segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Uma comunidade de paz

Para Natalino Sangado, abordagens sucessivas dos temas segurança, emprego e corrupção provam falência do Estado

O tema deste ano da Campanha da Fraternidade – Fraternidade e superação da violência – não poderia ser mais apropriado e oportuno. A tríade, emprego, segurança e corrupção é o tema que as pesquisas revelam como aquele que mais preocupa os brasileiros. O lema da Campanha é uma fala de Jesus no Evangelho de S. Mateus: “Mas vocês não devem ser chamados ‘rabis’; um só é o mestre de vocês, e todos vocês são irmãos.” (Mt. 23.8). A ênfase está na afirmação “todos vocês são irmãos”, o que sugere um tipo de igualdade, um alerta para que ninguém se sinta superior ao outro, menos ainda por meio da violência.

Nos últimos cinco ou seis anos estas temáticas: segurança, emprego e corrupção têm se revezado num triste pódio que escancara uma falência completa do Estado e numa situação de terrível adoecimento da sociedade, cujo principal sintoma é o medo. Este sentimento parece parte de nossos comportamentos mais básicos hoje em dia. Temos medo do outro, de certos lugares, de certas horas. Tememos pelos nossos filhos, marido, esposa, amigos. A sobrecarga é imensa e cobra seu preço em estados quase permanentes de estresse e doenças a ele associadas.

A superação ou enfrentamento da violência com um agir fraterno pede mudança de paradigma em nosso comportamento que, devido a tanta insegurança, tem produzido pessoas assustadiças, defensivas, amedrontadas e explica a razão de um aumento considerável da migração de brasileiros com um pouco mais de recursos para outros países.

A violência gera um estado de desamparo e impotência generalizado. Faz nascer um tipo de descrença no próprio país e gera um tipo patológico de dessensibilização com outras formas de violência cotidianas. Perigosamente nos arrasta para o pantanoso terreno da justiça com as próprias mãos e mesmo que não a façamos, aprovaremos quem o faz. É um retrocesso ao estado de barbárie de todos contra todos.

As questões envolvidas são múltiplas e complexas e explicam, inclusive, o impacto negativo no crescimento econômico, pois aumenta os custos dos empreendedores, afasta investimentos e impacta a própria imagem internacional do Brasil.

A violência, contudo, pode ser invisível ou sutil. O trânsito é o espaço ideal dessa catarse e não me refiro apenas àqueles que dirigem embriagados ou praticam rachas, mas em especial àqueles que usam o espaço comum como se fosse unicamente seu. Que desrespeitam regras mínimas de convivência e andam arrogantes e agressivos como se existissem sozinhos.

As palavras que dizemos uns aos outros não só no momento de raiva, mas quando depreciamos, são a arma com que diminuímos ou ignoramos o próximo. A violência também acontece com a omissão, talvez como reflexo de sua outra forma furiosa e armada.

A violência é múltipla em formas e variações e está no tecido da sociedade brasileira entranhada de tal forma, que pede urgente extirpação, sob pena de nos tornarmos uma comunidade em pleno estado de embrutecimento. Mas mantenhamos a esperança. Sejamos cada um de nós, instrumentos da paz. A recompensa é incomensurável. Como está escrito no Evangelho de São Mateus, “bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus”.

Nas exatas palavras do Papa Francisco, em mensagem enviada aos fiéis, no Brasil, “Uma paz que é fruto do desenvolvimento integral de todos, uma paz que nasce de uma nova relação também com todas as criaturas. A paz é tecida no dia-a-dia com paciência e misericórdia, no seio da família, na dinâmica da comunidade, nas relações de trabalho, na relação com a natureza. São pequenos gestos de respeito, de escuta, de diálogo, de silêncio, de afeto, de acolhida, de integração, que criam espaços onde se respira a fraternidade”.

Ao falar acerca do exercício diário da paz, o Santo Padre encarna as palavras do Apóstolo Paulo, em epístola aos efésios. Que o sol não se ponha sobre o vosso ressentimento, foi a advertência paulina. Roguemos a Deus por essa virtude.

*Professor Titular de Medicina da UFMA
Chefe do Serviço de Nefrologia do Hospital Universitário da UFMA
Coordenador da Pesquisa Clinica em Nefrologia do HUUFMA
Coordenador da Liga de Afecções Renais do HUUFMA

Full Professor, School of Medicine of the UFMA
Head of Urinary System, University Hospital – UFMA
Coordinator of Clinical Research in Nephrology – HUUFMA
Coordinator of League of Kidney Diseases – HUUFMA

 
 

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