O dia amanheceu triste, mas ensolarado, parecia que seria um dia qualquer, desses que se repetem naturalmente, aqui no Paço de Lumiar. Já estava travada uma guerra de liminares entre Bia Aroso e Raimundo Filho, pela prefeitura de Paço. Às dez horas da manhã da segunda feira eu ligava para o jornalista Décio Sá, para informar que estava acontecendo uma guerra na porta do Banco do Brasil para quem de direito poderia sacar o fundo de participação do município, e ele respondia com todas as letras "vai lá e faz alguma coisa, sai desse muquifo e procura trabalhar e manda as informações para mim".
Décio Sá, além de meu amigo , era uma pessoa que tinha toda a liberdade de me tratar como pessoa de bem e de me destratar, quando eu merecia. Éramos bons amigos, ele nutria por mim um carinho todo especial. Era um homem de poucos amigos, que eu lembre, Martin Varão, Marcelo Vieira e Caio Hostílio, eram os que realmente frequentavam a casa dele. Era todo desconfiado, não gostava de ostentação, quando frequentava restaurantes sofisticados era a convite dessa elite que queria saber dos podres dos outros. Décio era bem informado, porque era jornalista 24 horas, não descansava, e dormia na mesa direto, bebia pouco e trabalhava muito.
Mas o que o povo quer saber de fato é quem matou o jornalista Décio Sá? Não foi 1, 2, 4, nem consórcio, como diz a maioria das pessoas. Quem matou o jornalista Décio Sá foi uma elite dominante que se estabeleceu há décadas em nosso pobre Maranhão. Os tiros que mataram o grande e competente Décio Sá tinham nome e sobrenome, e ninguém percebeu: preconceito, intolerância e racismo. A elite deste Estado nunca engoliu o fato de que um negro, pobre, morador do João Paulo, filho de uma família simples de Pinheiro tivesse tanto respaldo e uma audiência tamanha que tinha o blog do Jornalista Décio Sá. De tanta audiência que o blog dele tinha, que já causava furor dentro do próprio jornal o Estado do qual ele era funcionário. Ninguém imaginava, nem ele próprio, que alguém teria coragem de alvejá-lo com vários tiros a queima roupa no nariz do governo, que ele representava e defendia com toda a força. Só que nos últimos dias antes da sua morte, Décio Sá já estava atacando seus próprios aliados.
O jornalista Décio Sá acreditava muito no sistema e não percebia que o sistema capitalista é cruel e é regido por um Estado burguês que coisifica as pessoas e personifica as coisas, ou seja, um instrumento que a classe dominante utiliza para defender e garantir seus interesses. Essa compreensão o nobre jornalista não tinha. A elite, além de assassinar o grande jornalista, ainda conseguiu manchar a sua imagem afirmando com toda veemência que Décio Sá era chantagista e que tinha a prática de extorsão, o que é uma grande mentira, ele era uma pessoa justa, não admitia receber dinheiro de ninguém. Para alguns ele fazia assessoria e para outros trabalhava pela amizade. Décio Sá era funcionário do jornal o Estado do Maranhão e assessor do TCE. A elite sempre com esse exercício comum e histórico de estigmatizar as pessoas para se manter no poder.
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