O deputado Raimundo Cutrim recebeu a
reportagem do Jornal Pequeno, na manhã da última quinta-feira, para
falar sobre os motivos que o levaram a romper com o grupo Sarney, ao
qual demonstrou fidelidade ao longo de dois mandatos e como secretário
de Segurança, num período em que o crime organizado aterrorizava o
Maranhão e ninguém ousava enfrentá-lo.
Jornal Pequeno – O que levou, de fato, o senhor a romper com o grupo Sarney?
Raimundo Cutrim – O motivo principal foi
a campanha sórdida, criminosa, liderada pelo secretário Aluísio Mendes,
que todos conheceram. Primeiro, foi uma campanha para me envolver no
assassinato do jornalista Décio Sá e posteriormente a agiotagem, um
absurdo. Então foi aquela campanha liderada pelo secretário e a TV
Mirante, o próprio grupo, mas agora ficou esclarecido.
O caso Décio Sá foi todo armado pelo
secretário de segurança, juntamente com três delegados. Inclusive, fiz
uma representação à procuradora (Procuradora-Geral de Justiça), que
ficou engavetada por muito tempo, até conseguirem trancar com habeas
corpus. Se ele não têm nada, se ele diz que foi feito de maneira
transparente, por que não quis a apuração? Então, como ele disse que eu
estava envolvido, representei contra ele dando as testemunhas da
armação, como foi feito, as conversas com tudo, dei tudo na mão. Aí, ele
viu que ia apurar, que a procuradora não tinha mais como engavetar o
que é uma realidade. Ela segurou até quando pode, pressionada. Mas ele
sabia que ia ser esclarecido.
Sabemos que o Jonathan fez um acordo
para que o primo dele, aquele que fugiu da Delegacia de Roubos e Furtos
de Veículos, não fosse indiciado no inquérito. O nome dele foi tirado, e
isso foi parte do acordo, e fizeram um compromisso com ele, também, de
30 a 60 dias, conseguirem com o juiz a soltura. E, evidentemente, o juiz
não liberou e ele começou a falar isso com os outros presos, do acordo
que não cumpriram, e terminou fugindo. Não sei como foi a fuga, mas
fugiu. Não sei como foi a fuga dele, tendo em vista que ele tentou uma
vez e ficou na mesma sala, e ele conversava com os presos. Vários presos
sabem lá que inclusive são arrolados nessa representação, de como foi
feito o acordo. Tanto é que a arma que a policia encontrou no morro não
foi a policia que descobriu; aquilo foi um preso que falou com o irmão
do jornalista, um outro preso que tinha conversado com o Jonathan, que
foram onde o Jonathan e a polícia não descobriu.
Foi uma conversa do Jonathan com outro
preso, e esse preso contou, um amigo do jornalista, um irmão, e
publicou. Depois de 15 ou 20 dias que publicou no jornal Itaqui Bacanga,
ai foi que encontraram. O próprio Jonathan disse que, no final, foi
feito um acordo para que pudesse envolver meu nome. Então eles foram no
Capitão, querendo fazer acordo para que pudesse envolver meu nome.
Então, é um fato realmente hediondo, criminoso. Esse secretário não tem
credibilidade para estar à frente do Sistema de Segurança. Mas ele faz
tudo isso e permanece? E a gente fica preocupada com as outras pessoas.
Se ele fez isso com o Cutrim, um delegado da Polícia Federal há muitos
anos, Secretário de Segurança, deputado, imagina com outras pessoas, o
que ele não é capaz de fazer!
JP – A morte de Décio Sá significa o retorno do crime organizado ao Maranhão?
RC – O Maranhão está entregue à própria
sorte, isso é uma realidade. O crime antigamente era centrado na Grande
São Luís. Hoje está no estado todo. Só na capital, pra se ter uma ideia,
de janeiro pra cá, a media é 75, 80, 90 homicídios mês; é muito alto. O
índice de criminalidade cada vez aumentando em todas as modalidades. E
não é só no homicídio; é no furto de veículo, assalto, explosão de caixa
eletrônico. Todas as modalidades de crime tiveram o índice triplicando.
Proporcionalmente, o índice de criminalidade no Maranhão é 12 vezes
maior que São Paulo.
JP – A sua saída do grupo antecedeu alguma conversa com a cúpula do governo?
RC – Minha decisão foi pensada. Eu não
reuni com ninguém, nunca ninguém me chamou e eu nunca procurei ninguém.
Não procurei nem fui procurado. Há mais de um ano é aquela campanha
criminosa em cima de mim. Eu digo que agora não tem mais o que inventar.
A única coisa que falta é me matarem. De tudo já fizeram para querer me
desmoralizar, mas o Cutrim tem um trabalho; não só no Maranhão, mas em
todo o Brasil. O Cutrim é conhecido. Por onde eu passei sempre busquei
representar bem o país e o nosso estado. Então agora eu não sei o que é
que vem, porque já veio de tudo. Eu tinha que procurar um horizonte;
então, o caminho da mudança hoje é o Flavio Dino, que é o caminho da
esperança, da renovação. E eu estou indo em busca do objetivo do povo do
estado. Não rompi aleatoriamente, não saí para resolver interesse
pessoal. Reuni com as lideranças todas, tanto da capital como do
interior, dos 211 municípios que eu tive voto. Eu liguei para todas
essas lideranças, visitei. Aqui em São Luís, onde eu tenho um numero
maior de votos, reuni com mais de 200 lideranças que me acompanham
durante todos esses anos, e que disseram: ‘vamos acompanhar o Flavio”.
Como eu disse, vamos acompanhar a senhora idosa lá de Imperatriz, que eu
perguntei lá, em uma reunião: “dona Maria, em quem vamos votar para
governador”, e ela respondeu: ‘doutor, eu estou recomendando para que
votem naquele moço que foi juiz’. Ela nem sabia o nome dele, só sabia a
historia. Então, nós estamos acompanhando a vontade do povo, da mudança,
da esperança, dos sonhos. E nisso nós vamos trabalhar para que a gente
possa fazer uma bancada boa de deputado estadual, de deputado federal e
eleger o senador, bem como eleger o governador, que é o mais importante.
Então, o Cutrim está na bancada do PCdoB para somar, não para dividir.
Votos, todos têm voto, cada um tem a sua base. Vamos trabalhar para que a
gente possa fazer uma base forte e grande e ter representatividade.
JP – O senhor chegou a propor uma CPI da Agiotagem para que fossem esclarecidas as acusações. Por que que não foi pra frente?
RC – Propus a CPI porque estavam dizendo
que eu era agiota. Então vamos investigar o Cutrim e os outros agiotas
que tem na Assembleia; vamos identificar quem são. E no estado? Vamos
saber quem são. Evidentemente tivemos 13 assinaturas, mas por questão de
conveniência, ela não saiu, faltando uma assinatura. Não julgo os
colegas. Sei que eu queria, busquei de todas as maneiras para que
pudesse acontecer. Cada um tem uma justificativa, e eu respeito a
posição de cada um, e assim não pudemos instalar a CPI para identificar
os agiotas e esclarecer tudo. Nunca pedi dinheiro emprestado para
ninguém. Eu já pedi pra mim, eu peço muito, mas não a juros. E nem
emprestei porque eu não tenho dinheiro para emprestar a juros. Eu nunca
tive ligação com agiota, nem de amizade próxima. Então, quem empresta é
problema deles, eu não tenho nada a ver com isso. Então o que a gente
sabe de agiota é de ouvir dizer.
JP – Qual é a sua opinião sobre as investigações sobre a morte de Décio Sá?
RC – É muito complexo. Como eles
tentaram me envolver, eu prefiro acompanhar. Agora só lhe digo o
seguinte: o que foi feito comigo eu não sei se fizeram com os outros,
mas essa investigação ela carece de credibilidade. O que fizeram comigo
foi um crime hediondo, foi uma tentativa de assassinato moral. Eu não
sei se fizeram com essas pessoas que estão ou dizem envolvidas.
JP – O senhor, quando foi secretário de
segurança, em 97, ficou conhecido no Maranhão ao conseguiu debelar a
marginalidade. O que mudou de lá pra cá?
RC – Naquela época eu tive apoio do
governo, do Ministério Publico, do poder legislativo, judiciário e do
Sistema de Segurança Pública, que fez zerar o roubo a carga. Naquela
época era difícil mexer naquilo. Ninguém ousava falar no assunto, mas
aquele paradigma foi quebrado. Até radinho de pilha faltou em São Luís
porque todo mundo queria ouvir as notícias, as audiências daqui e de
Brasília. Então, a população abraçou porque estava se vendo livre
daquela pressão da vida toda, da criminalidade. No Tijupá Queimado, todo
dia tinha três ou quatro mortos. Entre 2000 e 2001, no entanto, o
Maranhão era o estado menos violento do Brasil. Em 2005, era o terceiro
menos violento do Brasil. Então essa gestão atual foi a pior gestão dos
últimos 50 anos que se tem noticia no Maranhão.
O sistema está fragilizado pela falta de
credibilidade. Em segurança nós precisamos ver primeiro, antes de
qualquer investimento, a credibilidade de quem está na frente do
sistema. Lembro que fazia um trabalho no estado Roraima e a imprensa me
batia muito, entre 85 e 87, ai a imprensa veio, reuniu e disse que eu
estava perseguindo fulano. Eu digo: olha ele é bandido por isso e por
isso. Tem três filhos com a filha. Preciso dizer mais alguma coisa? A
mesma coisa é com esse rapaz (Aluísio Mendes) com a mente doentia que
ele tem, o que ele conseguiu armar para querer resolver um problema
pessoal ou de gestão. Eu não tenho culpa porque ele não decolou e não
sabe administrar. O secretário é agente da Policia Federal. O Maranhão é
o único estado onde um soldado comanda um coronel. É o oposto de todos
os estados, mas só tem essas coisas no Maranhão. Tudo o que não presta
vem pra cá. Então ele assumiu como agente da Policia Federal, entre 90 e
91, e foi trabalhar com o presidente (José Sarney) com 6 meses que
assumiu. Ele não tem um dia de serviço prestado na PF, ele nunca suou a
camisa na PF. O que ele fez mesmo foi trair a policia quando a
instituição precisava dele. De janeiro pra cá, a criminalidade tem
aumentado. No Maranhão nós vivemos uma guerra civil, estado de
calamidade pública. Esta é a situação da segurança.
JP – Como o senhor se sente agora na oposição?
RC – Eu procuro ser muito leal e ético
por onde passo. Eu trabalhei com o governador Zé Reinaldo, e ele foi uma
pessoa correta na administração pública. Nunca interferiu no Sistema de
Segurança Publica. Fiquei na oposição a ele porque eu fiquei de um lado
político e ele de outro, mas a amizade continuou. O assunto é
exclusivamente com o sistema de segurança e o meu grupo político me
abandonou, mesmo sabendo que foi armação, sem dizer uma só palavra. O
Maranhão todo sabe que foi armação e continuaram a fazer vistas grossas
para acabar com a minha credibilidade. O negócio foi tão criminoso que
eu perdi meu filho no dia 1 de abril. Quinze dias depois, estamparam que
eu estava envolvido com agiotagem. Eles achavam que tinham me matado e
dariam só o tiro de misericórdia. Disseram que a juíza encaminhou para o
tribunal farta documentação do envolvimento do deputado Cutrim com
agiotagem. Mas, como? Busquei saber o que a juíza encaminhou. Mandou a
cópia do inquérito de Décio Sá. “Encaminho a vossa excelência na forma
do artigo tal da constituição estadual e federal para conhecimento e
providencias”, e só. Encaminharam a cópia do inquérito, só a copia do
inquérito e nenhum outro documento. Então tentaram me desmoralizar a
todo custo. Acredito que é problema de gestão. Mas passado é passado,
não podemos guardar mágoa. Saio de cabeça erguida, sem jogar pedra em
ninguém. Não estou cuspindo no prato que comi. A governadora continua
minha amiga. O presidente Sarney eu tenho um carinho por ele. Mas hoje
eu estou em outro grupo político. Vou me filiar no sábado, dia 14, a
partir das 15 horas, e convido os amigos para testemunhar esse momento
histórico na minha vida. E vou lutar para eleger deputados estaduais,
federais, senador, e o objetivo principal é eleger o Flávio Dino
governador, que no momento é o sonho do povo, da mudança. E eu vou
seguir o povo e trabalhar para que ele possa ser eleito e possa fazer um
grande trabalho em prol do povo do Maranhão.
JP – O senhor disse que tomou a decisão
após ouvir uma senhora experiente que o aconselhou a votar no Flávio
Dino. O senhor tem detectado esse sentimento de mudança?
RC – Olha, eu já tinha essa impressão há
muito tempo. Várias pessoas me diziam quem votariam em mim se eu
apoiasse Flávio Dino. Quando eu comecei fazer reuniões com as
lideranças, com 10, 15 pessoas, eles me diziam que eu tinha que ir com o
doutor Flávio. Em São Luís eu não tive uma liderança contrária a isso.
No interior essa vontade foi quase unanimidade. Depois que eu anunciei o
rompimento, tenho recebido telefonemas de apoio do Maranhão inteiro, de
pessoas que eu nunca nem vi. Então, nós vamos para a vontade do povo
que é a mudança para fazer um trabalho com transparência,
profissionalismo e dedicação.
JP – O senhor acredita que a mudança é possível em 2014?
RC – Eu não acredito; tenho certeza,
assim como tenho certeza da minha vitória, Tenho certeza da eleição de
Flávio Dino para governador do Maranhão.
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