segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

POLÍTICA, CIÊNCIA E GESTÃO NA PANDEMIA


Por Sílvio Bembem

Doutor em Ciências Sociais-Política (PUC-SP). Professor Universitário e Assessor da Escola de Saúde Pública do Maranhão (ESP-MA).

Qual a relação há entre Política, Ciência, Gestão e Bolsonaro?

A ideia de Política veio à luz pelos gregos, logo a cidade de Atenas foi seu berço. De acordo com Aristóteles - autor do livro clássico sobre POLÍTICA - “política tem por objetivo a felicidade humana e divide-se em ética, focando a felicidade individual do homem na Cidade-Estado, a conhecida pólis grega”. Já segundo Nicolau Maquiavel (sec. XVI) - considerado o pai da Política como Ciência e, portanto, o pai da Ciência Política moderna, afirmou que ela está no âmbito das ciências práticas, da realidade como ela se apresenta, ou seja, as ciências que buscam conhecimento como meio para a ação. Assim, política não está limitada a intrigas ou fuxicos intra e/ou entre famílias, partidos-empresas (ou melhor, siglas de aluguel, de donos). Quando da escrita da minha tese de doutorado cunhei o que chamo de Democracia dos Políticos e que conceituo como “a configuração constituída por funcionários investidos em cargos estratégicos da burocracia (poder executivo, legislativo e judiciário e forças armadas), os de mantados eletivos, os presidentes/dirigentes de partidos as vezes ‘donos’ e proprietários de grandes empresas e/ou acionistas majoritários que mantém relações permanentes com o Estado/Governo”. E, no século XXI, a hegemonia é dessa Democracia dos Políticos.

Ao se observar a conjuntura brasileira, tem-se um presidente da República que venceu a eleição, em 2018, com uma retórica de negação da política, a ideia da antipolítica, mesmo já tendo exercido 28 anos de mandatos como parlamentar na Câmara federal (improdutivo). Parte da sociedade acreditou nesse discurso e votou no ignorante e, agora, seu desgoverno se rendeu à democracia dos políticos negou, mas sempre fez parte.

No que se refere à Ciência, modernamente é aquela que conseguiu articular o método de observação e experimentação com o uso de instrumentos técnicos, por meio do telescópio e o microscópio, começou a se desenvolver, propriamente, na Europa do século XVI. Depois no século XVII, houve as investigações pioneiras sobre o “método científico” conduzidas por Francis Bacon (1561-1626). Posteriormente, no cenário surgiriam outros grandes cientistas, como Galileu Galilei, Isaac Newton e Robert Boyle e, no século seguinte, os Enciclopedistas. Pode-se afirmar que o conhecimento fornecido pela ciência se distingue por um grau de certeza elevada, desfrutando assim de uma posição privilegiada com relação aos demais tipos de conhecimento (o do homem não alfabetizado, por exemplo, mas com exceção dos saberes e conhecimentos tradicionais).

A autoridade/poder da ciência é evocada amplamente, ou seja, no mundo moderno, a dominação de fato tem quer ser legitimada cientificamente. A natureza, afastada de seus mistérios, torna-se objeto de um conhecimento racional. Trata-se agora de decifrar suas leis, em lugar de contemplar sua magia. E neste caso, o espírito humano abre perspectivas para o CONHECIMENTO CIENTÍFICO. O método científico constrói a unidade entre a razão e a ciência. Neste sentido, o que atribui relevância, hoje em dia, a uma ideia, é o prestígio científico, assim como antes era o prestígio religioso ou supostamente divino. Agora é a Ciência, mais que a religião, que decide o que é verdadeiro ou falso no mundo. E nesse quesito, o presidente do Brasil também é um negacionista

(ideologia que nega um fato comprovado, pessoa que não aceita como verdade conceitos comprovados cientificamente) da Ciência. Vide, por exemplo, a sua irresponsabilidade frente à pandemia do Coronavírus - COVID-19 (que chamou gripezinha), e que já tirou a vida de mais de 190 mil pessoas, não respeita as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e agora resiste contra a VACINA (o debate da pauta política-científica e também da gestão empresarial-farmacêutica), negando até apresentar um Plano nacional de vacinação. E como reverberou Nelson Mandela, “a educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo”, mas Bolsonaro também nega. Na verdade, ele está sem rumo e sem direção e isto, também, em função do seu total despreparo intelectual (falta Virtù) para o exercício do cargo de presidente.

E por fim, em se tratando da categoria Gestão. Cabe antes dizer que a Administração, enquanto uma disciplina cientifica, tão quando a Política como Ciência é nova. A administração passou a ser vista como ciência, a partir da revolução industrial (sec. XVIII) e nasceu no estado da Pensilvânia (EUA). Frederick Taylor (1856-1915), é considerado o “pai da Administração Científica”. Mas se tornou uma ciência, efetivamente, em 1950 quando começou a ser lecionada na Universidade de Harvard (EUA). E a Administração pode ser entendida como “o planejamento, a organização, a liderança/direção e controle de bens e interesses públicos e privados, agindo de acordo com os princípios administrativos visando ao bem comum por meio de seus modelos delimitados no tempo e espaço. A partir desse entendimento (administração como ciência), passou a pensar formas de melhorar os resultados apresentados pelas organizações e, assim, iniciou-se a aplicação de métodos científicos à busca por melhorias no marco, claro, do sistema capitalista em busca de lucro e/ou resultados político-social. Portanto, a Gestão (tema também decantado em verso e prosa nos discursos dos políticos) tem semelhança com a administração. Pode-se dizer que são irmãs siameses, mas com conceitos diferentes: “ADMINISTRAR está ligado ao ato de dirigir/planejar e a GESTÃO focada na valorização das pessoas, do capital humano”. Observa-se que o desgoverno Bolsonaro não faz nem uma coisa (dirigir, planejar) e nem outra (valorizar os trabalhadores/ servidores públicos). Mas, Bolsonaro também não leva a sério e com responsabilidade a gestão do Estado (de acordo com relatório do TCU sobre a atuação do governo na pandemia de 21/12/2020).

O fato é que o Brasil corre perigo com Jair Messias Bolsonaro no governo central, ele é um personagem atípico na cena política, negando a Política (sendo político-profissional e com sua oligarquia familiar investida em altos cargos eletivos), negando a Ciência (sem nenhuma formação cientifica) e negando a Gestão (sem nunca ter gerido algo na res pública, mas sim na vida privada). Ele é o retrato fiel da formação social do Brasil “Colonial/racista, escravista, conservador, elitista e branco”, apesar de ser do baixo clero. E, em nome de qualquer democracia, é preciso derrotar Bolsonaro, do contrário, a sociedade brasileira continuará em tempos de barbárie.

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