sábado, 20 de janeiro de 2018

Guaraná Jesus, o refrigerante do Maranhão que já bateu até a Coca-Cola

A maranhense Themille Lutz moradora de Fortaleza, é apaixonada pelo refrigerante (FOTO: Alexandre Lutz)
Refrigerante cor-de-rosa hoje pertence a Coca-Cola. Por ironia, apesar de ter o mesmo nome do filho de Deus, o Jesus foi criado por que os maranhenses pedem a bebida cor-de-rosa, de sabor adocicado, tão típica quanto a cultura do bumba-meu-boi no Maranhão. Em qualquer época do ano (até mesmo no Natal), no estado nordestino o primeiro significado da palavra Jesus é um refrigerante. A brincadeira reflete um fenômeno que começou local e se tornou famoso no Brasil.
Mas que refrigerante é esse, que chega a ser motivo de orgulho para os maranhenses e todo visitante é sempre convidado a provar? Para quem não é do Maranhão, o que mais chama a atenção é a cor. Se não estivesse em uma garrafa de refrigerante, poucos diriam que se trata de uma bebida. O nome também pode soar inconveniente. Mas, no Maranhão, para muitos que gostam de refrigerante, não se troca um copo de Guaraná Jesus nem por dois litros de Coca-Cola bem gelada.
A maranhense Thenille Lutz, de 31 anos, é apaixonada pelo Guaraná Jesus. Apesar de morar em Fortaleza, em todas as férias volta ao estado para se deliciar com a bebida, que ela faz questão de afirmar ter uma essência toda especial de canela. “Na casa das minhas avós sempre teve Guaraná Jesus. Então toda vez que bebo, remeto à minha infância, à nossa família”, lembra.
O sabor da bebida é um dos mais peculiares da indústria de refrigerantes. O Guaraná Jesus tem um toque especial de cravo e canela e é muito, muito doce. A fórmula exata tem uma aura de mistério. “Eu gosto porque sinto esse sabor, e não sabor de chiclete como muita gente diz. O zero caloria é mais gostoso ainda”, completa.
Criado em 1927, num pequeno laboratório de São Luís, por Jesus Norberto Gomes, o refrigerante enraizou-se no gosto maranhense. O farmacêutico produzia medicamentos, como antigripais, por exemplo. Com o negócio próspero, Jesus decidiu adquirir máquinas gaseificadoras. Foi então que ele resolveu produzir águas gasosas e refrigerantes. O primeiro produto Guaraná Jesus tinha um sabor amargo e não agradou a maior parte dos degustadores.
Depois de muitas misturas e degustações entre os amigos, Jesus Gomes conseguiu encontrar a fórmula de sucesso. “Obstinado, continuou as experiências, logo chegando à formula atual, muito bem aceita pela cor e pelo sabor”, explica o diretor de Marketing e Processos Comerciais da Solar Coca-Cola, Paulo símbolo cultural do estado. Ele deu origem a um subsegmento, o guaraná rosado, comum também no Piauí e Pará. O refrigerante tradicional, conhecido pela sua peculiar cor-de-rosa e que por muitos anos foi o mais vendido na Região Norte, encantou até a poderosa Coca-Cola. Jesus cedeu e foi comprado pela grande corporação. Agora, no Maranhão, o guaraná é o segundo mais consumido.
Os dois refrigerantes são engarrafados no mesmo local. E saem juntinhos para os supermercados. Outro detalhe: o Guaraná Jesus é vendido em mercearias, supermercados ou em qualquer outro estabelecimento pelo mesmo preço da Coca-Coca! A bebida é comercializada em 270 cidades do Maranhão, Piauí e Tocantins. É claro, entretanto, que empresários maranhenses ou pessoas que têm relação com o estado vendem o produto em alguns estabelecimentos em cidades como o Rio de Janeiro, Brasília e São Paulo.crescimento de volume registrado nos últimos cinco anos, desde 2008 até o ano passado, foi de 45,8%. “Isso demonstra que estamos seguindo pelo caminho certo. É um número muito positivo e isso se deve, mais do que tudo, ao amor e à identificação que as pessoas têm pelo produto”, comemora. A quantidade de litros vendidos é confidencial.

Simpatia Brasil afora
Mesmo com pouquíssima propaganda, a popularidade vai contra a lógica publicitária: até 1998 nenhuma propaganda do produto tinha sido veiculada em qualquer meio de comunicação. Em 2010, com o prêmio internacional de design pela campanha de renovação da embalagem da Jesus, o refrigerante foi destaque em veículos de comunicação nacionais e nas redes sociais.
Nos últimos anos, seu nome engraçado e sua cor fascinante ganharam simpatia Brasil afora. Há diversas páginas a seu respeito no Facebook. Vídeos no YouTube brincam com o refrigerante em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Curitiba e outras cidades espalhadas pelo país – o tipo de tratamento espontâneo e alegre que empresas gastam milhões para conseguir. “É uma marca com incrível aceitação de público e que recebe investimentos de marketing para fomentar cada vez mais a marca nas mesas dos consumidores”, afirma Paulo Sérgio. atualmente em garrafas PET, garrafas de vidro e em latas. Os tamanhos variam de 200 mL a 2,5 L. No período de festas natalinas, também são comercializadas as embalagens PET de 3 L. Em 2011, como forma de atender a uma demanda crescente dos consumidores por produtos sem açúcar, a Renosa (distribuidora) e a Coca-Cola trouxeram uma novidade para os apreciadores do Guaraná Jesus: o zero caloria, sem adição de açúcar. A versão é apresentada nas embalagens lata 350 mL e garrafa PET 2 L.

“Antigamente só vendia aquela garrafa de vidro. Agora tem de todo o tipo. É bom porque dá para trazer para os amigos aqui em Fortaleza. Quem conhece e sabe que eu vou para o Maranhão pede logo para eu trazer. A galera gosta muito”, conta a cearense Raquel Carvalho, de 30 anos, filha de maranhense.
Jesus está presente na vida das pessoas de uma maneira muito intensa, seja entre o público jovem, adulto e idoso. Todos, de alguma forma, se identificam com a marca. O publicitário cearense Luís Fernando Portela, de 26 anos, adora o refrigerante. “Meus pais são maranhenses. Lá, as pessoas realmente amam Guaraná Jesus e sentem orgulho por ser um produto típico. Na minha família, durante as refeições não pode faltar Jesus na mesa. É claro que ainda se toma outros refrigerantes, mas acho que nenhum supera o Guaraná Jesus dentro do Maranhão”, conclui.
O sucesso certamente agradaria o criador da bebida Jesus Norberto Gomes que, quem diria, era ateu, foi excomungado pela Igreja Católica e morreu em 1963. Enquanto a distribuição de Jesus continua restrita a apenas três estados das Regiões Norte e Nordeste, o restante dos brasileiros fica à espera para matar a curiosidade e, quem sabe um dia, poder se deliciar com o tão comentado refrigerante cor-de-rosa do Maranhão.

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