sexta-feira, 26 de abril de 2019

SUCESSÃO NA UFMA: POR UMA CAMPANHA COM O PADRÃO DA ACADEMIA


Prof. Dr. Ridvan Nunes Fernandes
Com a aproximação do processo de consulta à comunidade universitária
(previsto para junho), já se nota, no ambiente da UFMA, que o tema começa a
fazer parte do cotidiano acadêmico. Infelizmente, a pauta inicial, posta em
discussão nas últimas semanas, está distante daquilo que se possa qualificar d
debate próprio da Academia.
Vale registrar que não vemos a instituição Universidade como uma bolha.
Ela faz parte e deve interagir sempre com a sociedade. No entanto, fazer política
no ambiente universitário deveria se diferenciar do padrão que marca as disputas
político-partidárias. São atores que se diferenciam por natureza. Lá, eles fazem
política o dia todo e todos os dias – são profissionais da política; aqui, somos
professores. Cotidianamente, ministramos aulas, orientamos alunos, fazemos
pesquisas, extensão, participamos de colóquios, de debates, etc. Fazer política
com o propósito de exercer o comando da instituição se resume, em tese, à
atuação democrática de candidatos no curto período reservado pela legislaçã
interna.
Obviamente, essas diferenças quanto aos atores e ao ambiente político
exigem um padrão de campanha também diferenciado. Na Universidade, os
vícios, os dissabores e até o desrespeito, comuns no mundo da política
profissional, devem ser substituídos por métodos que primam pelo respeito
mútuo e o debate qualificado.
Pois bem, as preliminares da campanha para a sucessão da Professora
Nair Portela estão distante disso. A troca de insultos via blogs que surgiu nas
últimas semanas é algo assustador. O tom agressivo, as acusações e a
desqualificação de concorrentes são recorrentes na mídia eletrônica. Além
disso, o flagrante da campanha antecipada há alguns meses e até mesmo sinais
de práticas de abuso do poder econômico desequilibram o processo e
desrespeitam os pretensos pleiteantes.
É oportuno lembrar que a Universidade pública brasileira passa por um
momento de ataques, numa intensidade pouco vista na sua história. Apesar de
ser ela responsável por algo em torno de 95% da pesquisa científica realizada
no país, com o padrão de várias instituições acadêmicas sendo reconhecido
internacionalmente, o seu futuro é incerto. Diante deste quadro, salvar est
patrimônio da sociedade brasileira é dever, em primeiro lugar, da comunidad
acadêmica e da inteligência sensata deste país. Para isso, movimentos como os
ncabeçados pelo ANDES, a SBPC, a ANDIFES, entre outros, e até a propost
de criação de uma Frente Parlamentar em defesa da Universidade Pública
devem ser fortalecidos
É desnecessário dizer que esse incômodo cenário impacta fortemente em
nossa UFMA. Logo, é desejável que o debate sucessório esteja focado na
realidade de uma instituição que hoje é multicampi, mas que possui um
orçamento de custeio menor que há quatro anos; que precisa gerar
conhecimento e oferecer pós-graduação de nível frente ao esvaziamento
financeiro do CNPq e da CAPES; que necessita concluir obras estratégicas e
necessárias, embora com recursos zero na rubrica capital, dentre outras
relevantes questões. Sem falar no padrão de gestão centralizador, que já atingiu
o nível de fadiga de material.
Dito isso, reafirmamos: é oportuna uma campanha com o padrão da
Academia. Tema é o que não falta.
Professor Titular do Departamento de Química. Diretor do Centro de Ciências Exatas e
Tecnologia/UFMA.

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