Bibi Ferreira sai hoje de cena, aos 96 anos, mas não vai sozinha. Com ela, saem também de cena Piaf, Joana, Dolly, Amália, Eliza Doolittle e tantas outras personagens e cantoras – reais ou fictícias – que essa extraordinária atriz carioca chamada Abigail Izquierdo Ferreira (1º de junho de 1922 – 13 de fevereiro de 2019) encarnou em musicais de teatro e em shows ao longo dos 76 anos de impagável atuação nos palcos do Brasil.
Entre 1941 e 2017, ano do retrospectivo show Por toda a minha vida – La dernière tournée, Bibi foi quem escolheu ser. Era primordialmente atriz, mas foi também cantora – de repertório poliglota que incluía temas até em alemão e em grego! – apresentadora de TV e diretora de shows de intérpretes como Maria Bethânia. Uma artista multimídia, quando este termo ainda nem havia sido inventado.

Além da afinação, Bibi tinha notável senso rítmico, o que a possibilitava cantar um samba de Noel Rosa (1910 – 1937) com o mesmo perfeccionismo com que dava voz ao cancioneiro magistral criado por Chico Buarque para a peça Gota d'água (1975), marco do teatro musical brasileiro e um dos muitos ápices da trajetória da artista. Perpetuado em alguns discos com os números e textos dos espetáculos musicais, a arte de Bibi Ferreira foi e é tão grande que não cabe em palavras e nem mesmo em um palco. Bibi Ferreira é transcendental.
Quando a atriz paulista Cacilda Becker (1921 – 1969) saiu de cena, há 50 anos, o poeta Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987) subverteu a regra gramatical da língua portuguesa ao resumir a notícia na frase "morreram Cacilda Becker".
Para Bibi Ferreira, vale o mesmo. Essa atriz e cantora multidimensional foi muitas em uma só sem nunca deixar de ser única, inigualável. Enfim, Bibi Ferreira "saíram" de cena para entrar na eternidade.
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