quarta-feira, 27 de março de 2019

"Bolsonaro convida o Brasil para celebrar o terrorismo de Estado"



No Plenário, deputado federal Márcio Jerry (PCdoB), criticou severamente a atitude do atual Presidente


O presidente Jair Bolsonaro (PSL) determinou ao Ministério da Defesa que sejam feitas comemorações em unidades militares em alusão ao golpe militar do dia 31 de março de 1964. A informação foi divulgada na última segunda-feira (25), pelo porta-voz da Presidência, general Otávio Rêgo Barros.

Ao ser questionado sobre como serão feitas as comemorações, o porta-voz foi evasivo e não deu detalhes, limitando-se a responder que a decisão ficará a cargo de cada comando. “Aquilo que os comandantes acharem, dentro das suas respectivas guarnições e dentro do contexto, que devam ser feitas”, afirmou.

Em Brasília, no Grande Expediente da Câmara, o deputado federal Márcio Jerry (PCdoB), que pretendia utilizar seu tempo para falar apenas sobre temas relacionados ao estado do Maranhão, sentiu a necessidade de criticar severamente a atitude do atual Presidente do Brasil. 

“A minha arraigada convicção democrática me obriga, neste momento, a inverter a ordem deste meu pronunciamento. E o faço ainda atônito com o fato do Presidente da República, que representa uma instituição importante, a instituição chamada Presidência, que representa o país inteiro, fazer uma conclamação ao arbítrio, fazer uma conclamação a se rasgar a Constituição, fazer uma conclamação a que se celebre um momento que o processo democrático brasileiro de maneira amadurecida tem superado. É lamentável, pois, que o Presidente da República, Jair Bolsonaro, conclame o País a celebrar aquele dia triste da história brasileira, em que se rasgou a Constituição, em que se fechou este Parlamento, em que se instituiu o arbítrio, o terrorismo de Estado e que lançou sobre o Brasil uma longa e triste noite”, disse.

Da Tribuna, Jerry dirigiu-se diretamente ao Presidente. “Aquele momento não é um momento para ser celebrado, Sr. Presidente Bolsonaro. Aquele momento é para ser lembrado como exemplo a não ser jamais seguido”.

O deputado federal maranhense lembrou ainda as vítimas do bárbaro período. “É preciso que nós reflitamos sobre isso, para que o Brasil não faça do próximo dia 31 um momento de se revirarem feridas, porque a democracia cuida disso, e não é cabível, não é aceitável que o Presidente da República faça uma conclamação tão estapafúrdia, tão acintosa à democracia e tão agressiva à memória daqueles que padeceram sob a ditadura”, concluiu Márcio Jerry.

O regime autoritário brasileiro perdurou de 1964 a 1985, começou com a queda do presidente democraticamente eleito João Goulart, e além de censurar, torturar e assassinar adversários políticos, ainda deixou como herança desigualdades sociais e oligarquias estaduais.

Bolsonaro é um negacionista da ditadura militar. Durante a polêmica votação do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), quando ainda era deputado federal, “homenageou” o torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, condenado pela Justiça de São Paulo pelos crimes durante o regime militar. O atual presidente não sofreu nenhuma sanção pelo seu comentário.

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