segunda-feira, 13 de abril de 2020

Moraes Moreira (1947 -2020), o “novo baiano” genial




Moraes, "avoando, sem nunca mais parar"
Cantor, compositor, violinista e poeta morreu nesta segunda-feira, aos 72 anos
No começo, eram quatro: Baby Consuelo, Luiz Galvão, Paulinho Boca de Cantor e Moraes Moreira. A eles, aos poucos, somaram-se outros, com destaque para Pepeu Gomes. Já na primeira apresentação, em 1968, no Teatro Vila Velha, de Salvador, o grupo esbanjava entrosamento, versatilidade e carisma. Mas não tinha nome.

Em 1969, vieram a São Paulo para participar do 5º Festival de Música Popular Brasileira, promovido pela TV Record. Como os já célebres baianos Caetano Veloso e Gilberto Gil, habitués de festivais, estavam exilados, o apresentador da Record, Marcos Antônio Riso, mandou chamar ao palco “esses novos baianos”. Pronto! Mesmo malsucedida no festival da emissora paulista, a banda saía de lá involuntariamente batizada!

Mais que formar um conjunto musical, os integrantes pareciam viver numa espécie de comunhão, à margem da ditadura militar brasileira. Foram todos morar juntos no Rio – isso antes de alugarem um sítio em Jacarepaguá para aprofundar a experiência.

Daí brotou, em 1970, o primeiro álbum da banda, Ferro na Boneca, recheado de músicas do tipo “pauleira”. O diretor baiano André Luiz Oliveira, ícone do “cinema marginal”, ajudou a popularizar essas composições originais, ao incluí-las na trilha de seus longa-metragens Meteorango Kid e Caveira My Friend.

Da comunhão dos “novos baianos”, autoexilados no Rio, nasceu também um dos melhores discos de todos os tempos: Acabou Chorare (1972). A faixa de abertura, uma versão inspiradíssima do samba-exaltação Brasil Pandeiro, de Assis Valente – sugestão do cantor e compositor João Gilberto –, iniciava-se com um verso-síntese: “Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor”.

A canção firmava o vínculo dos Novos Baianos com o samba e a brasilidade, depois de tantas e quantas influências do rock, sobretudo da guitarra de Jimi Hendrix. Moraes Moreira e, especialmente, Pepeu Gomes retrabalharam com maestria nos arranjos Brasil Pandeiro, a primeira, única e última música de trabalho do grupo sem autoria própria – e, no entanto, uma das mais emblemáticas. Nasceu ali, já se disse, uma espécie de samba roqueiro.

Responsável desde o início pelas composições, ao lado, sobretudo, do letrista Luiz Galvão – dez anos mais velho –, Moraes Moreira foi fundamental não apenas no estabelecimento dos Novos Baianos. A transição harmoniosa do grupo – do rock para o samba – deve-se, em boa medida, à forma como Moraes tocava seu violão. Antes de Acabou Chorare, o artista baiano batia nas cordas com vigor e rapidez. Depois, no rastro da relação com o conterrâneo João Gilberto, passou a puxar uma corda de cada vez, dando novos significados aos acordes das canções.

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