sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Presidente da UNE anuncia volta às ruas na greve geral pela educação


O tsunami da educação vai voltar. Nos dias 2 e 3 de outubro os estudantes, professores e servidores das universidades retornarão às ruas de todo o país na greve geral pela educação. “Nós vamos às ruas falar com a população, explicar a importância das universidades e mostrar nosso potencial”, avisa o presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Iago Montalvão.

Eleito no 57º Congresso da UNE, em julho deste ano, em Brasília, o estudante de Economia da Universidade de São Paulo (USP), Iago Montalvão, 26 anos, recebeu a equipe do Portal Vermelho para falar sobre a pauta em defesa da educação que está mobilizando milhares de estudantes em todo o país.

Goiano, filho do ex-diretos da UNE e professor universitário Romualdo Pessoa, vascaíno, fã de Emicida e da música sertaneja da sua terra, Montalvão começou na militância ainda no Grêmio do Colégio Aplicação. Na condição de cotista, foi estudante das universidades federais de Goiás e de Brasília, antes de chegar na USP.

Por essa trajetória, apreendeu a importância da universidade pública na formação dos brasileiros e tem consciência do papel da UNE no processo de resistência e mobilização da sociedade contra os retrocessos promovidos pelo governo Bolsonaro.

Conterrâneo de Aldo Arantes e Honestino Guimarães, que presidiram a entidade máxima dos universitários brasileiros nos anos de chumbo da ditatura militar, Iago diz que a ideia é ocupar às ruas e mostrar que a luta tem “frutos e conquistas”.

É o caso da destinação de R$ 2,6 bilhões oriundos do acordo firmado entre a Procuradoria-Geral da República (PGR), o presidente da Câmara dos Deputados e a União (representada pelo advogado-geral da União), com a contribuição do presidente do Senado Federal e homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para serem investidos na educação e no meio ambiente. Na opinião dele, os recursos, recuperados da Petrobras a partir da Lava Jato, estão tendo esse destino também por conta das mobilizações dos estudantes.

“Esse processo que nos trouxe até aqui foi fruto de muita luta. O fato de o STF ter liberado esse recurso e, parte dele ter ido para educação, não foi um processo automático. É preciso que se diga: isso foi fruto primeiro das lutas nas ruas. A mobilização estudantil nas universidades, passeatas, criou um caldo social que olhou para educação com muita preocupação”, argumentou.

Além disso, Montalvão diz que diversos segmentos pressionaram o STF para que os recursos fossem destinados às duas áreas. As pressões no Congresso levaram o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a ir ao STF apoiar a causa.

“Nós temos que reafirmar isso como uma vitória justamente para criar o sentimento nas pessoas de que é preciso continuar mobilizados, pois só com mobilização nós vamos conseguir a vitória total. Então, que isso sirva de estimulo. Não é uma vitória total. É uma vitória parcial, mas não vamos parar de nos mobilizar”, avisou.

Sobre os recursos, ele diz que é muito pouco diante dos cortes que foram feitos e as mais de dez mil bolsas de pesquisas canceladas. Antes dos cortes, ele lembrou que as áreas de educação e ciência tecnologia já vinham sendo duramente atingidas nos anos anteriores.

“É claro que sempre é importante recuperar recursos para essas áreas porque são estratégicas para o desenvolvimento do nossos país e, inclusive, para a saída da crise que nós vivemos, sem tecnologia produzida pela ciência dificilmente nós vamos sair dessa crise econômica. Agora, a devolução dos recursos precisa ser integral”, afirmou.

Future-se

O presidente da UNE também criticou duramente o programa Future-se do Ministério da Educação (MEC) pelo qual o governo pretende criar as organizações sociais (OS) para atuarem nas universidades.

Segundo ele, essas organizações vão atuar como reitorias paralelas ferindo frontalmente a autonomia das universidades.

“Orçamento estrangulado, pouco recursos públicos e você coloca um ente externo na comunidade acadêmica para gerir recursos que serão captados da iniciativa privada. Isso significa que será essa empresa que decidirá os rumos da universidade, trocando o interesse público pelo privado”, argumentou.

Na sua opinião, algumas decisões que cabem à reitoria e a comunidade acadêmica, por meio dos seus conselhos universitários, câmaras de graduação e de pesquisa, poderiam ser afetadas pela interferência das OSs.

“É um risco enorme para a universidade brasileira. Tanto por essa dependência que se causa do setor privado como também da retirada de muitas decisões que hoje partem da própria comunidade academia”, diz.

Montalvão considera um projeto muito mal feito, porque desconhece a realidade das universidades. Muitos dos pontos colocados ali já funcionam nas universidades como a relação com pesquisa e setor privado.

Carteiras estudantis

Sobre a medida provisória 895/2019, que cria uma carteira estudantil emitida pelo MEC, obrigando estudantes e entidades a compartilharem dados com o poder público, o presidente da UNE diz que é uma retaliação ao movimento estudantil que tem sito o principal setor a confrontar o governo Bolsonaro.

“Enquanto eles retiram recursos das universidades, das bolsas, e os estudantes resistem em relação a isso, eles gastam energia produzindo uma outra proposta para esvaziar o financiamento das entidades estudantis.

Segundo ele, UNE, UBES (União Brasileira de Estudantes Secundaristas), ANPG (Associação Nacional de Pós-Graduandos), centros acadêmicos e uniões estaduais de estudantes, que emitem carteiras, estão sendo retaliadas.

“Tenho certeza que isso se dá justamente pela grande resistência que essas entidades têm construído para defender a educação. O governo deveria se preocupar em devolver as bolsas, os recursos das universidades e não a criar novas despesas como é essa proposta das carteiras para perseguir as entidades do movimento estudantil, isso nós não vamos aceitar”, diz.

Greve geral pela educação

Montalvão prevê ainda um longo processo de resistência não só pelos ataques do governo aos recursos das universidades, mas também pela proibição dos debates dentro ambiente acadêmico.

Para ele, não é possível que o MEC tente censurar as universidades e retira de recursos das instituições. Para combater essas ofensivas, o movimento preparar um grande ato nos dias 2 e 3 de outubro chamado de greve geral pela educação.

O movimento está sendo trabalhado com as entidades dos professores, dos técnicos administrativos, institutos federais e com professores do ensino básico.

“Vamos às ruas falar com a população, explicar a importância das universidades, dos nossos projetos e chamá-los também para no dia no dia 3 para organizamos mais um dia nacional de passeatas e mostrar que as ruas têm seu potencial. Já trouxe vitórias que não insuficientes, mas nossa mobilização continua”, finalizou.

Veja o vídeo da entrevista:

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