Eu e os decrépitos nos visitamos
constantemente nos bares que há nesta quatrocentona cidade de São Luís do
Maranhão. Quero-lhes bem, estimo-os como a meus filhos, tenho-lhes dó. Sofro
com seus achaques, suas tremedeiras matinais. Andamos esta cidade cotidianamente
e cuspimos-lhes os azulejos. Sejam portugueses ou não sejam. Troçamos de suas
altíssimas literaturas, suas canônicas obras literárias. E brindamos essa
Atenas -ora vejam- com muito espalhafato, com muitos gestos exacerbados,
parnasianos que ficamos. Depois... vem a tristeza do passar das horas, do
continuar da vida. Então,vazios como nossos copos, nos recolhemos uns dos
outros, mas permanecemos juntos. É-nos necessária tanta companhia. Meia hora
depois e estamos já rindo e festejando a passagem do torpor, como os ricos no
azul da Riviera, como os porcos cor de rosa no romance de Orwell ou os modelos
das campanhas vermelhas de Campari. Despidos, mergulhamos no líquido dourado de
nossos copos americanos e de lá só emergimos para uma ou outra pilhéria. Para o
espanto com uma ou outra cor deflagrada no bar. A decadência de que fazemos
parte nos alia como aos soldados do romance de Erich Maria Remarque. A espuma
na boca, a secura no lábio e o olhar embaçado nos enfeitam para a vida dos
sóbrios que há. Nesta quatocentona cidade de São Luís do Maranhão.
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