domingo, 22 de março de 2020

Qual fim está próximo?

Dr. Natalino Salgado, reitor da Universidade Federal do Maranhão

Há muita informação circulando sobre a atual Pandemia de Sars-cov-2, que causa a Covid-19, infecção no aparelho respiratório. O lado positivo é que as medidas que se devem tomar para se proteger podem chegar, muito rapidamente, a um grande número de pessoas. Ao mesmo tempo, as autoridades têm acesso às suas populações, a fim de orientá-las sobre os cuidados que precisam ser adotados.

Mas, num mundo em que se pode acompanhar em tempo real a evolução da infecção e os números de mortes que ela causa, as consequências em cadeia na economia dos países, a sensação de medo e a ansiedade dele decorrente é algo esperado. O comportamento de autopreservação desencadeia, nas pessoas, atitudes e posturas que podem ser perigosas ou prejudiciais ao enfrentamento eficaz da pandemia.

Dois exemplos nos ajudam a entender: a corrida das pessoas para os supermercados na tentativa de estocar alimentos e a disseminação de teorias conspiratórias. Em relação a esta última, a revista Nature publicou artigo em que um estudo genético do vírus prova que ele não foi criado em laboratório, como algumas notícias sugerem. Alerto para o fato de as autoridades sanitárias e governamentais terem legitimidade, motivo pelo qual devem ser preferidas como fonte de informação. Suas orientações devem ser seguidas, em particular, no que tange aos cuidados de saúde neste momento.

O Sars-cov-2 é menos letal que outros vírus parecidos, que já causaram epidemias importantes, como o H1N1. Em contrapartida, é muito mais fácil de ser transmitido. Isso inflaciona rapidamente a quantidade de pessoas necessitadas de atendimento nos serviços de saúde, que se sobrecarregam. A Covid-19 é particularmente grave em pessoas idosas, pessoas com doenças crônicas como hipertensão e diabetes e em imunodeprimidos. Daí por que o isolamento é muito importante, somado ao ato de lavar as mãos com sabão ou passar álcool gel. Outro cuidado a ser adotado é a restrição do uso de anti-inflamatórios: eles agravam os problemas pulmonares de pessoas afetadas pelo Sars-Cov2, ou coronavírus, como está mais conhecido.

Apesar do impacto severo nas economias de todo o mundo, uma pandemia tem prazo para acabar. Boas notícias estão aparecendo, como o avanço nas pesquisas sobre uma vacina. Os centros de pesquisa trabalham com o horizonte de, até o fim do ano, termos uma vacina viável. Testes com pacientes na China revelam que um remédio desenvolvido no Japão para quadros virais, o Avigan (favipiravir), teve boa avaliação e diminuiu o período total da doença, de 11 para 4 dias, nas pessoas. Por outro lado, independentemente dos avanços que estão sendo conseguidos nas pesquisas de vacina, inclusive no Brasil, ou mesmo com remédios, milhares de pessoas já se curaram da doença.

O título deste artigo é proposital. Reconheço a gravidade do problema, sim, tanto é que, na condição de Reitor da Universidade Federal do Maranhão, tomei a iniciativa, apoiada por todos, de não só suspender as aulas por trinta dias, para evitar aglomeração, mas também para o atendimento presencial, e determinar o trabalho remoto para as atividades administrativas. No Hospital Universitário da UFMA, também não foi diferente: foram suspensas as consultas e cirurgias eletivas, e estão sendo adotados protocolos e treinamento das equipes. A ampliação de leitos e a aquisição de equipamentos e materiais estão sendo agilizadas. A nossa equipe tem trabalhado intensamente nos últimos quinze dias para atender aos pacientes críticos com Covid-19.

Reforço o respeito e o apoio aos profissionais da saúde que estão na linha de frente desta batalha de proporção épica, mas todos nós temos que fazer nossa parte. Se, na Itália, com o número de habitantes muito menor do que no Brasil, os resultados e as consequências da infecção estão alarmantes, o que dirá em nossa nação, que possui um composto de pobreza, sistema de saúde combalido e ausência de cooperação?

Estamos passando por um grande desafio que deixará lições preciosas para todo mundo. Para todo o mundo. Sim, há uma crise, mas somos resilientes. É hora de cuidado. Quando cuidamos de nós, estamos cuidando de todos. É hora de esperança e solidariedade. Cabe a nós decidirmos prosseguir rumo ao fim do alastramento da epidemia — não amparados por uma falsa expectativa, mas por nossa fé em Deus e pela capacidade humana de superar o que muitas vezes parece impossível. Passado tudo isso, teremos uma experiência fantástica na nossa história, da qual poderemos lançar mão em outros momentos difíceis a serem vividos. Mas a educação e o investimento maciço em ciência também farão a diferença.

Nossos heróis da saúde vão estar na linha de frente. Muitos vão adoecer, mas não fugirão da sua missão. Estamos em uma guerra pela saúde, pela vida. Tenhamos consciência da gravidade, da necessária ética e do imprescindível respeito pelos nossos semelhantes. A ordem é “ficar em casa”, porque o isolamento domiciliar é a única forma de salvar vidas e diminuir a pressão no sistema de saúde. Que Deus nos ajude a todos, porque ou cooperamos com o fim da pandemia, ou é o fim.

*Natalino Salgado Filho é Titular da Academia Nacional de Medicina

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