sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Brasil está entre os dez países que mais desperdiçam alimentos no mundo


DRA. ALINNE BARROS, MÉDICA PEDIATRA DO HAPVIDA SAÚDE

Escolhas conscientes podem reduzir o desperdício de alimentos no país.

Reunir a família em casa e receber amigos com a mesa farta para um almoço de domingo é um jeito bem brasileiro de hospitalidade. Na família do mecânico Jean Carlos não pode faltar carne e feijoada para deixar o almoço especial. “Todos os domingos nos reunimos para um churrasco em família. Cada um traz um prato e o que não falta é comida”, garante o mecânico.


Assim como o seu Jean, milhões de famílias brasileiras não abrem mão de reunir a família para um dia de comilanças. Mas o hábito revela uma característica preocupante dos brasileiros: o desperdício. 


Um levantamento realizado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) aponta dados surpreendentes.

Por ano, cada brasileiro desperdiça 41,6 kg de comida. Ao levarmos em consideração uma família com três moradores esse volume é de 128,8 kg ao ano.

DIEGO HENRIQUE, ECONOMISTA E PROFESSOR DE ADMINISTRAÇÃO DA ESTÁCIO

Dados da FAO Brasil – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, 28% dos alimentos se perdem no processo de produção agrícola e outros 28% são jogados no lixo após chegarem às casas dos consumidores. No mundo, cerca de 1,3 bilhão de toneladas de comida são descartadas por ano.


Enquanto toneladas de alimentos são desperdiçadas, a fome atinge 5,2 milhões de pessoas no Brasil. Para se ter uma dimensão do tamanho do problema, a população do Uruguai é de 3,5 milhões de pessoas. O número de pessoas que passam fome no Brasil supera em 1,7 milhão a população do Uruguai.


Soluções


Para tentar reverter esse quadro, a mudança precisa começar dentro de casa. “O melhor passo para evitar o desperdício é comprar na medida certa. Faça uma lista com os item realmente essenciais ao ir às compras. Assim, você evita a compra de produtos que não serão consumidos”, orienta a coordenadora do curso de nutrição da Estácio São Luís, Monique Nogueira.


O hábito de fazer compras para abastecer a despensa pelo mês inteiro, praticado por 61% da população, segundo o levantamento da FGV e Embrapa, talvez não seja uma boa opção, “Alguns consumidores acreditam que fazer compras para o mês inteiro é mais viável, mas o que elas não sabem é que essa prática pode criar um consumo por impulso, quando se leva mais que o necessário”, revela a nutricionista.

MONIQUE CARVALHO, COORDENADORA DO CURSO DE NUTRIÇÃO ESTÁCIO SÃO LUÍS

Aproveitar partes não convencionais dos alimentos é outra saída para o desperdício. De acordo com a nutricionista, é possível aproveitar partes importantes de frutas e verduras que possuem alto valor nutricional, que, na maioria das vezes vão para o lixo. Veja alguns exemplos:


·  Os talos do agrião contém grande concentração de ferro, cálcio e vitamina C;

·  As folhas da cenoura são ricas em vitamina A;

·  A casca da laranja é rica em cálcio e pode ser usada caramelizada;

· A parte branca (entrecasca) da melancia e do melão são ricas em fibras e potássio.


Por serem consideradas apenas sobras, é muito comum que todos esses itens citados acima sejam descartados todos os dias. Mas a especialista garante que os alimentos são fundamentais para o organismo. “Eles contam com micronutrientes atuam em diversas funções corporais e são essenciais para um bom funcionamento do organismo, regulando o trato gastrointestinal, prevenindo contra doenças cardiovasculares e até contra a diabetes”.


Economia para o bolso


Evitar o desperdício de alimentos em casa é uma maneira de consumir recursos com consciência, além de ser um hábito que faz bem ao bolso. “Quando você planeja sua compra a consequência é que haja uma economia significativa, por que você compra apenas aquilo que é necessário. É como ir ao shopping, se você lista os itens que precisa comprar, a sua busca vai se concentrar neles e não irá se distrair olhando outras coisas. O mesmo acontece no supermercado”, exemplifica o mestre em Economia da Estácio São Luís, Diego Henrique Matos Pinheiro


O aproveitamento do alimento por completa também gera economia. “Ao aproveitar parte dos alimentos, que antes seriam jogadas no lixo, você consegue economizar na compra de outros itens, já que podem se transformar em acompanhamentos para as refeições”, pontua o economista.


Mudança que vem de casa


A prática do reaproveitamento de alimentos deve ser ensinada ainda na infância. Afinal, o hábito é essencial para a preservação do planeta. Para a pediatra Alinne Barros, do Hapvida Saúde, quanto mais cedo os pais ensinarem aos filhos a importância do reaproveitamento, maior será o impacto na saúde da criança. “Já não é segredo as diversas formas e benefícios de reaproveitar frutas e verduras na alimentação. Além desses benefícios, entender e ensinar as crianças sobre o consumo consciente é fundamental”, destaca a pediatra. 


A especialista reforça ainda que as crianças imitam o que é feito em casa. Por isso, segundo ela, a conduta alimentar da casa está associada ao comportamento das crianças. “Seja o exemplo para o seu filho. Não adianta apenas ensinar e não praticar, é preciso fazer junto”, alerta.

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