Sistema de ônibus em Londres (Foto: Caroline Donatti/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
Essas percepções dos cidadãos são importantes para identificar quais iniciativas agradam as pessoas e atendem suas necessidades. “Os sistemas de mobilidade inteligentes só terão sucesso se as pessoas forem incluídas nos processos”, afirma Sofia. De acordo com a especialista, os sistemas de mobilidade desenvolvidos na cidade devem ser dirigidos pelas pessoas e informados por dados. “Nós temos que pensar nas pessoas. Olhar para a mobilidade de forma diferente”, ressalta. Identificar quais os perfis dos usuários, os seus padrões de deslocamento e o que isso significa leva às melhores opções de investimentos já que, sem essa análise, corre-se o risco de o investimento não ter o efeito esperado na melhoria da mobilidade nem na utilização desse serviço pelos usuários. “O modelo de negócio está implícito em tudo, mas o sistema precisa ser bom para todo mundo: operadores, governo e cidadãos”, afirma Sofia.

Sofia Taborda, líder de projetos de mobilidade da Future Cities Catapult (foto: Caroline Donatti/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
É claro que novas ideias são bem-vindas, mas é preciso avaliar até que ponto a cidade está preparada para a inovação que, implementada de forma desconectada, tem pouco impacto na melhoria geral da mobilidade. A inovação deve estar atrelada a uma visão de cidade e à capacidade de viabilizar e executar. A criação e implementação de uma ideia nova na mobilidade precisa considerar o desempenho da cidade nos índices de qualidade de vida. Os líderes locais devem olhar esses números com cuidado e atenção, buscando sempre tomar decisões que sejam guiadas por esses dados. “Temos que reduzir as necessidades de mobilidade em vez de criar outras formas de mobilidade individual e pensar em como essas tecnologias podem facilitar novos paradigmas”, comenta Sofia. Os carros elétricos e autônomos podem ser uma opção de tecnologia de transição, mas não vão resolver o problema dos congestionamentos e podem até piorá-lo.
Um modelo de gestão metropolitana
Manchester, no noroeste do país, possui 2,7 milhões de habitantes: cinco milhões na área metropolitana. “Manchester foi um dos primeiros locais que se combinou com outras prefeituras. Eram municípios separados e se formou uma única prefeitura para satisfazer as necessidades de transporte da população”, afirma Rafael Cuesta, diretor de inovação da empresa de trânsito de Manchester (Transport for Greater Manchester). O conjunto de municípios recebe um orçamento do governo federal para planejar a mobilidade de forma integrada.
Além de uma organização metropolitana, a cidade está se organizando rápido para planejar o futuro e continuar garantindo crescimento econômico sustentável, qualidade de vida e proteção ao meio ambiente. As projeções de crescimento da cidade indicam que, até 2040, a cidade terá mais de 3 milhões de habitantes e mais de 800 mil viagens diárias adicionais na rede de transporte. O transporte é responsável por um terço das emissões de carbono e a cidade pretende reduzir 48% deste valor até 2020. “Para garantir o equilíbrio da cidade frente a essas rápidas mudanças, precisaremos de inovação”, afirma Rafael. As ruas e avenidas são sobrecarregadas pelo excesso de viagens de transporte individual: 60% das viagens com menos de 2 km são feitas por carros; 40% com transporte público; o transporte a pé e de bicicleta representam apenas 2%. “Estamos trabalhando para melhorar as tecnologias para produção de carros e trens que facilitem as conexões até 2020. A oferta de tecnologia traz benefícios e temos que aproveitar isso”, conta Rafael.

Sede da Future Cities Catapult (foto: Caroline Donatti/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
O ponto positivo dessas mudanças no cenário da cidade é que na Europa e no Reino Unido cada vez menos pessoas querem dirigir porque o status de ter um carro diminuiu. “As pessoas hoje têm muito mais interesse em um telefone. Isso traz grande oportunidade para o transporte coletivo, mas precisamos ter qualidade”, menciona Rafael.
O especialista também traz uma nova abordagem para pensar as redes de transportes da cidade. Antigamente, o transporte era planejado por áreas, por distritos. As novas estratégias pensam em outras formas de organizar o sistema de transporte da cidade, que tem como foco as pessoas e não os lugares. O transporte em si perde valor se não for conectado às necessidades das pessoas e deve ser visto como apoio para a economia e os cidadãos. “O modelo de inovação vem da experiência do cliente. Se não vai de encontro aos seus desejos, significa que não vai funcionar. Temos que levar em conta o consumidor e precisamos de parcerias e de colaboração”, explica Rafael. Os modelos comerciais de soluções muitas vezes não são bem-sucedidos, pois não são centrados no cliente.
O foco de Manchester agora é desenvolver e implementar um sistema de mobilidade integrado. A cidade, em conjunto com a Future Cities Catapult, está coletando informações por meio de sensores e aplicativos para entender quais são as necessidades da população. O projeto, ainda em fase de testes, pretende reestruturar a mobilidade da cidade como se fosse um serviço. “Os nossos clientes querem uma operação com apenas um clique de um ponto a outro. A jornada precisa ser totalmente integrada, com informação precisa e base confiável. Como usamos análise de dados, podemos ser proativos na gestão e na administração da rede”, afirma Rafael.
A grande área de Manchester também utiliza dados abertos, pois só assim a comunidade técnica consegue criar soluções inovadoras. A mobilidade compartilhada também faz parte dos planos para o futuro, assim como a ampliação da infraestrutura para carros elétricos. Hoje, a região possui cerca de 300 pontos de carregamento, mas esses pontos precisam chegar a 1000 para que a cidade reduza as emissões de carbono. Para isso, grande parte da frota precisa ser elétrica, e o compartilhamento de bicicletas, incentivado. “Estamos tentando formatar um modelo comercial que viabilize um esquema ciclístico. Precisamos de parcerias para que esses pontos de bicicleta sejam economicamente viáveis e garantam um transporte sem emissões”, conta Rafael.
João Domingos, do Instituto Pelópidas Silveira, de Recife, explica que a cidade está tentando operar o transporte público de forma mais integrada a partir do desenvolvimento de uma rede metropolitana em conjunto com outras 14 cidades e questionou o Transport for Greater Manchester sobre os desafios desse tipo de operação. Rafael diz que é preciso conciliar interesses: “Essa operação integrada foi criada há 30 anos e baseou-se totalmente na rede de transporte público a partir de um modelo econômico. Isso aconteceu pois houve vontade política, já que os benefícios eram compartilhados. Vontade política e diálogo entre as cidades e agências são fundamentais para que as cidades consigam integrar as iniciativas e se pronunciar como uma única voz”.
Os investimentos na melhoria da mobilidade em Manchester foram feitos a partir da criação do fundo de transportes baseado na receita da rede. “As PPPs tiveram experiências dúbias para a áreas de transporte, mas em Manchster criaram o fundo para poder ver o que ia funcionar e analisar a infra necessária para implementar”, comenta Rafael.
A missão técnica ao Reino Unido é parte do projeto Cidades + inteligentes no Brasil, realizada em parceria entre WRI Brasil Cidades Sustentáveis e Future Cities Catapult e conta com o apoio da Embaixada Britânica. Celio Bouzada, da BHTrans; Eleoterio Codato, do Ministério das Cidades, João Domingos Azevedo, do Instituto Pelópidas Silveira (Recife), Matheus Ortega, gerente de infraestrutura do Prosperity Fund da Embaixada Britânica e Guilherme Johnson, da Future Cities Catapult, participaram de uma viagem de cinco dias ao Reino Unido para conhecer boas ideias de cidades inteligentes que podem inspirar os municípios brasileiros a serem mais inovadores.
Sofia Taborda, líder de projetos de mobilidade da Future Cities Catapult (foto: Caroline Donatti/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
É claro que novas ideias são bem-vindas, mas é preciso avaliar até que ponto a cidade está preparada para a inovação que, implementada de forma desconectada, tem pouco impacto na melhoria geral da mobilidade. A inovação deve estar atrelada a uma visão de cidade e à capacidade de viabilizar e executar. A criação e implementação de uma ideia nova na mobilidade precisa considerar o desempenho da cidade nos índices de qualidade de vida. Os líderes locais devem olhar esses números com cuidado e atenção, buscando sempre tomar decisões que sejam guiadas por esses dados. “Temos que reduzir as necessidades de mobilidade em vez de criar outras formas de mobilidade individual e pensar em como essas tecnologias podem facilitar novos paradigmas”, comenta Sofia. Os carros elétricos e autônomos podem ser uma opção de tecnologia de transição, mas não vão resolver o problema dos congestionamentos e podem até piorá-lo.
Um modelo de gestão metropolitana
Manchester, no noroeste do país, possui 2,7 milhões de habitantes: cinco milhões na área metropolitana. “Manchester foi um dos primeiros locais que se combinou com outras prefeituras. Eram municípios separados e se formou uma única prefeitura para satisfazer as necessidades de transporte da população”, afirma Rafael Cuesta, diretor de inovação da empresa de trânsito de Manchester (Transport for Greater Manchester). O conjunto de municípios recebe um orçamento do governo federal para planejar a mobilidade de forma integrada.
Além de uma organização metropolitana, a cidade está se organizando rápido para planejar o futuro e continuar garantindo crescimento econômico sustentável, qualidade de vida e proteção ao meio ambiente. As projeções de crescimento da cidade indicam que, até 2040, a cidade terá mais de 3 milhões de habitantes e mais de 800 mil viagens diárias adicionais na rede de transporte. O transporte é responsável por um terço das emissões de carbono e a cidade pretende reduzir 48% deste valor até 2020. “Para garantir o equilíbrio da cidade frente a essas rápidas mudanças, precisaremos de inovação”, afirma Rafael. As ruas e avenidas são sobrecarregadas pelo excesso de viagens de transporte individual: 60% das viagens com menos de 2 km são feitas por carros; 40% com transporte público; o transporte a pé e de bicicleta representam apenas 2%. “Estamos trabalhando para melhorar as tecnologias para produção de carros e trens que facilitem as conexões até 2020. A oferta de tecnologia traz benefícios e temos que aproveitar isso”, conta Rafael.
Sede da Future Cities Catapult (foto: Caroline Donatti/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
O ponto positivo dessas mudanças no cenário da cidade é que na Europa e no Reino Unido cada vez menos pessoas querem dirigir porque o status de ter um carro diminuiu. “As pessoas hoje têm muito mais interesse em um telefone. Isso traz grande oportunidade para o transporte coletivo, mas precisamos ter qualidade”, menciona Rafael.
O especialista também traz uma nova abordagem para pensar as redes de transportes da cidade. Antigamente, o transporte era planejado por áreas, por distritos. As novas estratégias pensam em outras formas de organizar o sistema de transporte da cidade, que tem como foco as pessoas e não os lugares. O transporte em si perde valor se não for conectado às necessidades das pessoas e deve ser visto como apoio para a economia e os cidadãos. “O modelo de inovação vem da experiência do cliente. Se não vai de encontro aos seus desejos, significa que não vai funcionar. Temos que levar em conta o consumidor e precisamos de parcerias e de colaboração”, explica Rafael. Os modelos comerciais de soluções muitas vezes não são bem-sucedidos, pois não são centrados no cliente.
O foco de Manchester agora é desenvolver e implementar um sistema de mobilidade integrado. A cidade, em conjunto com a Future Cities Catapult, está coletando informações por meio de sensores e aplicativos para entender quais são as necessidades da população. O projeto, ainda em fase de testes, pretende reestruturar a mobilidade da cidade como se fosse um serviço. “Os nossos clientes querem uma operação com apenas um clique de um ponto a outro. A jornada precisa ser totalmente integrada, com informação precisa e base confiável. Como usamos análise de dados, podemos ser proativos na gestão e na administração da rede”, afirma Rafael.
A grande área de Manchester também utiliza dados abertos, pois só assim a comunidade técnica consegue criar soluções inovadoras. A mobilidade compartilhada também faz parte dos planos para o futuro, assim como a ampliação da infraestrutura para carros elétricos. Hoje, a região possui cerca de 300 pontos de carregamento, mas esses pontos precisam chegar a 1000 para que a cidade reduza as emissões de carbono. Para isso, grande parte da frota precisa ser elétrica, e o compartilhamento de bicicletas, incentivado. “Estamos tentando formatar um modelo comercial que viabilize um esquema ciclístico. Precisamos de parcerias para que esses pontos de bicicleta sejam economicamente viáveis e garantam um transporte sem emissões”, conta Rafael.
João Domingos, do Instituto Pelópidas Silveira, de Recife, explica que a cidade está tentando operar o transporte público de forma mais integrada a partir do desenvolvimento de uma rede metropolitana em conjunto com outras 14 cidades e questionou o Transport for Greater Manchester sobre os desafios desse tipo de operação. Rafael diz que é preciso conciliar interesses: “Essa operação integrada foi criada há 30 anos e baseou-se totalmente na rede de transporte público a partir de um modelo econômico. Isso aconteceu pois houve vontade política, já que os benefícios eram compartilhados. Vontade política e diálogo entre as cidades e agências são fundamentais para que as cidades consigam integrar as iniciativas e se pronunciar como uma única voz”.
Os investimentos na melhoria da mobilidade em Manchester foram feitos a partir da criação do fundo de transportes baseado na receita da rede. “As PPPs tiveram experiências dúbias para a áreas de transporte, mas em Manchster criaram o fundo para poder ver o que ia funcionar e analisar a infra necessária para implementar”, comenta Rafael.
A missão técnica ao Reino Unido é parte do projeto Cidades + inteligentes no Brasil, realizada em parceria entre WRI Brasil Cidades Sustentáveis e Future Cities Catapult e conta com o apoio da Embaixada Britânica. Celio Bouzada, da BHTrans; Eleoterio Codato, do Ministério das Cidades, João Domingos Azevedo, do Instituto Pelópidas Silveira (Recife), Matheus Ortega, gerente de infraestrutura do Prosperity Fund da Embaixada Britânica e Guilherme Johnson, da Future Cities Catapult, participaram de uma viagem de cinco dias ao Reino Unido para conhecer boas ideias de cidades inteligentes que podem inspirar os municípios brasileiros a serem mais inovadores.
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