segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

Memória literária "Diambas as Partes"

 


É um tema que não é tão fácil de abordar pelo medo de ser penalizado e discriminado. Eram os anos 90 na UFMA. Ano de rebeldia e de indisciplina, alunos nunca seguiram de fato as regras do Estado. Principalmente aqueles que militavam no movimento estudantil e que estudaram no CCSO, prédio batizado pela alcunha de "Pimentão" - nunca soube a origem desse nome... Era um lugar plural e centro de grandes debates, onde se concentravam alunos de todas as cores e matizes: poetas, roqueiros e os batizados de "Malucos Beleza", rótulo para quem gosta de curtir um baseado de primeira qualidade. Na época ainda não existiam essas drogas psicodélicas que deixam as pessoas loucas. Os estudantes eram calmos como passarinhos, chamava-lhes até de depressivos. Mas eram considerados intelectuais da época. Eu particularmente não apreciava fumo de espécie nenhuma, mas não tinha preconceito com a turma da "Esquadrilha da fumaça", como eram tratados pelos intolerantes. O que eu gostava muito era de uma cerveja, de boas músicas, de preferência a MPB, participei como mero expectador dos grandes festivais da universidade. Apreciava essas coisas e nunca me considerei poeta na vida, mas sempre gostei de ler um bom livro por influência dessa turma.

Tem até uma história bastante engraçada de um velho amigo poeta. Pelo fato de ter feito Letras e Comunicação, a galera pretendia fazer de mim um leitor de poesia. Um certo amigo de farmácia, me emprestou um livro de Bocage, além de não ler, ainda virou "tampa", ou seja, vendi o livro para saciar meu vício. O estereótipo contra as pessoas naquela época era natural e comigo não foi diferente. Fiz uma pergunta a um amigo que andava com os "malucos beleza": ele andava de chinela, cabeludo e a barba por fazer. Tinha o estereótipo de uma pessoa que gostava do fumo. "Rapaz, tu fumas maconha" ele respondeu: "Todos pensam que fumo maconha, mas cara, não fumo e nem bebo, gosto mesmo é do rock e da poesia e essa turma saca disso tudo".

Mas o que eu quero aqui falar é da partida de futebol entre Ciências Sociais X Comunicação na praia da Marcela, como era conhecida na época. Foi uma partida diferenciada. Todos jogavam, mas a história era outra. Foi uma confraternização entre a turma da "Esquadrilha da fumaça". E eu tive o privilégio de ser convidado, era do movimento estudantil e oriundo de um bairro pobre da grande Ilha. O espetáculo "Diambas as Partes" começara às 17 horas da tarde, um bom horário para aquela turma sedentária que gostava mesmo era de um bom baseado. Foi um espetáculo bastante inusitado nunca visto em lugar nenhum, mas com muita alegria e humor. Era uma tarde chuvosa, a partida já estava com um placar - se eu não estou enganado - de 10 X 9. Pra quem? Nem sei dizer. Apesar de ter uma boa memória, mas um dos dois neurônios estavam afogados na cerveja. De repente surge uma grande neblina de fumaça do nada, sem explicação científica, Era um tarugo de maconha de 2 metros de comprimento. Coisa jamais vista em outro lugar. Todos que estavam lá deram uma tapinha. Eu não apreciava, mas para não passar por careta e não decepcionar os amigos me atrevi a experimentar. Se vocês querem saber o placar da partida ninguém sabe dizer, só sei que foi uma partida de bastantes gols e que até torcedor e reservas fizeram.

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