terça-feira, 7 de setembro de 2021

Bolsonaro: o diabo na corte ou o imperador de todos os males?


Conta um velho manuscrito carolíngio que, certa feita, decidiu o diabo instalar-se em plena corte de rei que se julgava verdadeiro messias. Dos súditos se exigia não apenas obediência, mas sobremaneira devoção. Como sabem todos, etimologicamente diabo é antônimo de símbolo. Se este une e agrega, aquele divide e confunde. Era exatamente o intuito do diabo, semear na corte a mais intensa confusão. E ele o fazia a quatro vozes, a sua e as de seus três filhos príncipes. O rei se tomou de perplexidade e ódio ao ver seus propósitos reduzidos à galhofa. O que ele dizia pela manhã era desmentido á tarde por seus ministros. Se prometia aumentar impostos, logo seus acólitos se apressavam a esclarecer que ele se equivocara. Se um ministro demonstrava a intenção de vender parte do patrimônio do reino , logo a sua Majestade tratava de contradizê-lo e reafirmar que certos bens estratégicos do reino não poderiam ser alienados. O diabo, em sua esperteza maléfica, tratou de semear uma das mais eficazes pragas: a confusão semântica. As palavras tiveram seus significados esvaziados ou trocados, a ponto de uma princesa ousar confessar em público ser uma pessoa "terrivelmente religiosa". Consultasse ela um dos vernaculistas do reino, saberia que o advérbio deriva de "terrível, que causa o infunde terror", conforme aclara o sábio Michaelis. E o monge carolíngio copista do importante manuscrito fez essa glosa que tanto agradou o diabo: "Uma religiosidade terrível nada tem a ver com o bom Deus". A mesma nobre autoridade ousou decretar que, no reino, meninas deveriam trajar rosas e meninos, azul. O diabo esfregou as mãos de satisfação. Os daltônicos, por temerem incorrer em erros, preferiram sair nus à rua , o que suscitou uma onda de escândalos. Os que haviam nascidos menina, e, no entanto, se sabiam menino, vestiram-se de rosa, e os meninos que se sabiam meninas trajaram o azul, o que os tornou alvo de severos castigos. Por injunção do diabo, toda e qualquer pluralidade foi banida do reino, impondo-se a mais restrita dualidade . Quem não era amigo era inimigo. E para que tal dualidade não sofresse a menor ameaça de ser contaminada pela dialética , baniu-se do reino o Ministério da Cultura. Pensar passou a categoria de crime. Foi extinto ainda, entre outros, o Ministério do Trabalho, já que o diabo incutiu na nobreza ser muito mais lucrativo o trabalho escravo que o assalariado, tão oneroso para as burras de marqueses e condes. Não satisfeito em provocar tamanha confusão no reino, o diabo decidiu agir na educação dos súditos. Para o rei, todos os monarcas que o precederam haviam envenenado a educação com a famosa peste do ismo, contaminando de tal modo a visão dos educandos que enxergavam vermelho onde havia verde. Na alfabetização, baniram-se todos os métodos que associavam palavras e ideias , e adotou-se o método fônico, que recorta letras para formar palavras. O jogo de Palavras Cruzadas foi terminantemente proibido por favorecer a semântica em detrimento da sonoridade vocabular. O ministro encarregado das relações com os reinos vizinhos falava javanês. Ninguém nada entendia , o que não tinha menor importância , já que o seu interesse era se sentir cercado de admiradores e, de preferência, bajuladores. Sua diplomacia consistia no mais estrito verticalismo, que prioriza a relação com os céus, em detrimento de todo e qualquer horizontalismo de boa vizinhança com os demais reinos. Por que os brasileiros preferiram escolher um presidente da República um homem notoriamente defensor da tortura, da homofobia, das milícias, do machismo e da ditadura. como entender que a maioria tenha escolhido um candidato que considera mais importante armar a população de que reduzir as desigualdades social? por que os eleitores não preferiram Haddad, Ciro Gomes ou os outro candidatos? Perguntem à história quem ganha eleições , e ela certamente responderá que não são necessariamente os melhores , mas aqueles capazes de servir de ímã às insatisfações e frustrações da população. Em países em crise, e cuja a nação cresce de consciência histórica, os eleitores não buscam solução, buscam salvação. "A massa é extraordinariamente influenciável , crédula, acrítica; o improvável não existe para ela. Pensa em imagens que evocam umas às outras associativamente, coo um indivíduo em estado de livre devaneio, e que não tem sua coincidência com a realidade medida por instância razoável. Os sentimentos das massas são sempre muitos simples e exaltados. Ela não conhece dúvida, nem incerteza. Vai prontamente ao extremos; a suspeita exteriorizada se transforma de imediato em certeza indiscutível; um germe de antipatia se torna ódio selvagem.

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