissage, vernis.
Cores: Bordeaux, beige, carmin, changeant, dégradé, fumé, lilas, marron, ton sur ton.
Esporte: Guidon, grand-prix, pivot, raquette.
Gastronomia: À la carte, buffet, baguette, bonbonnière, canapé, croissant, croquette, champignon, champagne, chantilly, couvert, crêpe, chinois, escargot, filet, fouet, frappé, glacé, guéridon, garçon, mignon, mousse, menu, maître, omelette, purée, petit gâteau, pâté, rôtisserie, réchaud, rosé, sauté, soufflé.
Moda e vestuário: Bustier, boutique, cache-col, chanel, chic, escarpin, écharpe, évasé, godet, jabot, lingerie, maillot, maquillage, mousseline, nécessaire, organdi, peignoir, pochette, prêt-à-porter, plissé, rouge, robe, soutien, tailleur, taffetas.

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