sábado, 6 de outubro de 2018

Oligarquia é responsável por democracia elitista no Maranhão


Pesquisador Sílvio Bembem aponta a frágil participação popular em sua tese de doutorado pela PUC/SP

Inexiste diferença de percepção entre os agentes de movimentos sociais e os políticos sobre o modelo de democracia vigente no Maranhão. Ela é elitista e de frágil participação popular e controle social.  Essa é a conclusão da pesquisa realizada por Sílvio Bembem, que defendeu, na sexta, 21/09, a sua tese de doutorado em Ciências Sociais e Política na Pontifícia Universidade Católica (PUC), na capital paulista.

“Isso decorre das práticas oligárquicas e da cultura política de base familiar e parentela, que levam às desigualdades, pobreza, analfabetismo e ao atraso socioeconômico”, avaliou Sílvio. Em seu trabalho “A democracia em uma formação social periférica, dependente e oligárquica”, Bembem efetuou um estudo sobre o Maranhão entre os anos de 2002 e 2016, período que engloba a eleição de Luís Inácio Lula da Silva e o impeachment de Dilma Roussef.

“Pode-se afirmar que o modelo oligárquico é um dos fatores que contribuiu para o impedimento da instalação de uma democracia que parte da sociedade almeja”, ponderou o pesquisador.  “A democracia participativa perde força, pois o povo somente é convocado ou lembrado no período eleitoral”, afirmou.
Segundo o pesquisador, a sua tese busca analisar a ligação entre sociedade e Estado, assemelhando-se aos estudos de Karl Marx quando criou a categoria bonapartismo em sua obra “O 18 de Brumário de Luís Bonaparte”, relançada pela editora Boitempo em 2011. “Marx analisou as ações de indivíduos, como Bonaparte, Barrot, Cavaigane e Blanc, buscando entender o modo de funcionamento do mundo real da cena política na França”, apontou Bembem”. “Em nosso trabalho, fizemos uma pesquisa empírica, de uma situação concreta, com análise da vida real cotidiana e do cenário político contemporâneo, tendo José Sarney (PMDB) como personagem-chave, desde a sua ascensão ao governo do Maranhão até as suas relações com Lula (PT), José Reinaldo Tavares (PFL) e Jackson Lago (PDT), dentre outros atores”, comparou.

Sarney entrevistado
Para chegar a essa conclusão, Sílvio Bebem realizou 35 entrevistas com diferentes personagens da cena política maranhense. O levantamento dos
dados, realizada entre maio de 2016 e julho de 2017, também foi feita com sujeitos de movimentos sociais e intelectuais-pesquisadores.

Além de José Sarney, foram entrevistados Flávio Reis, Joan Botelho, Luís Pedrosa, Benedito Buzar, Josemar Pinheiro, Haroldo Saboia, Emílio Azevedo, José Reinaldo Tavares, Manoel de Jesus Barros Martins, Alfredo Berne Wagner de Almeida, Polícarpo Neto, Chico Gonçalves, Marcos Silva, Eliezer Moreira, Saturnino Filho, Mary Ferreira, Jonas Borges, Noé Maciel, Maria Alzerina Monteles, Washington Luís, Beatriz Bissio, João Pedro Stédile, Domingos Dutra, Raimundo Palhano,Raimundo França Dutra, Joaquim Alves de Sousa, Ângela Maria Silva, Maria de Jesus Ferreira Brigel, Remi Ribeiro, João Maria Van Damme, Aderson Lago,Marcelo Pinto, Edson Vidigal  e Luís Pedro.

“Caracterizamos como ‘políticos’ aqueles que ocuparam cargos públicos de alto escalão e de relevância estratégica na burocracia estadual e que concorreram a cargos eletivos estadual no período da pesquisa”, explicou. “Como sujeitos de ‘movimentos sociais’ foram caraterizados os militantes e dirigentes de entidade da sociedade civil com certo engajamento político”, complementou. Na categoria de “intelectual-pesquisador” foram enquadrados acadêmicos e professores vinculados a instituições de ensino e pesquisa, com participação e militância política no Maranhão.

Segundo o pesquisador, as várias interpretações foram muito convergentes. “Esperava-se, por parte dos sujeitos dos movimentos sociais, uma associação, ao menos no plano teórico, com as características da democracia participativa, o que não se identificou”, lastimou.

A pesquisa qualificativa utilizou análise de discurso e outras fontes como artigos, revistas, jornais, redes sociais, acervos pessoais e das bibliotecas da UFMA, PUC-SP, UEMA, Biblioteca Pública Benedito Leite e Centro de Cultura Josué Montello.

Ao final, o trabalho também efetuou uma breve atualização da trajetória de José Sarney e descreveu como se forjou e se consolidou a sua aliança com Lula como coalizão da governabilidade, a partir de 2002. “Nesse momento, a Democracia dos Políticos tornou-se hegemônica, com os acordos entre as oligarquias políticas e grandes empresários e a renúncia à qualquer estratégia
de transformação por meio da aliança com os movimentos sociais”, analisou Bembem.

O futuro do Maranhão
“A perspectiva, agora, é pensar um futuro melhor para o Maranhão, que possui uma sociedade com baixa diversificação social, clivada por grandes desigualdades, com assimetria étnico-racial”, ponderou Sílvio Bembem.
“Essa cultura política de base familiar e oligárquica teve um papel essencial na formação e na configuração da democracia no Maranhão, como sendo patrimonialista e repleta de práticas autoritárias”, prosseguiu.  “Nada mais justifica uma família dominar por tanto tempo um estado pobre do Brasil, ainda mais no século XXI; precisamos mudar esse cenário”, concluiu.
A pesquisa de Sílvio Bembem foi orientada pelo professor doutor Edison Nunes (PUC/SP) e a banca examinadora contou ainda, com os professores doutores Lúcia Maria Machado Bógus, Ramon Casas Vilarino, Emmanuel Silva Nunes de Oliveira Junior e Flávio José Soares da UFMA.
O pesquisador
O título de doutor em Ciências Sociais agrega ainda mais o histórico de Sílvio Bembem que é administrador, cientista político, especialista em Sociologia e mestre em Ciências Sociais (PUC-SP). Filho de pedreiro e de costureira, Sílvio Bembem nasceu no bairro da Liberdade, em São Luís, e iniciou a sua liderança política no bairro da Areinha.  Casado há 27 anos e tem três filhos estudantes da graduação e 10 irmãos.  Servidor público federal do Hospital Universitário foi secretário-adjunto de Estado da Igualdade Racial no governo Jackson Lago (2007-2009) e assessor da reitoria da UFMA (2013-2015).
Atua na militância política na sociedade civil há mais de 35 anos, tendo participado dos movimentos Estudantil, Comunitário, Sindical Previdenciário, de Moradia, lutas antirracistas e depois do movimento partidário. Foi filiado do Partido dos Trabalhadores (PT) por 27 anos e fundador do partido REDE. Hoje é integra o Partido Socialista Brasileiro (PSB) e é candidato a deputado estadual, na coligação Todos Pelo Maranhão.

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