Neste ano de 2025, São Luís celebra 413 anos e uma economia em desenvolvimento, que tem os pequenos negócios como forças mais representativas.
Foi na Praia Grande que floresceu o comércio de São Luís nos séculos XVIII e XIX. O Largo do Comércio e o Mercado das Tulhas eram os principais centros de venda de grãos, produtos maranhenses e mercadorias. O local reunia comerciantes da Praça de São Luís, conectados com as rotas de comércio para o Velho Continente. Caixeiros viajantes ajudavam a espalhar esse fluxo Maranhão adentro. E os pregoeiros davam o tom da propaganda, conquistando a clientela no “gogó”.
Desde então, o comércio da Praia Grande imprime uma dinâmica à cidade e ao território, onde está o acervo reconhecido pela Unesco como Patrimônio da Humanidade. Mas, o processo de ocupação urbana para além do Rio Anil, o crescimento da população, o surgimento de novos bairros com a abertura de novos trajetos urbanos, entre outros fatores, explicam a emergência de novos eixos comerciais importantes que marcam atualmente. Hoje, em lugar dos entrepostos comerciais, surgiram (na região metropolitana) nove shopping centers e um crescente número de galerias e centros comerciais espalhados por uma cidade que se moderniza, sem perder o encanto e a beleza acolhedora.
Empreendedores como Neide Baldez, da Tok Africano, têm raízes que guardam semelhanças com esse movimento. Ela já empreendeu na Praia Grande, na Galeria 66, espaço colaborativo na escadaria Humberto de Campos. Criativa e talentosa, hoje divide espaço e sonhos com 20 outras empreendedoras da economia criativa, na Loja Colaborativa Feira MA Preta, no Shopping Rio Anil. Sua história revela tendências no crescimento econômico de São Luís, que celebra 413 anos de fundação, neste dia 8 de setembro.
Primeiro, a presença cada vez maior de mulheres empreendedoras na economia da capital (líderes de 47,4% dos empreendimentos da capital); o crescimento do afroempreendedorismo e da economia criativa; o surgimento de novas modalidades de comércio, como lojas colaborativas sobre as quais não se tem dados precisos, mas cujo crescimento é visível como alternativa para compartilhamento de espaços e de custos; e novidades como presença digital e vendas pela Internet, que fazem dos pregoeiros personagens do passado. Mas, além disso, a história dela ilustra o movimento de comércio da Praia Grande para eixos como Cohab/Anil/Forquilha.
“Vejo essa São Luís dos 413 anos como uma cidade rica em cultura, tradição e criatividade. Isso inspira muito quem empreende de forma criativa, como eu. Por outro lado, ainda enfrentamos muitos desafios para empreender aqui — desde a falta de incentivo até a valorização dos nossos produtos e trabalhos. Mas, acredito que, mesmo com as dificuldades, São Luís é um solo fértil: nossa história, nossas raízes e nossa gente são forças que nos motivam a resistir e a criar. É um lugar que pode e deve ser cada vez melhor para seus empreendedores”, diz ela, celebrando a data com a força do empreendedor da capital.
Números mostram a força dos pequenos negócios na capital
Dados apurados pelo Sebrae (agosto de 2025) mostram a face econômica da cidade aos 413 anos. Os pequenos negócios formais representam quase 95% do total, ocupando o lugar dos grandes comerciantes, e o setor de serviços substitui o comércio como força mais relevante.
São 112.145 empresas ativas. Nesse universo, os pequenos negócios somam 100.591. As microempresas são a maioria, com 42,8% do total, seguidas dos MEI’s, com 39,6%, e das empresas de pequeno porte, com 7,21%. O restante são médias e grandes empresas, empresas da administração pública e outras, em um total de 10,8%.
A distribuição por setor da economia aponta o setor de serviços como o mais destacado, com 53,6%; em seguida vem o comércio, com 33,6%; após, a indústria e construção civil, que, somadas, representam 12,4% e, por fim, a agropecuária, com 0,22% das empresas.
Na capital, ocupam os cinco primeiros lugares como segmentos e atividades com maior presença de pequenos negócios, o comércio varejista de artigos de vestuário a acessórios; serviços de cabeleireiros, manicure e pedicure; promoção de vendas, restaurantes e similares, além de lanchonetes, casas de chá, de sucos e similares, com expressivo crescimento nos últimos anos.
Os bairros com maior presença de pequenos negócios são o Renascença, Turu, Centro, Calhau, Cidade Operária, Cohama, São Cristóvão, São Francisco, Vinhais e Olho D’Água e importante concentração no eixo Itaqui-Bacanga, influenciado pela dinâmica do Complexo Portuário de São Luís.
Com relação ao perfil dos sócios, na capital, 54,6% são homens e 47,4%, mulheres. O setor de serviços tem predominância feminina, com 50,8% de mulheres à frente dos negócios. Relativamente à faixa etária, entre MEIs, em São Luís, predomina a idade de 39 anos; nas ME, de 44 anos, e nas EPPs, de 45, em média. Quando se fala entre jovens empreendedores, São Luís tem, entre os pequenos negócios, 65,6% sócios na faixa de 18 a 46 anos, sendo 55,6% homens e 44,4% de mulheres, segundo dados levantados pelo Sebrae.
“Toda essa pujança e a dinâmica de nossa capital servem como reforço ao nosso compromisso com os empreendedores locais, com ações cada vez mais efetivas para fortalecimento dos negócios, do empreendedorismo e do ambiente para o empreendedor, sendo parceiros do presente e do futuro de nossa São Luís”, reflete o superintendente do Sebrae, Albertino Leal. “Neste aniversário, nosso presente para São Luís é o apoio permanente a quem empreende e nossa parceria com o empreendedor, na luta por mais desenvolvimento na nossa cidade", complementa o presidente do CDE, Celso Gonçalo.
Empreendedores apostam no futuro e pedem ambiente mais favorável
Atuando no setor de serviços, Hugo Goulart, do Complexo Salvatore, cliente do Sebrae atendido com pesquisa de mercado, avalia as boas perspectivas para o futuro econômico de São Luís. Hugo é parte de uma geração com menos de 45 anos, que ganha espaços cada vez maiores na cena econômica da capital.
“Vejo perspectivas muito boas para a economia de São Luís. Temos potencial grande em diversos vetores, como o turismo em várias vertentes; uma dinâmica portuária ímpar e a economia de serviços. Além disso, temos também um povo aguerrido e empreendedor que vai conseguir aproveitar esse potencial, com certeza”, analisa ele.
“Como desafio, ainda precisamos facilitar a vida do empreendedor, com um ambiente de negócios mais favorável, com a gestão pública sendo mais ágil e cumprindo seu papel social. Com isso, conseguiremos estimular mais o empreendedorismo, que vai movimentar, por sua vez, toda a economia”, acrescentou ele.
Com o marido, Nilma Marinanto lidera a Soar Autopeças. Ela enfatiza questões ligadas à logística como desafios. “Nossa principal dificuldade vem da logística, pois as mercadorias chegam em Fortaleza-CE e precisam chegar ao Maranhão, elevando os custos e dificultando o envio para o interior do estado”, analisou. Para ela, a situação deve melhorar com a expansão do Porto do Itaqui, que permitirá a chegada direta de contêineres, melhorando o fluxo de abastecimento e a oferta de mercadorias. “Ao completar seus 413 anos, vemos que São Luís evoluiu e vem melhorando e isso é maravilhoso. Como empreendedora, que já precisou se refazer e reinventar, tenho esperança sempre. Queremos crescer, nos desenvolver e nada de desistir, porque a vida sem luta, é uma vida vazia”, complementa.
Claudia Martins, da Innovaeco, cliente de programas de aceleração de startups do Sebrae, atua em um campo com relevância crescente em São Luís - os negócios inovadores. “Vejo que essa crescente ocorre porque há espaços para que as ideias surjam, como ações do Sebrae de capacitação e investimentos e da Fapema, em pesquisa. Essa sinergia entre ecossistema e poder público tem ajudado, com um ambiente favorável onde é natural que as ideias surjam, os negócios se construam e consigam se desenvolver. Hoje, temos negócios que ganham mercado no Maranhão e fora do Brasil. Isso é bonito de ver aqui em São Luís. Atuando na área ambiental, queria ver São Luís mais sustentável, com uma economia circular funcionando. Um dia, espero ver São Luís como exemplo de economia circular”, reflete ela.
Oportunidades e Desafios
Para o economista e analista técnico do Sebrae, José Cursino Moreira, fortalecer os pequenos negócios e fazê-los vetores de desenvolvimento efetivo, inclui desafios parecidos com as demais cidades brasileiras. “O apoio e o tratamento diferenciado das políticas públicas para estes negócios ajudam a estimular um ambiente pró-empreendedorismo”, disse ele. Além disso, a aplicação da Lei Geral das MPEs; a inclusão das MPEs como fornecedoras de bens e serviços ao poder público; a simplificação de procedimentos e uma política tributária mais justa, ajudam a elevar a capacidade contributiva desses negócios no desenvolvimento local. E lembra, ainda, o aprimoramento da legislação urbanística, com relação ao zoneamento da cidade, e a implementação da Lei da Liberdade Econômica, que o Sebrae já vem trabalhando junto ao município.
Com relação às oportunidades, o economista avalia que São Luís agrega perspectivas interessantes no comércio e serviços em geral, em áreas como mercados, bares, restaurantes, nos serviços de educação, saúde, lazer, cultura, beleza, alimentos fora do lar, serviços de cuidadoria, higiene pessoal e tantos outros. “Cada uma delas, com especificidades”, explica ele. “Com seu patrimônio histórico, cultural e arquitetônico, a cidade oferece oportunidades na Economia Criativa, com o turismo, o artesanato, a culinária, as artes em geral, as ligadas à logística e ao Complexo Portuário, em uma ampla cadeia com potencial para gerar empregos e negócios, que serão tanto mais concretizadas à medida que se estimule o empreendedorismo”, completa.
O crescimento de São Luís passa pelo Sebrae-MA
Há 53 anos, o Sebrae contribui para o desenvolvimento socioeconômico de São Luís, apoiando os pequenos negócios e promovendo ações de incentivo à inovação e à formalização de empresas, fortalecendo setores estratégicos. Entre as principais iniciativas desenvolvidas pelo Sebrae na capital, estão:
Programa Cidade Empreendedora: executado em parceria com a Prefeitura de São Luís, o programa realiza diversas ações de fomento ao empreendedorismo e de melhoria do ambiente de negócios na capital. Desde que aderiu à iniciativa, em 2021, o município reduziu em 70% o tempo de abertura de empresas e realizou mais de 17 mil atendimentos nas Salas do Empreendedor, espaços que oferecem suporte à abertura e formalização de pequenos negócios. O Cidade Empreendedora também trouxe outro importante resultado: São Luís subiu da 71ª para a 27ª posição no ranking do Índice de Cidades Empreendedoras (ICE).
Mobiliza SLZ: celebrando a cultura, o turismo e a economia criativa de São Luís, o Mobiliza é um circuito de eventos e ações que reúne empreendedores, entidades empresariais, artistas e produtores de eventos da capital. O movimento já promoveu mais de 360 atividades, eventos e ações culturais e criativas ao longo de suas quatro edições, gerando renda e impactando mais de 20 mil ludovicenses.
Programa Turismo Futuro Brasil: a iniciativa estratégica do Sebrae tem contribuído para a consolidação de São Luís como um Destino Turístico Inteligente (DTI). Por meio de apoio técnico e consultorias especializadas, a capital maranhense tem alcançado melhorias notáveis em áreas como governança, sustentabilidade e inteligência turística. Além disso, o programa irá promover, em setembro, cursos sobre acessibilidade no turismo em São Luís, com o objetivo de garantir a inclusão de pessoas com deficiência no setor.
O Secretário Municipal de Turismo, Saulo Santos, destaca as ações realizadas pelo Sebrae, em parceria com a Prefeitura de São Luís, para fomentar o turismo na cidade. “Por meio do Mobiliza, serão realizadas atividades focadas em qualificação e roteirização, com o objetivo de preparar o trade turístico e mapear conceitos e territórios, garantindo atendimento de excelência. Por meio do programa Turismo Futuro Brasil, também serão implementadas ações de acessibilidade em São Luís, tornando a cidade pioneira nesse aspecto no Brasil”, acrescentou Saulo.
Ações no Agronegócio: o Sebrae atua diretamente no fortalecimento do agronegócio e do turismo rural em São Luís, através de soluções de capacitação, inovação e valorização da produção local. Entre as principais iniciativas estão o Plano de Agricultura Familiar, que orienta políticas de desenvolvimento sustentável, o Circuito de Agroturismo, o Dia de Campo da Piscicultura, que promove capacitação técnica e acesso ao crédito para pequenos produtores.
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