sexta-feira, 15 de março de 2013

Eu e os decrépitos



Eu e os decrépitos nos visitamos constantemente nos bares que há nesta quatrocentona cidade de São Luís do Maranhão. Quero-lhes bem, estimo-os como a meus filhos, tenho-lhes dó. Sofro com seus achaques, suas tremedeiras matinais. Andamos esta cidade cotidianamente e cuspimos-lhes os azulejos. Sejam portugueses ou não sejam. Troçamos de suas altíssimas literaturas, suas canônicas obras literárias. E brindamos essa Atenas -ora vejam- com muito espalhafato, com muitos gestos exacerbados, parnasianos que ficamos. Depois... vem a tristeza do passar das horas, do continuar da vida. Então,vazios como nossos copos, nos recolhemos uns dos outros, mas permanecemos juntos. É-nos necessária tanta companhia. Meia hora depois e estamos já rindo e festejando a passagem do torpor, como os ricos no azul da Riviera, como os porcos cor de rosa no romance de Orwell ou os modelos das campanhas vermelhas de Campari. Despidos, mergulhamos no líquido dourado de nossos copos americanos e de lá só emergimos para uma ou outra pilhéria. Para o espanto com uma ou outra cor deflagrada no bar. A decadência de que fazemos parte nos alia como aos soldados do romance de Erich Maria Remarque. A espuma na boca, a secura no lábio e o olhar embaçado nos enfeitam para a vida dos sóbrios que há. Nesta quatocentona cidade de São Luís do Maranhão.

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